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Destaques

Ressignificar dia após dia

A linha era tênue entre a verdade e a autoficção, mas a literatura era um espaço para criar e não tinha compromisso com a realidade. Como tinta invisível, personagens às vezes se misturam e podem confundir. Um personagem pode ser vários e a graça não está em descobrir quem é quem, mas de aproveitar a leitura. Escrever em blog poderia não ser a mesma coisa do que escrever um livro de ficção ou de memórias, mas a verdade era que acabava servindo para as duas coisas. Às vezes o passado estava no passado. Às vezes o presente apontava para o futuro. Mas nunca dá para saber sobre quem se está escrevendo e há beleza nisso. A beleza de que personagens não eram pessoas, de que não precisava contar a verdade sempre, que às vezes quatro personagens poderiam se tornar um. Saber quem é quem parecia o menos importante, mas apreciar a beleza das entrelinhas. Ia escrevendo como uma forma de esvaziar a mente e o coração, sentindo o corpo mais leve. Escrevia e continuaria escrevendo sempre que sentisse ...

Privilégio Branco é tema de documentário da comediante norte-americana Chelsea Handler

Nos últimos anos, seja a nível nacional ou internacional, cada vez mais tem se discutido questões como diversidade e a luta contra o racismo. Com foco no privilégio branco, a atriz, escritora e comediante norte-americana Chelsea Handler abordou o assunto no documentário Alô, Privilégio? É a Chelsea (Hello, Privilege. It's Me, Chelsea), lançado em 2019 na Netflix, produzido pela Condé Nast Entertainment e direção de Alex Stapleton.

Longe de ser um documentário denso sobre o assunto, enquanto examina sua própria história de vida e entrevista outras pessoas que acreditam ou não no privilégio branco, Chelsea Handler dá uma pincelada sobre as diferenças de tratamentos que brancos e negros recebem nos Estados Unidos. A própria comediante admite que se não fosse branca sua carreira talvez não tivesse feito tanto sucesso.

Para muitas pessoas presas em suas bolhas sociais, o privilégio branco não existe e é invenção, mesmo quando os fatos e as estatísticas mostram o contrário. O documentário fala sobre as diferenças quando se trata do tempo das penas no sistema prisional norte-americano e a violência e as mortes de negros por policiais americanos quando se compara com brancos na mesma situação, além das diferenças econômicas, especialmente quando se tratam de gerações anteriores.

Por meio do documentário, Chelsea Handler serve como plataforma para outras vozes abordarem o assunto e chama a atenção tanto para si mesma, como para a sociedade como um todo, sobre a importância de diferentes grupos sociais discutirem a questão do privilégio branco e racismo, não só o movimento negro: além de ser algo exaustivo bater na mesma tecla, também é importante que a mensagem circule e mudanças sociais aconteçam.

Embora seja focado no contexto dos Estados Unidos, algumas situações não são tão diferentes de outros países, como no próprio Brasil, especialmente quando se trata de diferenças de oportunidades do mercado de trabalho, diferença de abordagem e violência policial contra negros e como minorias podem ter penas maiores do que aqueles que têm melhores oportunidades financeiras e privilégios sociais.

O assunto é importante, mas retratado de forma superficial. O documentário Alô, Privilégio? É a Chelsea (Hello, Privilege. It's Me, Chelsea) mostra como brancos podem reconhecer seus próprios privilégios, mas acaba servindo como uma ótima autocrítica. 

A produção recebeu vários comentários negativos em sites como o IMDB, seja por apertar a ferida da sociedade estadunidense (especialmente daqueles que negam a existência do privilégio branco e racismo estrutural) ou por sua história de vida ser bem contraditória quando se trata do assunto.

Alô, Privilégio? É a Chelsea (Hello, Privilege. It's Me, Chelsea) é um documentário que serve para provocar e questionar, mas precisaria ir mais a fundo para realmente informar e conscientizar. A menos que você viva numa bolha social a ponto de negar a realidade, muito do que foi dito não é novidade e basta bater o olho nas notícias.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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