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Destaques

Às vezes...

Tudo o que nunca fomos. Tudo o que nunca seríamos. Tudo o que não éramos. Havia um espaço dentro de mim que não poderia ser preenchido por todas palavras que representávamos um para o outro. Ia, então, se soltando lentamente, de quem havia se soltado de forma brusca. Ia dando tempo ao tempo e espaço para as coisas voltarem ao eixo. Escrevia para lembrar, escrevia para esquecer. Esquecer o quê? Nunca tinham passado de dois personagens cujas histórias jamais se cruzariam. Sequer poderiam ser definidos como colegas ou amigos, tampouco eram amores. Eram quase alguma coisa e nesse mundo de indefinições, às vezes era melhor não saber. Perdeu a conta de quantos dias o outro havia ficado sem responder. Perdeu a conta de quanto tempo havia se passado. De quando limites foram cruzados e quando promessas foram quebradas. Escrevia para dizer que a dor também fazia parte do processo de se sentir vivo. Escrevia para nomear as emoções e encontrar clareza em um universo de indefinições. Escrevia para ...

Desalinhados

Desalinhados. Eram desse modo, como se vivessem em universos diferentes com seus próprios sistemas. Tudo parecia diferente nos dois, como se fosse impossível encontrar um lugar em comum. Era o tipo de desgaste que só aumentava com o passar dos dias, mesmo quando eles tentavam se esforçar para entenderem o universo um do outro. Era inútil continuar tentando.

Estavam em locais tão distantes que seus sinais não eram captados um pelo outro e a linguagem se esfarelava, deixando nuvens de ruídos por onde passava. Era como tentar sintonizar uma frequência e tudo o que restavam eram os barulhos capazes de enlouquecer.

Estariam algum dia em sintonia? A resposta que gritava era “não!”. Como seres de locais tão únicos poderiam conviver em paz, sem compreenderem o mínimo de um sobre o outro? Às vezes, bastava uma frase fora de lugar para causar um furacão de emoções. Às vezes, quando estavam em silêncio era quando mais se davam bem.

Aceitar que nada será como era o esperado é, muitas vezes, o que resta. Uma sensação dolorosa toma conta do corpo inteiro, eles percebem que criaram expectativas irreais um do outro e se preparam lentamente para uma despedida, tentando aproveitar cada pequeno momento, antes que tudo seja tomado pela escuridão completa.

A dor eventualmente vai diminuindo e a atmosfera é preenchida pelo silêncio. Um pé de cada vez, em uma espécie de coreografia, os corpos vão se distanciando e abrindo espaço para algo novo surgir. Na esperança de que desta vez não sejam seres de universos incompatíveis.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle..

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