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Destaques

Adolescence: Minissérie da Netflix sobre caso de crime na adolescência

Adolescence é uma minisssérie de quatro episódios que estreou na Netflix e ficou entre as mais assistidas. A série conta o caso de um adolescente de 13 anos responsável pelo assassinato de outra adolescente que estudava no mesmo colégio do que ele. Mesmo com tão poucos episódios, a minissérie consegue causar impacto. A maioria das pessoas está acostumado a assistir séries, filmes e documentários de crimes, mas nem sempre quando se trata de um caso tão peculiar envolvendo adolescentes. Logo no primeiro episódio dá para acompanhar o sofrimento da família na delegacia. Já o segundo episódio se foca no colégio. O terceiro em uma das avaliações de psicóloga. E o último na família lidando com os impactos da prisão do filho. Para a minissérie ficar completa, só mesmo se tivesse incluído um episódio do julgamento, o que deu a entender que o desfecho era realmente aquele e o personagem adolescente foi o responsável pelo crime. As cenas com a psicóloga foram as que mais chamaram a minha atençã...

Resenha: O Sol Ainda Brilha – Anthony Ray Hinton

Liberdade é uma palavra duvidosa, mas talvez faça mais sentido quando somos mais privados dela ainda. No livro O Sol Ainda Brilha (The Sun Does Shine), escrito por Anthony Ray Hinton com Lara Love Hardin, o leitor é apresentado à história trágica de um homem que passou 30 anos no corredor da morte por assassinatos que não cometeu. A obra foi publicada no Brasil pela Editora Vestígio, em 2019, com tradução de Luis Reyes Gil.


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Quem poderá dizer que é realmente livre? Ou que acredita que a justiça sempre acerta? O Sol Ainda Brilha pode servir como um conto caucionário sobre o sistema judiciário, especialmente em regiões com penas mais severas. O autor nos faz refletir sobre a existência de outras pessoas inocentes que também foram mandadas para o corredor da morte.

“Os sons à noite davam a impressão de se estar no meio de um filme de horror – criaturas rastejando, homens gemendo, gritando ou chorando. Todo mundo chorava à noite. Uma pessoa parava, e então outra começava. Era a única hora em que você podia chorar anonimamente. Eu bloqueava o som. Não me importava com as lágrimas de ninguém ou com seus gritos. Às vezes ouviam-se risadas – risadas maníacas –, e isso era o mais assustador. Não havia risadas de verdade no corredor da morte” – O Sol Ainda Brilha, Anthony Ray Hinton

Narrado em primeira pessoa por Anthony Ray Hinton, o livro traz as memórias de esperança e desespero de um homem, desde os dias de visitas e julgamento, até o lento e controverso desenrolar do caso e os momentos trancados no minúsculo cubículo, descrevendo os momentos de solidão, de devaneios e de autopreservação.

À medida que o leitor vivencia os dias de isolamento e revive o passado de Anthony, também se dá conta de que todos ali têm uma história para contar e que a atmosfera e as ações do lugar não afetam só os prisioneiros, mas todos envolvidos de alguma forma com os processos formais e informais. Imagine o impacto emocional de colocar um fim na vida de outro ser humano?

“Nós berramos até que as luzes pararam de piscar e o gerador que alimentava a cadeira elétrica foi desligado. Bati nas barras até que o cheiro da morte de Michael Lindsey chegou a mim, e então fui para a cama, puxei o cobertor por cima da cabeça e chorei. chorei por um homem que teve que morrer sozinho, e chorei por quem quer que fosse o próximo a morrer. Eu não queria ver mais mortes. Não queria olhar para os guardas no dia seguinte e ficar imaginando qual deles havia feito o que na execução de Michael quando viessem me trazer a comida. Não queria viver perto da câmara da morte, mas não tinha para onde ir” – O Sol Ainda Brilha, Anthony Ray Hinton

Preso em 1985, no estado do Alabama, nos Estados Unidos, os relatos são contados desde 1986 até 2015. Como fica o estado psicológico de um ser humano que passou 30 anos no corredor da morte, sem saber quando chegaria a sua vez de ser executado? Para sobreviver, Anthony se perde em seus próprios pensamentos e usa a imaginação para entreter os outros e passear pelo mundo, relembrando os pequenos prazeres da vida, conhecendo celebridades e se redescobrindo.

Duas coisas me marcaram bastante na leitura: como Anthony usou os livros para manter seu lado humano vivo, buscando uma válvula de escape, uma forma de interagir, explorar a empatia e discutir questões sociais, e como ele cumpriu sua promessa de levar a mensagem adiante – ao publicar o livro, ele não só contou sua própria história, como de outros possíveis inocentes na mesma situação, como havia dito que faria.

“Cada um passava o tempo a seu modo. Um cara podia ficar só desenhando espirais num pedaço de papel – o dia inteiro, dia após dia; Espirais dentro de espirais dentro de espirais, de modo que você nunca sabia onde começavam ou terminavam. Era assim. Alguns caras simplesmente passavam o tempo entre uma refeição e outra tentando não enlouquecer – cantarolando, balançando-se ou gemendo de um jeito que quase parecia um canto” – O Sol Ainda Brilha, Anthony Ray Hinton

Ao final do livro, o autor deixa uma lista de nomes de pessoas que estavam no corredor da morte e sugere que o leitor não só faça uma oração por cada um deles, como que reflita sobre as estatísticas de erros de julgamento e de como o sistema falho tem viés, como a forte influência do racismo.

Sobre o autor – Anthony Ray Hinton passou três décadas no corredor da morte injustamente. Libertado em abril de 2015, hoje advoga a favor das reformas penitenciárias e fala sobre o poder da fé e do perdão. O Sol Ainda Brilha, seu primeiro livro, foi escolhido por Oprah Winfrey para seu clube do livro no verão de 2018.

*Ben Oliveira é escritor, blogueiro, jornalista por formação e Asperger. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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