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Destaques

Para onde vão todas coisas que não dissemos?

Para onde vão todas coisas que não dissemos? Essa é uma pergunta que muitas pessoas se fazem. Algumas ficam presas dentro de nós. Outras conseguimos elaborar em um espaço seguro, como a terapia. Mas ignorar as coisas, muitas vezes pode ser pior. Fingir que as emoções não existem ou que as coisas não aconteceram não faz elas desaparecerem. Quando um relacionamento chega ao fim, pouco importa quem se afastou de quem primeiro. Mas há quem se prende na ideia de que se afastou antes – em uma tentativa de controlar a narrativa, como se isso importasse. O fim significa que algo não estava funcionando e foi se desgastando ao longo do tempo. Nenhum fim acontece por mero acaso. Às vezes, quando somos levados ao limite, existem relações que não têm salvação – todos limites já foram cruzados e não há razão para impor limites, somente aceitar que o ciclo chegou ao fim. Isto não significa que você guarde algum rancor ou deseje mal para a pessoa, significa que você decidiu por sua saúde mental em pri...

Relacionamentos Indefinidos

Existem dois tipos de pessoas no mundo: as que acreditam que nada dura para sempre e aquelas que acreditam que existem infinitos dentro de infinitos. Eventualmente, as duas se encontram sem criar expectativas, mas, ao mesmo tempo, sem abrir mão das demonstrações de afeto.

“Eu espero que ele baixe a guarda”. “Eu vou manter a guarda alta”. Pensamentos se intercalam, como numa espécie de pega-pega entre adultos. Quem vai ganhar? Quem vai perder? Os dois saem ganhando? Os dois saem perdendo? É difícil prever.

Você escuta o discurso cético e pensa o quanto são parecidos, mas tão diferentes ao mesmo tempo. E se vocês tivessem se conhecido em uma outra época da vida? Como as coisas seriam? Não adiantava divagar sobre o passado, você está vivendo o momento presente e se concentrando em não criar expectativas sobre o futuro. Tudo o que temos é o agora. 

Um agora que vai se tecendo a cada pequena atitude, toques, beijos e a sensação de estarem grudados um ao outro. “Esqueça as palavras”, o pensamento se repete. “Baixe a guarda um pouco”. De repente, parece loucura fazer isso com quem já havia deixado claro tanta coisa sobre si mesmo. De repente, as palavras vão se transformando. Muitas coisas podem acontecer de repente.

No mundo dos relacionamentos indefinidos, eu não sabia qual papel agir, então, fui cumprindo um pouco de todos, secretamente, me deixando experimentar as diferentes sensações e pensando que por trás de todo excesso de ceticismo se escondem muitas verdades: algumas dolorosas, outras indiferentes e lógicas demais, distantes do terreno das emoções.

Sem criar as temidas expectativas, você se vê beijando no meio do shopping, como se fosse um casal de mais tempo juntos ou quem sabe um jovem casal desfrutando os primeiros dias de uma suposta lua de mel. Tudo pode acontecer, inclusive nada. A voz de Carla Bruni passa pela cabeça: “Me prometa nenhuma promessa¨.

Um beijo que deixou o outro com vergonha e parece tão fofo que você quer registrar o momento na memória e repetir várias vezes. Como um jogo que você não quer perder, você aprende a modular as emoções e deixar do jeito que era combinado, com baixas expectativas, ao mesmo tempo percebendo que eventualmente, as coisas precisam mudar. 

Sem saber as respostas, você adormece para não ter que pensar nas perguntas. Em um universo de indefinições, falta vocabulário emocional para definir o que está sentindo, o que vocês são e se haverá próximos capítulos da história. Tudo é tão incerto que se desmancha e escorre como areia pelas mãos. De repente, você não sabe se está em uma praia, uma ilha ou um deserto.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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