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Destaques

Palavras não ditas

Era uma vez um escritor que tinha tanta empatia por alguém próximo, que, muitas vezes, levava para a terapia problemas que não eram seus. Nem sempre sabia como ajudar. Não sabia como dizer não. Sempre estava disposto a ouvir. Até o dia em que se esgotou e se deu conta de que se as coisas não mudassem, ali não era seu lugar para ficar. Quando foi que precisou se diminuir tanto para caber nas expectativas do outro? O outro sequer sabia que seus posicionamentos ideológicos eram contrários e, vez ou outra, sofria com microagressões, mas se silenciava em bem da amizade – era quase como se vivesse uma vida dupla, da qual o outro desconhecia. Foi deixando um monstro crescer cada vez mais, um monstro alimentado pelo silêncio e que tanto se preocupava com o outro, que às vezes se deixava de lado. Para pessoas que estão familiarizadas com impor limites, o caso poderia ser bobeira, mas para ele, havia chegado a um estado de exaustão, no qual não queria voltar atrás. Estava exausto de ouvir proble...

O último banho de sol do ano

Era o último banho de sol do ano quando aproveitava a luz solar para bronzear a pele enquanto pedalava pelos labirintos do seu condomínio. Escutava as músicas mais tocadas do ano por ele no Spotify, uma retrospectiva que o lembrava que mesmo subconscientemente sua mente estava em outra pessoa – ou seriam os gostos em comum que haviam adquirido ao longo do tempo? Não sabia responder.

Sentir os raios de sol o fazia se sentir vivo, especialmente nos dias em que dormia demais e parecia que nunca ia acordar. No início via a atividade como algo para simplesmente ajudar com o cérebro a se recuperar, até que se tornou algo prazeroso e inevitável no dia a dia.

Todos os dias, não importava o horário, ele ia tomar sua dose diária de sol – o que também o lembrava de um drama coreano, no qual se abordava a importância de pedir e aceitar ajuda para saúde mental quando necessário.

Os minutos ora passavam lentamente, ora passavam mais rápidos e a cada música reproduzida sentia emoções diferentes: era como dar uma volta em uma roda-gigante, sabendo que se estivesse sentindo demais, bastava trocar a música. Acelerava e desacelerava conforme o ritmo e sentia certo alívio quando voltava para casa e o ar era preenchido pelo silêncio.

A dose de sol havia chegado ao final, mas seus benefícios continuavam com ele. Era quando podia recarregar as energias e continuar com as atividades diárias, deixando o peso para trás. Sabendo que independente de ser fim de ano, amanhã estaria com a bicicleta novamente.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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