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Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Livro revela anotações dos cadernos da Agatha Christie, rainha da literatura policial

Cadernos. Já parou para pensar quantos cadernos um escritor preenche ao longo da vida? Quantas dessas anotações ajudam a entender um pouco de seus processos de criação literária e quantos desses amontoados de papel tiveram como destino o lixo?


Para quem tem curiosidade em se aventurar pelos rabiscos da Rainha do Crime, o curador literário John Curran apresentou alguns trechos das anotações pessoais da escritora no livro Os Diários Secretos de Agatha Christie (Agatha Christie’s Secret Notebooks: fifty years of mysteries in the making). No Brasil a obra foi publicada pela Editora Leya, em 2010, com tradução de Thereza Christina Rocque da Motta.

O livro se tornou possível graças ao Mathew Prichard, neto da Agatha Christie, que deu para John Curran completo acesso aos cadernos da autora. Mais de 40 anos após a morte da escritora, os livros de Agatha Christie permanecem populares pelo mundo todo e a obra com seus rabiscos acaba servindo como uma forma dos leitores entrarem em contato com o modo de elaboração das histórias utilizado pela Rainha do Crime. Gostei muito da narrativa no prefácio. Me deu vontade de que o livro inteiro fosse um romance biográfico, mas o aspecto informativo da obra não deixa a desejar.

“Em fevereiro de 1955, no programa de rádio da BBC Close-up, Agatha Christie admitiu, quando lhe perguntaram sobre seu processo de escrita, que a “a triste verdade é que não tenho realmente um método”. Ela datilografava seus próprios rascunhos “numa máquina de escrever velha e fiel, que tenho há muitos anos”, mas achava que um gravador era muito útil para fazer os contos. “O verdadeiro trabalho está concluído depois que se pensa no desenvolvimento da história e se ajustam todos os detalhes. Isso pode tomar bastante tempo.” E esse é o ponto em que entram seus Cadernos, que não são mencionados na entrevista. Uma folheada nos cadernos nos mostra que foi ali que ela fez o que chamou de “pensar e ajustar” os detalhes das histórias” – John Curran, Os Diários Secretos de Agatha Christie

Escritora prolífica, com mais de 90 livros publicados, mais de 15 peças teatrais e mais de 150 contos, Agatha Christie reaproveitou e reinventou suas próprias ideias de livros anteriores. Uma de suas estratégias para elaborar as tramas era através de uma lista de ideias, características dos personagens e uma sequência alfabética de cenas, um processo que lembra bastante o cruzamento de fichas com eventos narrativos. Além de escrever sinopses para se guiar, ela utilizava o autoquestionamento como estratégia de brainstorm, procurando responder perguntas para entender melhor os personagens, suas relações na história e brincar com as expectativas dos leitores, já que um dos atrativos dos romances policiais da Agatha Christie era esse envolvimento do público para tentar desvendar os mistérios.

Se a intenção da escritora era ser reconhecida por sua literatura policial, ela certamente conseguiu. Embora os cadernos não ajudam a entender completamente o que levou a autora a fazer sucesso, eles mostram algumas ideias inéditas e contribuem para entender a mente criativa de Agatha Christie. John Curran ajuda a contextualizar e também faz uma curadoria da obra de Agatha Christie, relacionando as histórias de acordo com temáticas e elementos em comum, além de revelar quais contos tiveram partes de suas narrativas exploradas em romances policiais.

“Considerados como as anotações, rascunhos e esboços do maior conjunto de romances policiais já escritos (e, em muitos casos, jamais escritos), esses Cadernos são artefatos literários únicos e inestimáveis. Vistos como objetos, eles são menos impressionantes. Estão à minha frente enquanto escrevo estas palavras e, olhando de relance, parecem pilhas de cadernos de exercícios reunidos por um professor ao final da aula numa escola em qualquer parte do mundo. Porque a maioria deles é apenas isso – cadernos de exercícios” – John Curran, Os Diários Secretos de Agatha Christie

Existem tantas histórias da Agatha Christie que sem o trabalho de organização do John Curran ficaríamos perdidos diante das anotações da autora. Para quem deseja se aprofundar na pesquisa da obra de Agatha Christie, o livro está repleto de curiosidades. Não é mero acaso que a escritora vendeu bilhões de livros e foi traduzida para mais de cem países. Um ponto que me agradou bastante na leitura foi o de perceber que mesmo com o avançar da idade, Agatha Christie permaneceu produtiva, ainda que o envelhecimento, inevitavelmente, tenha influenciado no seu processo de pensamento e complexidade das tramas.


