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Destaques

Autorregulação e nostalgia

Em um ano marcado por tantas referências de nostalgia, é difícil não se lembrar do passado. Mas, às vezes, as respostas que buscava estavam no presente, naqueles que permaneceram mesmo com tanta intensidade, incoerência e riscos. Talvez em vez de focar nos ciclos que se encerraram, deveria se focar nos que permaneceram abertos. O tempo de lamentar fora mais do que o suficiente. Então, mesmo com excesso de compreensão, precisava se soltar de uma vez por todas: um exercício muito mais fácil na teoria do que na prática.  Em um ano muita coisa poderia mudar. Pensara em como finalmente havia conseguido abandonar o cigarro, por exemplo, e se lembrava de que vícios não eram tão diferentes de relacionamentos que não estavam funcionando: mesmo quando sabemos que algo não está bem, às vezes, continuamos. Às vezes, escolhemos deixar para trás. Aceitamos a importância do novo e parar de encontrar conforto somente no conhecido. Às vezes, a beleza está em descobrir o novo, mesmo que a princípio ...

Relacionamentos Indefinidos

Existem dois tipos de pessoas no mundo: as que acreditam que nada dura para sempre e aquelas que acreditam que existem infinitos dentro de infinitos. Eventualmente, as duas se encontram sem criar expectativas, mas, ao mesmo tempo, sem abrir mão das demonstrações de afeto.

“Eu espero que ele baixe a guarda”. “Eu vou manter a guarda alta”. Pensamentos se intercalam, como numa espécie de pega-pega entre adultos. Quem vai ganhar? Quem vai perder? Os dois saem ganhando? Os dois saem perdendo? É difícil prever.

Você escuta o discurso cético e pensa o quanto são parecidos, mas tão diferentes ao mesmo tempo. E se vocês tivessem se conhecido em uma outra época da vida? Como as coisas seriam? Não adiantava divagar sobre o passado, você está vivendo o momento presente e se concentrando em não criar expectativas sobre o futuro. Tudo o que temos é o agora. 

Um agora que vai se tecendo a cada pequena atitude, toques, beijos e a sensação de estarem grudados um ao outro. “Esqueça as palavras”, o pensamento se repete. “Baixe a guarda um pouco”. De repente, parece loucura fazer isso com quem já havia deixado claro tanta coisa sobre si mesmo. De repente, as palavras vão se transformando. Muitas coisas podem acontecer de repente.

No mundo dos relacionamentos indefinidos, eu não sabia qual papel agir, então, fui cumprindo um pouco de todos, secretamente, me deixando experimentar as diferentes sensações e pensando que por trás de todo excesso de ceticismo se escondem muitas verdades: algumas dolorosas, outras indiferentes e lógicas demais, distantes do terreno das emoções.

Sem criar as temidas expectativas, você se vê beijando no meio do shopping, como se fosse um casal de mais tempo juntos ou quem sabe um jovem casal desfrutando os primeiros dias de uma suposta lua de mel. Tudo pode acontecer, inclusive nada. A voz de Carla Bruni passa pela cabeça: “Me prometa nenhuma promessa¨.

Um beijo que deixou o outro com vergonha e parece tão fofo que você quer registrar o momento na memória e repetir várias vezes. Como um jogo que você não quer perder, você aprende a modular as emoções e deixar do jeito que era combinado, com baixas expectativas, ao mesmo tempo percebendo que eventualmente, as coisas precisam mudar. 

Sem saber as respostas, você adormece para não ter que pensar nas perguntas. Em um universo de indefinições, falta vocabulário emocional para definir o que está sentindo, o que vocês são e se haverá próximos capítulos da história. Tudo é tão incerto que se desmancha e escorre como areia pelas mãos. De repente, você não sabe se está em uma praia, uma ilha ou um deserto.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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