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Destaques

Ressignificar dia após dia

A linha era tênue entre a verdade e a autoficção, mas a literatura era um espaço para criar e não tinha compromisso com a realidade. Como tinta invisível, personagens às vezes se misturam e podem confundir. Um personagem pode ser vários e a graça não está em descobrir quem é quem, mas de aproveitar a leitura. Escrever em blog poderia não ser a mesma coisa do que escrever um livro de ficção ou de memórias, mas a verdade era que acabava servindo para as duas coisas. Às vezes o passado estava no passado. Às vezes o presente apontava para o futuro. Mas nunca dá para saber sobre quem se está escrevendo e há beleza nisso. A beleza de que personagens não eram pessoas, de que não precisava contar a verdade sempre, que às vezes quatro personagens poderiam se tornar um. Saber quem é quem parecia o menos importante, mas apreciar a beleza das entrelinhas. Ia escrevendo como uma forma de esvaziar a mente e o coração, sentindo o corpo mais leve. Escrevia e continuaria escrevendo sempre que sentisse ...

Cyber Hell: Documentário coreano da Netflix aborda casos de crime de exposição de garotas na internet

É preciso ter estômago forte para assistir ao documentário coreano Cyber Hell sobre investigação jornalística de uma série de crimes envolvendo garotas de escolas e jovens que eram humilhadas, assediadas e expostas para vários grupos em aplicativos de comunicação. Com direção e roteiro de Jin-sung Choi, o documentário de 2022 traz entrevistas com os jornalistas que tentaram entrar no submundo destes grupos criminosos e revelam a perversão por trás das mentes dos membros que faziam parte.

O que começou como uma investigação sobre um caso de vítimas em um colégio na Coreia do Sul, seguindo em direção a um dos suspeitos de perseguir as vítimas e ameaçá-las em troca de conteúdos pornográficos delas, acabou ganhando mais profundidade, conforme outros leitores passaram o nome de um dos responsáveis por um grupo maior, que visava jovens mulheres, as quais ele atraia com falsas ofertas de emprego.

“Não era nem um vídeo pornográfico caseiro de algum voyeur. O que eles faziam era dar missões às mulheres. Elas tinham que fazer coisas grotescas, bizarras. E todos no grupo assistiam juntos”, afirmou o jornalista que liderou as investigações.

O nível dos ataques à privacidade das vítimas era tanto que eles coletavam informações pessoais, números de documentos e endereços. No caso do grupo envolvendo vítimas do colégio, o jornalista que liderava a reportagem chegou a ser vítima e fotos dele com a família foram expostas no grupo.

A falta de controle externo sobre os gerenciadores de grupos em aplicativos de comunicação, como o Telegram, onde as humilhações e as trocas de fotos e vídeos de garotas e mulheres sendo humilhadas e expondo seus corpos dão à história um toque de filme de thriller, conforme você percebe que embora os jornalistas vão se envolvendo, o trabalho da polícia não é capaz de alcançá-los e se revela o prazer sádico de um dos líderes de grupos de mostrar ‘quem está mandando’.

Baksa, o responsável pela criação das salas e um dos vendedores de conteúdos ilegais recebia pagamentos em criptomoedas, o que para muitos, dava um senso de anonimidade. O documentário coreano nos faz refletir o quanto crimes parecidos podem acontecer em diferentes partes do mundo e passarem despercebidos, até que alguém decida investigar e denunciar.

Apesar de ter sido um trabalho que cobrou bastante da saúde mental dos jornalistas, sem o pontapé inicial muitos sairiam impunes dos crimes terríveis que cometeram. Além das chantagens e constrangimentos de serem expostas na Coreia do Sul, não dá para ter dimensões de quantas pessoas tiveram acesso aos conteúdos ilegais pagando ou não.

Uma discussão que é levantada no documentário é sobre o quanto as pessoas que estavam consumindo o conteúdo também estavam cometendo crimes, alguns se envolvendo de forma ativa também participando de comportamentos de perseguição e humilhação das vítimas. 

Conforme as investigações jornalísticas e policiais avançam e mais informações do desenrolar dos casos são fornecidas ao telespectador, embora nada apague o sofrimento e o trauma das vítimas, pelo menos bate um alívio de saber que muitos foram responsabilizados. 

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.


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