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A surpresa de ler um livro aleatório

A surpresa de ler um livro aleatório. Escolher um livro aleatório é como ir a um encontro às cegas: você nunca sabe o que realmente vai encontrar nem como prever como a experiência vai ser. Só há uma forma de descobrir: tentando. Em um acervo lotado de livros, quer seja uma biblioteca, livraria ou até mesmo sua biblioteca pessoal, por que escolhemos determinados livros e deixamos outros de lado? O que acontece quando decidimos optar por algo aleatório, sem saber qualquer informações prévias sobre o autor ou sem ler a sinopse? É um exercício interessante de descoberta. Por não termos criado tantas expectativas em cima da leitura, abrimos mais espaço para nos deixar surpreender linha após linha. Nem todo mundo gosta de ler um livro aleatório e está tudo bem, mas talvez seja uma experiência que todos nós deveríamos ter de tempos em tempos, aceitando que pode ser um processo de frustração, mas que também pode ser bem prazeroso mergulhar em águas desconhecidas. Sem se dar ao trabalho de pes...

Negar o papel que não é seu

Quem poderia imaginar que ouvir problemas diariamente estava afetando a saúde mental? A ansiedade que antes estava alta, estava em um nível tão controlável que estava estranhando. O peso que estava carregando antes, havia se tornado tão leve. Tudo isto porque havia se recusado a interpretar um papel que não era dele, não era o terapeuta do outro.

Ter empatia, muitas vezes, te coloca em uma armadilha. Quando você vê alguém com problemas, quer tentar ajudar de alguma forma. Porém, o que acontece quando essa pessoa só quer reclamar, ignora qualquer recomendação e acaba te transformando em uma lixeira emocional? As chances são de que um dia ou outro, você vai se sobrecarregar emocionalmente com problemas que nem mesmo são seus.

Às vezes, você precisa se perguntar quem criou o papel e se você realmente está disposto a cumpri-lo. Ter uma escuta atenta e empatia não é algo estranho, mas se torna pesado quando se torna uma obrigação diária. Há coisas que como amigo, muitas vezes, você só pode indicar que seria bom a pessoa fazer acompanhamento terapêutico com uma psicóloga. Há coisas que você não precisa ficar quebrando a cabeça nem tentando resolver. Há coisas que são simplesmente do outro.

Estabelecer esses limites são essenciais para preservar a sua própria saúde mental. O que acontece quando você se torna âncora do outro? Você, muitas vezes, se esquece de que é raiz e que precisa se nutrir, precisa de sua própria energia. Ficar no papel do terapeuta do outro é algo que pode tornar sua amizade tóxica, especialmente se vem acompanhado de constante vitimização e o outro sempre enxergar como se o mundo fosse o problema, fechando os olhos para os próprios comportamentos.

O desequilíbrio na amizade vem acompanhado de um alerta de que algo precisa mudar. Talvez você tenha tantos problemas quanto o outro, mas pelo outro estar sempre no papel de vítima, você escolhe não compartilhar. Talvez você consegue lidar com seus problemas anotando em um caderno e levando para a terapia. Talvez você se dê conta de que o outro está drenando sua energia e cada vez que você fica sem repor, sua saúde mental é afetada de alguma forma. Talvez tudo esteja errado e você tenha levado tempo demais para se dar conta.

Então, não se trata de você ter se tornado frio, distante ou egoísta, de repente, só demorou para a ficha cair de que estava cumprindo um papel que jamais tinha se inscrito. Não queria uma amizade onde só um dos lados desabafava seus problemas e ficava preso em um ciclo sem fim de lamentações, queria uma amizade que deixasse a vida mais leve, mesmo consciente dos problemas que o outro estava passando, capaz de enxergar o outro como alguém que também tinha suas próprias demandas e não era por conta do otimismo, que as coisas desapareciam.

Foi, assim, escolhendo a si mesmo, que acabou abrindo mão do que não estava funcionando. Se negara a passar mais um dia que fosse escutando problemas do outro. Entre escutar uma vez e escutar diariamente havia uma distância gigantesca e havia coisas que só o outro era capaz de se responsabilizar. 

Então, se dizer sim para o outro significava dizer não para si mesmo, sabia qual era a resposta a seguir. Muitas vezes, o que não havia tido coragem ou paciência de conversar, era de que também tinha seus próprios limites e problemas, mas escolhia a própria psicóloga para contar e aprender sua própria parte nisso, não usar o outro como uma lixeira emocional, tampouco se escorar como uma vítima, a vida era muito mais do que isso e o outro, nem sempre era capaz de enxergar. 

O estresse e o desgaste emocional de ter que ficar escutando diariamente o outro reclamar não valia a pena. Em vez disso, havia escolhido a própria paz mental. E o papel de terapeuta? Devolvia para a psicóloga, redirecionando a energia e colocando cada coisa no seu lugar. Tinha sido um amigo, sim, mas terapeuta jamais, uma doentia e ilusão projeção do outro. Foi ao dizer não para o outro, que disse sim para si mesmo e os dias sem escutar tantos problemas, agora eram preenchidos com a leveza natural. O que o outro faria ou não com essa informação, não era problema dele. Mas se sentia livre para voltar a ser quem era e não era enxergado: um escritor.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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