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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Murder By The Coast: Documentário espanhol da Netflix sobre casos de jovens assassinadas traz dilemas éticos

Murder By The Coast (Homicídio na Costa do Sol/El caso Wanninkhof - Carabantes) é um ótimo documentário de crimes para quem deseja entender os impactos do julgamento antecipado pela imprensa sobre casos mal investigados, influenciando a opinião pública, quando só existem indícios, mas nenhuma prova. Lançado pela Netflix em 2021, o filme espanhol foi dirigido por Tània Balló e roteirizado por Gonzalo Berger.

Em mais de 20 anos, muita coisa mudou no mundo. Mas há outras que ainda servem como ótimo exemplo de erros e acertos, especialmente no que diz respeito aos casos criminais, opiniões públicas, preconceitos e faltas de evidências. O documentário traz o caso da adolescente Rocío Wanninkhof que foi assassinada em 1999 e na ansiedade para encontrar um culpado, diante da falta de informações concretas, tudo toma um rumo que se fossem contar, poderiam jurar que se trata de um enredo de ficção.

Os depoimentos de profissionais envolvidos ou que estudaram o caso só enriquecem o documentário, não deixando se tornar sensacionalista – que, aliás, é uma das críticas que fizeram a história virar uma bola de neve. Misture pressão midiática, circunstâncias duvidosas, análise psicológica repleta de discriminação e tentativa de acelerar as investigações e o resultado pode ser catastrófico.

Não dá para falar muito sobre o desenrolar do caso, sem soltar spoilers. Porém, dá para traçar paralelo com os dias atuais: se no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, a imprensa televisiva tinha muito apelo do público, na nossa realidade, as mídias sociais acabaram roubando os holofotes e, sem dúvidas, o tribunal midiático que antes já era capaz de provocar danos humanitários, agora está espalhado por diferentes espaços virtuais. Assim como muitos jornalistas se guiavam pela pressão do tempo, atualmente, o intervalo de tempo entre as informações divulgadas e a reação do público é praticamente instantânea, podendo atrapalhar ainda mais os julgamentos de casos.

Por outro lado, a polícia tem mais tecnologia e recursos investigativos e com as mesmas ferramentas midiáticas que são capazes de despertar o pânico e emoções de revolta contra supostos culpados, há mais facilidade de cruzamento de dados e de contar com o apoio da população para encontrar outras possíveis vítimas e os suspeitos dos crimes.

O documentário levanta tantas questões possíveis de discutir, como a facilidade que a mídia tem de condenar, mas em muitos casos nem mesmo se desculpa quando erra e mesmo que o faça, não apaga os danos causados – o mesmo nos envolvidos do julgamento. Murder By The Coast chega a ser um conto caucionário sobre como a dor de perder alguém pode ser tão forte que leva a viés inconsciente de culpar o outro e abafar a voz da razão.

Foi somente com um segundo caso de jovem desaparecida, desta vez, em outra cidade não tão distante, que conseguiram encontrar mais informações e descobrir tanto que havia um padrão nos assassinatos, como fazer o cruzamento de DNA. O caso também teve bastante cobertura midiática, mas desta vez tomou um rumo positivo, pois possibilitou descobrir mais sobre o passado e mostrou a complexidade por trás da impunidade e falta de troca de informações assertivas entre diferentes localidades.

Como é possível que alguém com álibi tenha sido presa e condenada quando o verdadeiro culpado permaneceu livre? Como um alguém com antecedentes criminais se muda de país, recomeça sem ninguém saber sua história e repete os seus atos perversos, sem que ninguém desconfie?

Um depoimento de uma testemunha que poderia dar em nada mudou o rumo das investigações e possibilitou que a verdade fosse encontrada e justiça fosse servida. Porém, por mais que um dos desfechos tenha sido gratificante para a sociedade e trazido alívio à população desta região da Espanha, já que muitos pais estavam preocupados com suas filhas e as próprias jovens, o outro desfecho não teve um final tão feliz assim e as consequências repercutiram mesmo após o esclarecimento dos fatos. 

Se você gosta de documentários de crimes, Murder By The Coast não decepciona. Os produtores fizeram um ótimo trabalho de seleção de trechos dos vídeos dos casos e com entrevistas, dando um toque emocional às tragédias e a tão esperada catarse pelos encerramentos. Serve como uma ótima aula sobre ética de jornalismo, psicologia e direito, discussões sobre casos internacionais e pautas sociais e deixa o lembrete de como o sistema é falho.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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