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Nação Dopamina: Livro explora a relação entre prazer, sofrimento, equilíbrio e vício
Prazer, recompensa, vício e sofrimento. No livro Nação Dopamina (Dopamine Nation), a autora psiquiatra norte-americana Anna Lembke aborda como a dopamina está relacionada à experiência viciante e como estamos cercados de estímulos que alimentam esse sistema. A obra foi publicada pela editora Vestígio, em 2022, com tradução de Elisa Nazarian.
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Chocolate, compras, filmes, videogames, redes sociais, a autora cita várias coisas que podemos desejar e que o sistema de recompensa pode gerar prazer, mas em excesso pode levar à dependência e consumo compulsivo. Embora tenha se inspirado na neurociência, Anna Lembke contou histórias baseadas em casos de seus pacientes, de entrevistas e de sua própria vivência para abordar a importância de buscar uma vida equilibrada.
“Todo paciente é um pacote fechado, um romance não lido, uma terra inexplorada” – Anna Lembke
Desde o vício sexual, dependência de drogas até como a internet pode influenciar comportamentos e ser viciante por causa da quantidade de recursos disponíveis, a autora fala sobre como o tempo sem atividades ou chato pode ser importante para o ser humano, criando espaço para novos pensamentos e até como oportunidade de aproveitar o momento presente.
Como o prazer está relacionado à liberação de dopamina, Anna Lembke explica como o neurotransmissor age e cita algumas pesquisas que comentam quais substâncias liberam mais dopamina. Para manter o equilíbrio do organismo, a autora lembra que após a sensação de subida, vem a de descida, como uma gangorra ou balança. Ou seja, um ciclo de prazer e sofrimento.
“Com a repetida exposição ao mesmo estímulo ao prazer, ou a um estímulo semelhante, o desvio inicial para o lado do prazer fica mais fraco e mais curto, e a resposta posterior para o lado do sofrimento fica mais forte e mais demorada, um processo chamado pelos cientistas de neuroadaptação” – Anna Lembke
Em um mundo repleto de estímulos, entender como o nosso cérebro funciona pode fazer a diferença e evitar que uma simples busca por prazer e de alívio do tédio acabe se tornando algo viciante. Logo, embora substâncias tenham relação com a liberação de dopamina, os comportamentos também podem ter.
Ao abordar o jejum de dopamina como uma forma de reencontrar o equilíbrio, Anna Lembke ressalta que ela não recomenda para quem tem vício em determinadas substâncias, recomendando a diminuição gradual. Ela explica sobre a importância de lidar com a dor para não trocar uma dependência por outra, por exemplo, o abandono de drogas pelo vício em pornografia, entre inúmeras possibilidades.
“As práticas de mindfulness são especialmente importantes nos primeiros dias de abstinência. Muitos de nós usam substâncias e comportamentos de alta dopamina para se distrair de seus próprios pensamentos. Quando acabamos de largar o uso da dopamina como fuga, esses pensamentos, emoções e sensações dolorosos vêm para cima da gente” – Anna Lembke
O uso de smartphones com um monte de aplicativos, por exemplo, pode levar à dependência, segundo a autora, mesmo quando não se encaixa nos critérios de diagnóstico. Anna Lembke defende a importância do autocomprometimento e a criação de estratégias para dificultar o acesso à determinada substância e/ou comportamento compulsivo, seja por meio físico ou até mesmo por tratamento médico.
Sobre o uso de medicamentos para lidar com a dor e ansiedade, a autora acaba entrando em um assunto polêmico, questionando um possível uso indiscriminado de várias substâncias. É importante lembrar que no início do livro ela afirma que os conselhos dados não substituem a consulta com um médico, portanto é uma obra para ler com cuidado – ou seja, ninguém deve abandonar um tratamento médico por conta própria, independente da reflexão levantada pela autora.
Uma forma de lidar com as substâncias e comportamentos, segundo a autora, é por meio da aceitação da dor. Ela cita alguns casos de pessoas que encontraram formas alternativas de lidar com o desconforto, como por meio de banhos gelados ou prática de determinadas atividades radicais. Da mesma forma que o prazer é usado como uma fuga, Anna Lembke lembra que há quem use uma dor menor contra uma dor maior.
“A honestidade mútua exclui a vergonha e prenuncia uma explosão de intimidade, um ímpeto de calor emocional que vem de nos sentirmos em conexão profunda com os outros, de nos sentirmos aceitos apesar das nossas falhas. O que cria a intimidade que desejamos não é a nossa perfeição, mas a disposição de trabalharmos juntos para remediar nossos erros” – Anna Lembke
Quando se tratam de comportamentos e substâncias viciantes, uma das recomendações de Anna Lembk é a aposta na honestidade radical, como uma forma de expressar abertamente sobre o que se está vivendo. Ela também aborda como a vergonha pró-social e a responsabilidade podem fazer parte deste processo de autoaceitação de que se precisa mudar, citando como exemplo organizações como o Alcóolicos Anônimos e sua dinâmica de funcionamento, bem como clubes e relações familiares.
Ao final do livro fica a reflexão de que estamos vivendo cercados de muitos estímulos e, muitas vezes, para buscar o prazer ou esquecer o sofrimento, nosso sistema acaba se desequilibrando. Anna Lembke acredita no poder de tentar lidar com a dor como uma forma de se buscar uma vida mais equilibrada, dando uma espécie de reset no cérebro para que a pessoa tenha mais autonomia e dependa menos de substâncias e comportamentos – no entanto, vale ressaltar que todo caso é individual e cada um sabe dos seus próprios limites e realidade.
*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.
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