Em um ano marcado por tantas referências de nostalgia, é difícil não se lembrar do passado. Mas, às vezes, as respostas que buscava estavam no presente, naqueles que permaneceram mesmo com tanta intensidade, incoerência e riscos. Talvez em vez de focar nos ciclos que se encerraram, deveria se focar nos que permaneceram abertos. O tempo de lamentar fora mais do que o suficiente. Então, mesmo com excesso de compreensão, precisava se soltar de uma vez por todas: um exercício muito mais fácil na teoria do que na prática. Em um ano muita coisa poderia mudar. Pensara em como finalmente havia conseguido abandonar o cigarro, por exemplo, e se lembrava de que vícios não eram tão diferentes de relacionamentos que não estavam funcionando: mesmo quando sabemos que algo não está bem, às vezes, continuamos. Às vezes, escolhemos deixar para trás. Aceitamos a importância do novo e parar de encontrar conforto somente no conhecido. Às vezes, a beleza está em descobrir o novo, mesmo que a princípio ...
Há algumas semanas fui convidado pelo escritor Heller de Paula para participar da Semana do Escritor em seu site ChilliWiki. Nesta segunda-feira, 16 de outubro de 2017, foi publicado o meu conto Dissecação. Sou muito grato pelo convite!
“Dissecação de Ben Oliveira é um conto gay sobre as nuances de um relacionamento a partir da visão de um homem machucado que navega na sua introspecção”– Heller de Paula
Em breve deve ser publicada uma entrevista comigo lá. Assim que entrar no ar, devo compartilhar aqui com vocês! Tive a oportunidade de participar junto com o Heller de Paula do livro coletivo, Remetente N.15, uma obra de ficção no formato de cartas organizado pelos escritores Paulo Sérgio Moraes e Guilherme Oli. Foi uma experiência bem interessante conferir a pluralidade de vozes de diferentes autores e ver o projeto ganhando vida. Atualmente, a versão impressa do livro está esgotada, mas o eBook está disponível na Amazon.
Hoje mesmo tive um feedback muito bacana do conto lá no Facebook e decidi compartilhar aqui com vocês. O escritor Luciano Cilindro de Souza, autor do livro A Sesmaria Esquecida, deixou suas impressões sobre a leitura.
Dissecação é um conto que tem um toque autobiográfico e reflete um pouco sobre os relacionamentos, suas incompletudes e o desafio de aceitar que nem todo mundo está preparado para um relacionamento sério. Às vezes, as pessoas preferem se envolver com quem não as conhecem, pois é mais fácil se esconder atrás das máscaras – quanto mais intimidade, mais distanciamento. O texto brinca com essas linhas do medo do comprometimento e do ocultamento e mostra que, muitas vezes, o amor está no não-amor e é preciso fazer escolhas.
Leia o comentário do escritor Luciano Cilindro de Souza sobre o meu conto Dissecação:
“Um conto ótimo, o melhor que já li de você. Merece ganhar! O texto reflete bem essa "doença desconhecida" que assola os relacionamentos. Todos vivemos essa situação e não sabemos como lidar com ela: eu devo renunciar a minha individualidade para ampliá-lá a dois? E se não for correspondido? Como devo me comportar diante das qualidades e das imperfeições do parceiro eterno, ou seja, como me sairei diante da verdadeira saga do amor, que é estar com o outro apesar de não ser meu príncipe encantado? E a que dá mais medo: é ele? Vai encarar a minha real pessoa? Quais serão as regras do relacionamento? Teremos regras? Diante da inconstância de nossas emoções a pergunta mais difícil de responder é essa: estou amando esse cara? Diante de cada sim ou não, será preciso uma decisão. Mas cometemos o mesmo erro de sempre, ao ficar na indecisão. Eu acho que o prognóstico do protagonista do conto é precário. Já houve sinais demais de que não é amado. O hedonismo tomou conta de nossa geração, porque a natureza cindida do relacionamento entre minorias discriminadas, a não apreciação pública de seu relacionamento e, consequentemente sua irrelevância no que tange a ordem comunitária faz com que a liberdade de amar o outro, sem nada cobrar da relação, torne-se uma argamassa demasiadamente líquida, que não serve de liga a construção de um relacionamento duradouro. No conto não há, nitidamente, paredes de contenção que tridimensonalizem o namoro dos dois e eles ficam sem lar. O parceiro escorrega para a amplidão do hedonismo sem fim que os circunda, as paisagens são belas, mas não há o isolamento emocional e afetivo suficientes que lhes garanta o foco de um no outro”.