Além dos rabiscos, dos trechos da autobiografia da Agatha Christie e de algumas informações editoriais relevantes, o livro também traz dois contos inéditos da Agatha Christie com o detetive Hercule Poirot. A Captura de Cérbero e O Incidente da Bola de Cachorro. Das duas histórias, a que mais me chamou a atenção foi a de menção ao 12º trabalho de Hércules, na qual a autora saiu da sua zona de conforto quando se trata de questão política e faz menção a Adolf Hitler, criando um personagem verossimilhante ao ditador. Segundo o autor do livro, a proximidade com a Segunda Guerra Mundial fez com que a revista decidisse não publicar o conto por não ser considerada uma boa leitura de entretenimento.

“Quero ser lembrada como uma boa autora de histórias policiais”. Esse comentário modesto, depois de se tornar, ao longo da vida, uma escritora best-seller tanto de livros quanto de peças teatrais, é uma confirmação inconsciente de outro aspecto de Agatha Christie que surge em seus cadernos – sua falta de pretensão. Ela via essas anotações despretensiosas como um instrumento de trabalho com a mesma importância de um lápis, caneta-tinteiro ou esferográfica que pegava para escrever nos Cadernos. Usava os Cadernos como diários, pautas de rascunho, blocos de recados telefônicos, diários de viagem, livros de contabilidade doméstica; usava-os para rascunhar cartas, fazer listas de presentes de Natal e de aniversários, rabiscar lembretes a coisas a fazer, registrar livros lidos e por ler, traçar planos de viagem” – John Curran, Os Diários Secretos de Agatha Christie

John Curran não esconde o entusiasmo por Agatha Christie. O curador se deu ao trabalho de organizar os cadernos que não tinham uma ordem e de encontrar uma maneira de tornar o conteúdo agradável. Ao virar das páginas, podemos imaginar a escritora trabalhando em suas anotações, seja em seus cadernos ou ao passar o conteúdo para máquina de escrever, bem como fazendo as alterações e adequações necessárias. É como se a observássemos pela fechadura ou a seguíssemos, levando em conta que ela escrevia em diferentes lugares e em suas viagens e sempre estava com algum material para escrever. Os Diários Secretos de Agatha Christie desmistifica o processo criativo da autora e nos aproxima ainda mais dela, levantando mais curiosidades sobre sua biografia e de que forma ela influencia sua escrita.

Encontre os livros da Agatha Christie: http://amzn.to/2C6sFu9

Sobre o autor – John Curran é curador literário de Agatha Christie. Por muitos anos editou a newsletter oficial da autora e atuou como consultor do National Trust durante a restauração da Greenway House, a casa de Agatha Christie. Atualmente vive em Dublin.

Para mais informações e curiosidades sobre Agatha Christie, vale a pena conhecer o site: http://www.agathachristie.com/

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E você, gosta dos livros da Agatha Christie? Ficou curioso para ler seus cadernos?

*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad.

Comentários

  1. Olá, Ben. Esse livro li na época em que ainda não tinha um blog literário. Eu sou um fã apaixonado de Agatha Christie. Ela é minha escritora preferida e, ao lado de Clarice Lispector, a grande responsável pela minha paixão por livros. Foi lendo A Ratoeira, um livro em texto teatral, que me encantei pelas tramas de Agatha. Um grande abraço. Eudes.

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    Respostas
    1. Oi, Eudes!
      Muito bom te ver por aqui. Que bacana. Tem vários livros que li antes de ter um blog também, alguns até preciso reler. De Clarice Lispector, por exemplo, tenho vontade de reler Água Viva.
      Agatha é maravilhosa.
      Abraços e gratidão pela visita!

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