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Destaques

Fred e Rose West: Minissérie documental de crimes cometidos por casal britânico

Na minissérie documental de três episódios, Fred and Rose West: A British Horror Story , tudo começa com a investigação do desaparecimento da filha do casal. Narrada de forma linear, a série documental mostra que a filha foi só uma entre tantas vítimas, levando os holofotes para a região e se tornando um dos casos mais chocantes do Reino Unido. Série disponível na Netflix. “Se você não se comportar, vai acabar igual sua irmã enterrada” era uma das piadas ou forma de abuso que os filhos escutavam dos pais e eram alvo de preocupação na escola. Foi somente após a polícia se dar conta do desaparecimento da filha do casal West, que as investigações começaram. Sem colaborar com a polícia inicialmente, o caso se desenrola de forma lenta. O que poderia ser um crime chocante de assassinato da própria filha ganha novas dimensões conforme novas descobertas são feitas, como a de que Fred West teria enterrado outros corpos no quintal de sua casa. A princípio, Fred West tenta se manter no controle d...

Escrevendo um fim de ciclo

Era um escritor e sabia que cada um tinha sua maneira de contar narrativas. Não se importava se seria herói, anti-herói ou vilão na narrativa do outro, uma vez que colocava um ponto final em uma história, estava decidido a seguir em frente.

Dizem que o excesso de visibilidade te torna invisível. É uma verdade. Quando você se torna excessivamente disponível ao outro e ele sente necessidade de usar o seu tempo e atenção, você acaba fechando os olhos para si mesmo.

Escrevia não porque precisava ser entendido pelo outro. Cabia ao outro entender os próprios erros e acertos, ou fazer o que sempre fazia, ficar no papel de vítima. Escrevia porque precisava colocar para fora os pensamentos e as emoções que estavam o consumindo.

Escrever era sua maneira de existir no mundo. Se por mero acaso o outro nunca se tinha dado conta que escrevia em outras situações, era algo que não estava disposto a esclarecer. Escrevia porque precisava, era sua forma de respirar e de ser ele mesmo.

Chegava a ser no mínimo engraçado e trágico como o outro o enxergava como um terapeuta, incapaz de enxergá-lo como um escritor. As histórias que havia ouvido não escreveria a respeito por honrar o passado, mas havia coisas que precisava escrever, para que se alguém estivesse passando pelo mesmo, este alguém soubesse que não estava sozinho.

Muito se fala sobre limites e encerramentos de ciclos, textos, imagens e vídeos estão em todos cantos da internet, mas ter que passar por isso, não era desagradável só para o outro, mas para si mesmo. Admitir que todos limites tinham sido ultrapassados, que era tarde demais para deixar o outro na vida e seguir em frente, consciente de que ajudou como poderia, muito mais do que deveria.

Escrevia porque era escritor e não terapeuta, como o outro o havia enxergado. Escrevia porque sabia que as palavras tinham peso e importância, que no momento em que ele escrevia o texto, alguém estava passando por uma situação similar e gostaria de dizer: você não precisa se sentir culpado se precisar se afastar de quem está te fazendo mais mal do que bem.

Aquelas palavras pareciam simples, mas muitas vezes era o oposto delas que mantinha pessoas presas em relacionamentos. Se mesmo relacionamentos românticos nos quais as pessoas juravam que o amor duraria para sempre acabam, por que não as amizades que já não estavam funcionando e tinham se tornado tóxicas?

Escrevia para lembrar, escrevia para esquecer. Escrevia para relembrar a importância do equilíbrio nos relacionamentos e para dizer que estava tudo bem se afastar quando já não existia. Escrevia para lembrar que quando um relacionamento se baseava em desabafos, negatividade, reclamações diárias e vitimização poderia ser um lugar desconfortável para ficar, mas por empatia muitos seguiam, ainda que a intuição e a saúde dissessem o contrário.

Então, escrevia para se escutar. Já havia escutado a parte do outro o suficiente. O outro havia deixado de ser um sujeito na sua narrativa, já havia virado um daqueles personagens que simplesmente desaparecerem e sequer lembramos o nome. Escrevia para lembrar do que não se tornar, não fazer o mesmo com os outros e continuar seguindo firme em terapia.

Deixava ir. Nada mais o prendia ao outro. O vínculo havia rompido. Se tivesse que impor limites diria que não queria escutar nada, logo não fazia mais sentido manter a amizade, só restava aceitar que havia chegado ao fim. 

Ia soltando seus fragmentos, ia soltando cada vez mais o outro, na expectativa de que algum dia pudesse se lembrar com gratidão a si mesmo e lembrasse que não era uma escolha tão difícil, quando se tratava de colocar a própria saúde mental em primeiro lugar e até compreendia quem vez ou outra havia se afastado pelo mesmo motivo. Escrevia para si mesmo e seus leitores, não para quem já não fazia parte de sua vida. Seguiria escrevendo, até que tudo se tornasse memória e as coisas não queimassem mais dentro dele. Até que as páginas se queimassem e tudo o que restasse eram cinzas, sopradas pelo vento.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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