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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Tiranos: Série documental da Netflix mostra as táticas adotadas por políticos autoritários

Se cada período histórico e país tem suas particularidades, há características em comum nos comportamentos de políticos autoritários de diferentes partes do mundo. Na série documental Como Se Tornar Um Tirano (How to Become a Tyrant), de 2021, lançada na Netflix, o telespectador é apresentado a uma série de elementos que muitos se utilizam para manifestar a tirania em suas lideranças e acaba servindo como um direcionamento de quais pontos considerar diante de ameaças à democracia.

Produzida por várias pessoas, entre elas, o produtor-executivo e narrador Peter Dinklage, a série documental traz depoimentos de vários profissionais e professores de áreas relacionadas à política e à história. Embora do ponto de vista de curiosidade, Como Se Tornar Um Tirano é instigante, por ser um assunto complexo e o tempo limitado, o conteúdo acaba ficando superficial e servindo como um pontapé para quem quiser se aprofundar no assunto, não como um fim.

Com um formato dinâmico e linguagem sarcástica, a série compartilha com o telespectador uma espécie de manual de tiranos, quase como uma paródia de um livro de autoajuda para ditadores. Por meio das características psicológicas e políticas de muitos dos citados, dá para perceber como alguns presidentes se utilizam de alguns traços autoritários para conquistar seus objetivos, ainda que não tenham a mesma força nem popularidade para fazer a população apoiar o desmantelamento das instituições democráticas.

Pessoas de diferentes partes do mundo se perguntam como determinados líderes chegaram ao poder e tiveram apoio da população. Um dos exemplos citados na série documental e talvez um dos mais lembrados pela sua tirania é Adolf Hitler. Com a análise do que aconteceu na Alemanha e também de outros tiranos, a série documental e os exemplos contemporâneos revelam que mesmo quando em um nível racional muitos políticos fazem promessas impossíveis e cometem atrocidades, tudo acontece em determinado ritmo e com tantos mecanismos, que muitos só descobrem o perigo que apoiaram quando veem a si mesmos, seus familiares e amigos, opositores políticos e até mesmo pessoas que eram próximas do líder tirano sendo ameaçadas, censuradas, violentadas e, por fim, assassinadas.

Muitos dos tiranos nascem em cenários de crises políticas e econômicas, que acabam levando às crises humanitárias. O medo e o desespero são cíclicos nos regimes autoritários, políticos com traços de narcisismo perverso se aproveitam da fragilidade para se venderem como salvador, mas se utilizam de várias estratégias para comprar apoio e, em alguns casos, até consegue trazer algumas melhorias em questões econômicas, mas que não duram muito e mesmo os apoiadores podem se transformar em opositores por vontade própria ou serem considerados traidores como uma forma de demonstração de poder e de causar pânico em quem pensar em virar as costas para o autoritário.

Embora cada um dos tiranos retratados na série documental tenha vivido seus ciclos e causado sofrimento e miséria para milhões de pessoas, entre inúmeras violações de direitos humanos, tentativas de bloquear a liberdade de expressão, manipulação midiática para contar somente uma narrativa positiva e ataques à imprensa independente e internacional, muitas vezes, é só questão de tempo para que a população que estava hipnotizada pelos jogos políticos acorde desse transe, se rebele e/ou denuncie aos órgãos internacionais a realidade manipulada para a qual foi submetida.

A idolatria e cegueira políticas já causaram danos inimagináveis à humanidade e, infelizmente, até os dias atuais permanecem vivas em algumas regiões e tentam ser emuladas por políticos, que só não obtêm os mesmos resultados por causa das estruturas democráticas, trabalho da imprensa e redes internacionais. Ainda que alguns governos tentem controlar diferentes instituições e criar uma realidade alternativa onde são aprovados pela população, milhões de pessoas usam as mídias sociais e vão às ruas para mostrar que a situação é exatamente a contrária das narrativas governamentais.

Uma das partes mais curiosas da série documental mostra como autoritários não têm nenhum compromisso nem com as pessoas mais próximas, então, por que muitos esperam que eles teriam com pessoas aleatórias? Com características narcisistas e traços de psicopatia, familiares, amigos, colegas e aliados são usados como símbolos para causar terrorismo psicológico: se qualquer um pode ser eliminado, independente de ter ajudado a colocá-lo no poder ou do grau de proximidade, qualquer cidadão que tentar se rebelar contra o sistema pode se tornar o próximo alvo.

Por meio da compra de apoio e da corrupção, tiranos se mantêm durante anos no poder. Mais preocupante ainda é saber que eles se utilizam de pessoas ingênuas e facilmente manipuláveis para fazerem propaganda gratuita – isso também fica evidente nos tempos atuais, como por meio de estratégias de doutrinação e manipulação, parte enxerga uma realidade que a outra é incapaz de ver, criando uma polarização, na qual o lado opositor quase sempre é visto como um perigo ao governo, ainda que o seu líder esteja destruindo a democracia.

Ao tentar implementar governos autoritários, a população paga um preço alto em todas esferas, além de atrapalhar o comércio internacional, visto que muitos países desprezam líderes antidemocráticos e seus próprios representantes, organizações e jornalistas internacionais acabam se tornando vítimas de abusos de poder.

Com a fome escondida dos olhos internacionais, embora especulada pelas milhares de mortes e violações de direitos humanos conforme os interesses de seus líderes, muitos tentam minimizar os impactos passando uma mensagem de que se algo foi denunciado, não passa de fake news: por isso, muitos desses regimes só liberam os jornais que sabem que não reportaram nada contra seus governos e fazem o possível para barrar vazamento de informações para jornais internacionais. 

Embora tenha uma linguagem repleta de ironias, a série documental Como Se Tornar Um Tirano serve como um lembrete da fragilidade das democracias diante de armadilhas invisíveis para a população e de como por trás das falsas promessas se escondem mais uma obsessão pelo poder de políticos que gostariam de ser vistos como deuses e personalidades, e desinteresse pelas dificuldades reais enfrentadas pelo povo.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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