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Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Ghost Lab: Filme tailandês da Netflix mistura thriller, terror sobrenatural e investigação paranormal

O filme tailandês Ghost Lab foi um dos lançamentos de maio de 2021 na Netflix. Confesso que não sou muito fã dos filmes de terror originais da plataforma de streaming, mas tive uma experiência surpreendente com essa produção que explora os gêneros e temáticas que se conectam, fazendo o telespectador sentir as emoções de um thriller, a curiosidade da investigação paranormal e o gostinho de desconexão com a realidade proporcionado pelo terror sobrenatural. 

Com direção de Paween Purijitpanya, Ghost Lab contou com três roteiristas Vasudhorn Piyaromna, Paween Purijitpanya e Tossaphon Riantong e foi produzido pelo estúdio de filmagem GDH 559. Além do roteiro que mescla diferentes gêneros, o filme tailandês mata a fome de quem sente falta do cinema de horror asiático, mas também gosta de uma pegada mais comercial do cinema ocidental – não exploraram muito as crenças regionais, infelizmente. 

Após um incidente paranormal no hospital em que trabalham, dois médicos se juntam em uma proposta ousada de comprovar por meio da ciência a existência de fantasmas. O enredo vai além de muitas obras do gênero, mostrando como a mistura de crenças, obsessões e desequilíbrio emocional é capaz de levar o ser humano para um caminho sombrio, à beira do rompimento com o mundo real.

O ator Paris Intarakomalyasut interpretou Gla, um médico com um projeto secreto e ambicioso. Em um canto do hospital, Gla está cheio de certezas, mas não sabe como fazê-las se concretizarem. Embora o roteiro não explore a diferença de terminologias, como paranormal e sobrenatural – ou fantasmas, espíritos, poltergeists e demônios –, sua necessidade de provar que deve existir uma forma de registrar atividades paranormais, o faz tomar escolhas chocantes.

A princípio, Ghost Lab parece que vai ser só mais uma história daqueles que já foram contadas e recontadas várias vezes em filmes de terror, mas o roteiro traz uma implosão e explosão paralelas, conforme avança no desenvolvimento do personagem principal. A atuação de Thanapob Leeratanakachorn, como o médico Wee, por meio das expressões faciais e corporais, me lembrou a mistura de paranoia e degradação do espírito presente nas narrativas de Edgar Allan Poe.

A namorada de Gla, Mai é interpretada pela atriz Nuttanicha Dungwattanawanich. Embora tenha menos tempo na tela, em alguns momentos do filme, ela serve, literalmente, como uma catalisadora de eventos. Sua participação dá um toque dramático ao filme, bem como revela o lado obscuro de quem fica tão desesperado para cultivar suas crenças que cruza várias linhas perigosas, éticas e imorais. 

Terminei de assistir ao filme com um gostinho de quero mais, mas observando o IMDB, vi que muitas críticas não foram tão positivas: o que não é tão incomum quando se tratam de filmes de terror. Sou daqueles que defendem que o telespectador deve assistir e tirar suas próprias conclusões, já que o inverso também acontece, quando vemos exagerados rasgados pelas redes sociais e ao assistir, nos damos conta de que não era tudo aquilo. 

Parece improvável que Ghost Lab tenha uma sequência, porém possibilidades narrativas do universo fictício não faltariam. A união entre pesquisa científica e fenômenos paranormais é algo que desperta a atenção do ser humano há anos, fazendo comportamentos estranhos se manifestarem e, em alguns casos, levando para uma jornada de autodestruição. 

Ghost Lab é uma boa opção na Netflix para fuga do mundo real nesses dias de pandemia. De quebra, te faz sentir saudade de assistir outros filmes de terror.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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