Pular para o conteúdo principal

Destaques

Para onde vão todas coisas que não dissemos?

Para onde vão todas coisas que não dissemos? Essa é uma pergunta que muitas pessoas se fazem. Algumas ficam presas dentro de nós. Outras conseguimos elaborar em um espaço seguro, como a terapia. Mas ignorar as coisas, muitas vezes pode ser pior. Fingir que as emoções não existem ou que as coisas não aconteceram não faz elas desaparecerem. Quando um relacionamento chega ao fim, pouco importa quem se afastou de quem primeiro. Mas há quem se prende na ideia de que se afastou antes – em uma tentativa de controlar a narrativa, como se isso importasse. O fim significa que algo não estava funcionando e foi se desgastando ao longo do tempo. Nenhum fim acontece por mero acaso. Às vezes, quando somos levados ao limite, existem relações que não têm salvação – todos limites já foram cruzados e não há razão para impor limites, somente aceitar que o ciclo chegou ao fim. Isto não significa que você guarde algum rancor ou deseje mal para a pessoa, significa que você decidiu por sua saúde mental em pri...

Pandora: Filme sul-coreano explora o pânico diante de um desastre em usina nuclear

Falta de planejamento e ganância são uma combinação mortal quando se colocam na balança os benefícios e os riscos são ignorados. O filme sul-coreano de thriller e drama Pandora transporta o telespectador para um cenário caótico juntando vários elementos preocupantes do cenário contemporâneo, como a mistura de desastres geológicos, como os terremotos, com a preocupação das regiões próximas às usinas nucleares.

Dirigido por Park Jung-woo, lançado em 2016 e disponível no Brasil pela Netflix, se há muitas décadas uma obra cinematográfica assim poderia ser considerada algo de ficção científica, nos dias atuais, se aproxima da realidade de muitos países. Além de abordar os impactos para os trabalhadores da usina nuclear e das comunidades ao redor, Pandora também nos faz refletir sobre como as questões políticas e os interesses econômicos poderiam servir como catalisadores desses desastres e, ao mesmo tempo, serem usados para abafar e minimizar reais riscos sociais, por meio de falhas de coordenação e de transparência.

Com uma estrutura antiga, mas com a imagem vendida como se fosse capaz de suportar desastres, o filme foca em três núcleos narrativos: os funcionários da usina, as vidas dos familiares, principalmente do protagonista Kang Jae-hyeok (Kim Nam-gil) e os políticos tentando coordenar a situação para que o pânico não se espalhe e atinja outras regiões da Coreia do Sul.

Embora o filme tenha várias cenas de ação e adrenalina, que conseguem levar o telespectador para esse universo não tão conhecido no Brasil, especialmente por vivermos em uma região que não tem tantos desastres e terremotos, o grande diferencial de Pandora é a parte emocional e dramática que consegue conectar as histórias da comunidade e dos personagens principais com o cenário que muitos gostavam pela segurança energética e oportunidades de emprego, mas também era desprezada por parte da população pelos riscos ambientais e à vida humana.

O início e o final do filme se conectam quase que de forma poética mesmo diante de tanta tragédia. Há cenas em que é impossível não se emocionar quando o roteiro foca no elemento humano tão deixado de lado em algumas narrativas do gênero e abordam os efeitos não só na vidas dos envolvidos, mas no círculo social – são mais do que números e meros funcionários, são pessoas, memórias, emoções e relacionamentos que criam um clímax catártico.

Um tema recorrente nas narrativas sul-coreanas é o da escolha profissional, muitas vezes, motivadas pela pressão da família e pelas desigualdades sociais. Diferente de muitos moradores e trabalhadores da usina nuclear, o protagonista traz em si as dores de outros familiares que passaram por ali e mesmo contra a vontade das pessoas próximas, ele deseja reescrever sua história de vida. 

Seja pela nostalgia da infância, período em que a área próxima à usina não espantava as pessoas ou pela sua própria preocupação com as estruturas e os riscos da radiação, Kang Jae-hyeok é o personagem que se prende à sua própria realidade, como muitas vezes acontece na vida em que por mais que as pessoas tentem traçar outros planos, elas são puxadas de volta para o núcleo central e não conseguem se libertar.

Os momentos de pânico do filme lembram um pouco de Train to Busan. Só de imaginar algo assim acontecendo na vida real, dá para ver que embora a intenção do filme não seja educativa, ele serve como um alerta sobre o despreparo que muitos países enfrentariam em casos de emergência e como questões de infraestrutura devem ser levadas mais a sério do que os interesses comerciais.

Repleto de críticas sociais e alertas ignorados, bem como cenas emocionantes de companheirismo, amizade, amor e família diante de estados de emergência, Pandora deixa no ar a mensagem de que mundo vamos deixar para as próximas gerações, seja em questões ambientais ou de possíveis riscos para vidas inocentes.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

Mais lidas da semana