Relaxar era tão importante quanto ficar atento aos sinais de crise. Era um exercício diário. Muito mais fácil na teoria do que na prática. Um exercício de confiar que quem está ao redor saberá reconhecer no tempo certo a necessidade de ajuda. Então, por que mesmo sabendo disso, o corpo e a mente continuavam em alerta? Talvez pelo passado. Talvez por saber que o imprevisível poderia causar danos irreparáveis. Talvez pela dificuldade de aceitar que nem tudo pode ser controlado. Ia, então, se soltando um pouco a cada dia. Se distanciando de sua versão em alerta e voltando a se focar naquela que seria capaz de relaxar, sem deixar cada pequena mudança do dia incomodá-lo. Por mais que tentasse prever o futuro, a verdade era que algumas coisas não poderiam ser previstas. Era necessário confiar no aqui e agora, na noção de que conseguiria pedir ajuda se fosse preciso e que ficar o tempo inteiro esperando uma crise acontecer não ajudava ninguém. Era ao sair do modo de sobrevivência que se ...
Os livros salvaram sua vida, então, você quis retribuir. Eu deveria saber desde o início o que nos aguardava. Mãos que sangram suas sombras estão fadadas a se afastar da luz.
Eu queria acreditar no seu melhor, mesmo você repetindo tantas vezes: “Você não pode me salvar. Ninguém pode”. No fundo, eu sabia que nós dois não seríamos capazes de sair dessa lama.
Dentro de sua mente, você criou um sistema para reforçar suas crenças nos fantasmas do passado. O que é real ou imaginário? A história por si só é uma ficção. Quantas fábulas contamos para nós mesmos ao longo da vida? Aprendemos a encontrar conforto nas narrativas; fragmentos que nos dão energia para seguir em frente diante de tudo aquilo que nunca foi, é ou será.
As escolhas te levariam ao fracasso ou você morreria se não tentasse? Agora, tanto faz. Te observo com a lucidez escapando entre os dedos. A realidade pode ser tão esmagadora que tentamos nos reinventar. Você saboreia a própria loucura em uma xícara de café. Por um instante, é como se bebesse sangue; em desespero, busca a bebida que tapeia sua apatia.
A primeira crise de pânico você nunca esquece. Deitado no chão gelado, aquele sentimento duplo te invade: estou ficando louco e vou morrer. Qual das duas estradas te parece mais acertada? Entre lágrimas afogando o espírito e a garganta asfixiada, reza – ainda que não acredite em Deus –, para que o fim seja rápido.
Um filme passa na cabeça. O inferno é a repetição e o som da sirene é capaz de fazê-lo espremer os ouvidos. Preso na própria mente, sente-se paradoxalmente fora de si e ancorado em seu lago sombrio. Quem vai te salvar?
Você ri do próprio destino. Loucura seria ficar indiferente. Parte sua sempre soube que finais felizes não faziam parte do seu livro. Abre as mãos e é quando abandona a necessidade de controle que o espírito, o corpo e a mente se fundem de novo. Quando sua mente é um parque de diversões, a aventura está só começando.