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Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Quando as estrelas desaparecem

Quando as estrelas desaparecem do céu. Você sabe que elas ainda estão ali, mas não consegue vê-las. Então, você para de olhar para cima um pouco e começa a notar os detalhes do momento presente. As coisas que estão por perto e você não conseguia notar antes.

Tão perto e tão longe. O brilho das coisas muda de acordo com sua perspectiva. Deixara as estrelas de lado para focar em outras coisas, nas pequenas coisas do dia a dia, como nas borboletas voando tão próximo dele prestes a tocá-lo e nas flores que sempre o encantavam nos dias de sol.

Uma pausa diante da corrida que havia se colocado. Queria limpar a mente das expectativas irreais e voltar os olhos para o presente, sem se perder no labirinto das memórias e das coisas que desejara ter vivido e nunca havia acontecido, mas sempre o cutucavam antes da hora de dormir.

Era o momento de fazer as pazes consigo mesmo. Deixar fluir e se redescobrir. Sabia que não importava o quanto desejava algumas coisas, elas simplesmente não iriam acontecer. Era aquela época do ano em que a dor do doente havia voltado e por mais dolorosa que ela fosse, não conseguia abrir mão dela.

Pensou em como os dias estavam voando e havia tanto tempo para pensar, mas suas memórias favoritas eram também as que mais despertavam suas emoções e o deixavam fora de controle. Então, ele ia passando os dias, contava as horas até o momento em que ia dormir e esperava o filme se repetir na sua cabeça: todas as coisas que desejava ter dito e feito, mas agora era tarde demais para isso.

Então, quando menos se deu conta, lá estava ele procurando estrelas novamente. Sabia que as memórias eram tão felizes e tão dolorosas que elas se repetiam sempre. Inspirava e exalava o ar. “São só memórias. Elas não podem te machucar”, mentia para si mesmo, enquanto tentava desviar o foco: na esperança de que algum dia criasse novas memórias e não ficaria congelado no passado.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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