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Destaques

Às vezes...

Tudo o que nunca fomos. Tudo o que nunca seríamos. Tudo o que não éramos. Havia um espaço dentro de mim que não poderia ser preenchido por todas palavras que representávamos um para o outro. Ia, então, se soltando lentamente, de quem havia se soltado de forma brusca. Ia dando tempo ao tempo e espaço para as coisas voltarem ao eixo. Escrevia para lembrar, escrevia para esquecer. Esquecer o quê? Nunca tinham passado de dois personagens cujas histórias jamais se cruzariam. Sequer poderiam ser definidos como colegas ou amigos, tampouco eram amores. Eram quase alguma coisa e nesse mundo de indefinições, às vezes era melhor não saber. Perdeu a conta de quantos dias o outro havia ficado sem responder. Perdeu a conta de quanto tempo havia se passado. De quando limites foram cruzados e quando promessas foram quebradas. Escrevia para dizer que a dor também fazia parte do processo de se sentir vivo. Escrevia para nomear as emoções e encontrar clareza em um universo de indefinições. Escrevia para ...

No Ninho de Serpentes | Ben Oliveira

Dentro de um ninho de cobras e lagartos, você precisa saber se camuflar. Sobrevivência é o primeiro passo. Depois, vêm os planos após a liberdade.


Não deixar se infectar ou intoxicar pelo ambiente de uma clínica de Narcóticos Anônimos não é nada fácil, mas não é impossível.

Coloque uma máscara, vista três peles grossas, esconda suas lágrimas. Chore no banheiro, lave o rosto e engula a tristeza. Beba a afeição e a gratidão de poucos. Você fará poucos amigos e terá muitos colegas peçonhentos.

Como os santos faziam, às vezes, é preciso saber pisar na cabeça da cobra, antes que ela te pique. Arranque a cauda do escorpião, jogue em um vidro cheio de álcool e beba. É melhor morrer envenenando assim do que deixar seu espírito apodrecer e o coração congelar.

Neste mundo invertido, boas ações são vistas com arrogância: doar alimentos, cigarros ou roupas é proibido. É preciso vigiar a própria mente para não adoecer.

Como diria Jessica Jones, é preciso um monstro para derrotar outro.

Mesmo com centenas de motivos, consegui manter a paz e não perder meu equilíbrio.

Fui julgado de mil maneiras. Disseram que quis transar com todos; que deixava meu quarto bagunçado, mesmo sendo bem organizado; que beijei Fulano, que sou apaixonado por Ciclano.

Cada dia que passa, cada mentira que surgia.

A maior ofensa de todas é chamar um autista de mentiroso.. Pior que isso, ter meus comportamentos autísticos chamados de bobos, irritantes, repetitivos, como se ao entrar em uma clínica, o meu autismo fosse sumir.

"Você fala demais". "Você repete as mesmas coisas". "Você é arrogante, prepotente, insuportável".

Há coisas que aprendi a ouvir e a sorrir. Discutir com seres intelectualmente inferiores e espiritualmente afundados não é e nunca foi meu objetivo. Há anos deixei isso para trás.

Cada um oferece ao outro o que tem para oferecer.

Para cada queda, me levantei onze vezes. Aquele que nada teme e nada tem, nada pode perder. Nada nunca foi realmente meu.

Raspei a cabeça e as sobrancelhas. Deixei meu Eu-Passado para trás. Ergui a cabeça, acendi o cigarro, engoli a fumaça e deixei toda a dor, a tristeza e a decepção saírem de mim.

A solidão sempre foi minha melhor amiga. A liberdade sempre foi meu destino. Abro as asas, grito, choro e como fênix, me explodo e volto a ser que sempre fui. 

Sobre o autor – Ben Oliveira foi diagnosticado autista (Síndrome de Asperger) aos 29 anos, é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.



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