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Destaques

Palavras não ditas

Era uma vez um escritor que tinha tanta empatia por alguém próximo, que, muitas vezes, levava para a terapia problemas que não eram seus. Nem sempre sabia como ajudar. Não sabia como dizer não. Sempre estava disposto a ouvir. Até o dia em que se esgotou e se deu conta de que se as coisas não mudassem, ali não era seu lugar para ficar. Quando foi que precisou se diminuir tanto para caber nas expectativas do outro? O outro sequer sabia que seus posicionamentos ideológicos eram contrários e, vez ou outra, sofria com microagressões, mas se silenciava em bem da amizade – era quase como se vivesse uma vida dupla, da qual o outro desconhecia. Foi deixando um monstro crescer cada vez mais, um monstro alimentado pelo silêncio e que tanto se preocupava com o outro, que às vezes se deixava de lado. Para pessoas que estão familiarizadas com impor limites, o caso poderia ser bobeira, mas para ele, havia chegado a um estado de exaustão, no qual não queria voltar atrás. Estava exausto de ouvir proble...

O peso que não é nosso

Lidar com o peso que não é nosso nem sempre é fácil. Às vezes, você só se dá conta de quanta coisa que não era sua e você estava carregando quando fica sobrecarregado. Quando a paz diária é invadida por reclamações e pensamentos negativos do outro, vale a pena se questionar até que ponto vale manter um relacionamento assim.

Há uma expressão muito compartilhada na internet de que não adianta tomar remédios e fazer terapia, mas continuar em um ambiente empoeirado – e ela faz todo sentido. Muitas vezes, esse ambiente empoeirado está no ambiente digital e por mais que você tente reduzir o contato, ele se repete e repete diariamente, a ponto de causar frustração por saber que não importa o quanto tente ajudar, nada é o suficiente.

Amar a si mesmo e valorizar a própria paz são duas coisas fundamentais. Mesmo que haja a vontade de ajudar o outro, muitas vezes a pessoa precisa se dar conta de que suas demandas precisam ser levadas para terapia, para alguém com uma escuta atenta, empática e profissional.

Ninguém pode fazer a parte do outro, só ele mesmo. As linhas ficam borradas quando se há empatia e compaixão, mas também falta impor limites, os quais são valiosos para qualquer relacionamento. Quando o outro constantemente invade seu espaço com demandas e reclamações, querendo orientação, entre demais coisas que cabe a ele se autorresponsabilizar, é quase impossível não ver a relação desgastar.

Há momentos em que o relacionamento já não tem mais salvação. Você já escutou tantos e tantos problemas, vê o outro sempre no papel de vítima e em vez de resolver os problemas, cria novos problemas, sempre compartilhando com você, que você precisa deixar claro que o peso do outro é dele para carregar: algo nem sempre possível de fazer.


Então, você percebe sua saúde mental sendo afetada e percebe um padrão de comportamentos que só mesmo um bom psicólogo e bom psiquiatra podem ajudar. De repente, por mais que você entenda a dor do outro, você precisa deixar claro para si mesmo de que ela não é sua. Quando você finalmente decide deixar o outro ir, você percebe uma estranha sensação de leveza nos dias e nota que quem estava deixando seus dias ficarem pesados era o outro.

Você percebe que a mesma empatia e compaixão que você estava oferecendo para o outro também deve ser empregada a você. Você se permite viver o momento represente e respirar com calma. O peso do outro, você devolve a ele, em uma tentativa de mostrar que nem sempre somos vítimas das circunstâncias, mas que também devemos nos autorresponsabilizar. Parece algo tão bobo de se explicar, porém que algumas pessoas não conseguem entender. 

Um relacionamento que deveria ser de via dupla se torna um eterno monólogo de problemas, mas ao se escolher, você decide por um fim no ciclo. O que algum dia havia sido uma amizade saudável, há tempos se tornara um relacionamento disfuncional, onde o outro te enxerga como alguém para contar pequenos e grandes problemas e nunca se coloca como protagonista, sempre esperando alguma validação: até que o limite apareça e talvez ele entenda que precisa aprender como lidar com mais leveza para não deixar seus próprios problemas afetarem a saúde mental do outro e tornarem seus dias pesados.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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