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Destaques

Ressignificar dia após dia

A linha era tênue entre a verdade e a autoficção, mas a literatura era um espaço para criar e não tinha compromisso com a realidade. Como tinta invisível, personagens às vezes se misturam e podem confundir. Um personagem pode ser vários e a graça não está em descobrir quem é quem, mas de aproveitar a leitura. Escrever em blog poderia não ser a mesma coisa do que escrever um livro de ficção ou de memórias, mas a verdade era que acabava servindo para as duas coisas. Às vezes o passado estava no passado. Às vezes o presente apontava para o futuro. Mas nunca dá para saber sobre quem se está escrevendo e há beleza nisso. A beleza de que personagens não eram pessoas, de que não precisava contar a verdade sempre, que às vezes quatro personagens poderiam se tornar um. Saber quem é quem parecia o menos importante, mas apreciar a beleza das entrelinhas. Ia escrevendo como uma forma de esvaziar a mente e o coração, sentindo o corpo mais leve. Escrevia e continuaria escrevendo sempre que sentisse ...

Quando as estrelas desaparecem

Quando as estrelas desaparecem do céu. Você sabe que elas ainda estão ali, mas não consegue vê-las. Então, você para de olhar para cima um pouco e começa a notar os detalhes do momento presente. As coisas que estão por perto e você não conseguia notar antes.

Tão perto e tão longe. O brilho das coisas muda de acordo com sua perspectiva. Deixara as estrelas de lado para focar em outras coisas, nas pequenas coisas do dia a dia, como nas borboletas voando tão próximo dele prestes a tocá-lo e nas flores que sempre o encantavam nos dias de sol.

Uma pausa diante da corrida que havia se colocado. Queria limpar a mente das expectativas irreais e voltar os olhos para o presente, sem se perder no labirinto das memórias e das coisas que desejara ter vivido e nunca havia acontecido, mas sempre o cutucavam antes da hora de dormir.

Era o momento de fazer as pazes consigo mesmo. Deixar fluir e se redescobrir. Sabia que não importava o quanto desejava algumas coisas, elas simplesmente não iriam acontecer. Era aquela época do ano em que a dor do doente havia voltado e por mais dolorosa que ela fosse, não conseguia abrir mão dela.

Pensou em como os dias estavam voando e havia tanto tempo para pensar, mas suas memórias favoritas eram também as que mais despertavam suas emoções e o deixavam fora de controle. Então, ele ia passando os dias, contava as horas até o momento em que ia dormir e esperava o filme se repetir na sua cabeça: todas as coisas que desejava ter dito e feito, mas agora era tarde demais para isso.

Então, quando menos se deu conta, lá estava ele procurando estrelas novamente. Sabia que as memórias eram tão felizes e tão dolorosas que elas se repetiam sempre. Inspirava e exalava o ar. “São só memórias. Elas não podem te machucar”, mentia para si mesmo, enquanto tentava desviar o foco: na esperança de que algum dia criasse novas memórias e não ficaria congelado no passado.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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