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Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Privilégio Branco é tema de documentário da comediante norte-americana Chelsea Handler

Nos últimos anos, seja a nível nacional ou internacional, cada vez mais tem se discutido questões como diversidade e a luta contra o racismo. Com foco no privilégio branco, a atriz, escritora e comediante norte-americana Chelsea Handler abordou o assunto no documentário Alô, Privilégio? É a Chelsea (Hello, Privilege. It's Me, Chelsea), lançado em 2019 na Netflix, produzido pela Condé Nast Entertainment e direção de Alex Stapleton.

Longe de ser um documentário denso sobre o assunto, enquanto examina sua própria história de vida e entrevista outras pessoas que acreditam ou não no privilégio branco, Chelsea Handler dá uma pincelada sobre as diferenças de tratamentos que brancos e negros recebem nos Estados Unidos. A própria comediante admite que se não fosse branca sua carreira talvez não tivesse feito tanto sucesso.

Para muitas pessoas presas em suas bolhas sociais, o privilégio branco não existe e é invenção, mesmo quando os fatos e as estatísticas mostram o contrário. O documentário fala sobre as diferenças quando se trata do tempo das penas no sistema prisional norte-americano e a violência e as mortes de negros por policiais americanos quando se compara com brancos na mesma situação, além das diferenças econômicas, especialmente quando se tratam de gerações anteriores.

Por meio do documentário, Chelsea Handler serve como plataforma para outras vozes abordarem o assunto e chama a atenção tanto para si mesma, como para a sociedade como um todo, sobre a importância de diferentes grupos sociais discutirem a questão do privilégio branco e racismo, não só o movimento negro: além de ser algo exaustivo bater na mesma tecla, também é importante que a mensagem circule e mudanças sociais aconteçam.

Embora seja focado no contexto dos Estados Unidos, algumas situações não são tão diferentes de outros países, como no próprio Brasil, especialmente quando se trata de diferenças de oportunidades do mercado de trabalho, diferença de abordagem e violência policial contra negros e como minorias podem ter penas maiores do que aqueles que têm melhores oportunidades financeiras e privilégios sociais.

O assunto é importante, mas retratado de forma superficial. O documentário Alô, Privilégio? É a Chelsea (Hello, Privilege. It's Me, Chelsea) mostra como brancos podem reconhecer seus próprios privilégios, mas acaba servindo como uma ótima autocrítica. 

A produção recebeu vários comentários negativos em sites como o IMDB, seja por apertar a ferida da sociedade estadunidense (especialmente daqueles que negam a existência do privilégio branco e racismo estrutural) ou por sua história de vida ser bem contraditória quando se trata do assunto.

Alô, Privilégio? É a Chelsea (Hello, Privilege. It's Me, Chelsea) é um documentário que serve para provocar e questionar, mas precisaria ir mais a fundo para realmente informar e conscientizar. A menos que você viva numa bolha social a ponto de negar a realidade, muito do que foi dito não é novidade e basta bater o olho nas notícias.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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