Sobre minhas estranhezas. Leitura, para mim, sempre foi
sinônimo de liberdade. No ensino médio, enquanto muitos não liam
ou só liam os livros nacionais de literatura de sempre que empurram
em nossas gargantas, sempre me aventurei pelo que tinha vontade de
ler, independentemente de convenções.
Ainda hoje, vejo o quanto o
preconceito literário é uma prisão para muitos leitores e
escritores. Li clássicos nacionais, mas li e ainda leio os
internacionais que nem mesmo são citados em muitos colégios. Leio
livros de psicologia, espiritualidade, bruxaria, filosofia, ficção,
livros ilustrados, enfim, leio o que me der vontade – leituras que
sempre me fizeram sentir um estranho, pois não eram o que pessoas
próximas gostavam de ler (isso quando liam algum livro).
Os livros
sempre foram e sempre vão ser uma maneira de conhecer e investigar
outros universos. Criticar o que nunca se leu por mera necessidade de
aceitação, pertencimento ou preconceito, me parece algo tão
ultrapassado nos dias atuais diante de múltiplas possibilidades.
Ingenuidade é acreditar que existe uma verdade única, inclusive
quando se trata de literatura. Não pretendo nem entrar na velha e
chata discussão sobre literatura canônica ou a tentativa de
transformar a escrita em algo homogêneo ou como escritores
contemporâneos penaram até serem reconhecidos com a máxima “isso
não é literatura, é lixo para massa” – em algum lugar Edgar
Allan Poe, que morreu miserável, deve estar sorrindo pelo sucesso de
Stephen King e Neil Gaiman, após eles alcançarem seu lugar ao sol.
Trilhar sua jornada pode ser solitário, porém não é
necessariamente algo ruim. Ler só liberta se você se permite sair
da zona de conforto. Leia para se entreter, pesquisar, conhecer, se
informar, leia o que tiver vontade.
Leituras não são estáticas.
Quem lê determinado gênero e temática dificilmente vai ler só ele
a vida inteira – um das grandes mentiras que espalham por aí. O
preconceito se transforma com as gerações, mas não deixa de
existir: “Livros de fantasia são perda de tempo”, “Nem parece
que o livro foi escrito por autor brasileiro”, “Escritores
nacionais são um lixo”, “A Bíblia é o único livro que vale a
pena ser lido”, “Nunca li o livro do fulano, mas é uma merda”,
“Não quero ler um livro com personagens LGBTs”, “Escritores
nacionais precisam escrever histórias que se passem no Brasil”,
entre tantas outras, mas a minha favorita talvez seja aquela que
continua ecoando até hoje e muitas vezes, ironicamente, vêm da boca
de muitos escritores contemporâneos: “Autores contemporâneos são
uma merda”, enquanto pensa “O meu livro é o único que vale a
pena ser lido, do resto só autores clássicos”.
Egos e prisões.
Leia para se libertar, mesmo que seja da prisão que você criou para
si mesmo.
Lindo texto Ben. Uma das maiores vantagens da leitura é que ela torna as pessoas mais compreensivas. Pelo menos comigo foi assim. Você conhece tantos personagens por dentro que não há como ter certa empatia por eles, mesmo com seus erros. E na não ficção também. Comhecer um assunto a fundo é a maior arma contra o preconceito.
ResponderExcluirOi, Ronaldo! Gratidão pela visita.
ExcluirConcordo contigo. Acredito que quanto mais lemos, mais estamos dispostos a perceber que pouco sabemos... Ainda que tenhamos muitas leituras sobre determinado gênero ou assunto, sempre vai ter algo novo a descobrir.
Abraços