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Para onde vão todas coisas que não dissemos?

Para onde vão todas coisas que não dissemos? Essa é uma pergunta que muitas pessoas se fazem. Algumas ficam presas dentro de nós. Outras conseguimos elaborar em um espaço seguro, como a terapia. Mas ignorar as coisas, muitas vezes pode ser pior. Fingir que as emoções não existem ou que as coisas que não aconteceram não faz elas desaparecerem. Quando um relacionamento chega ao fim, pouco importa quem se afastou de quem primeiro. Mas há quem se prende na ideia de que se afastou antes – em uma tentativa de controlar a narrativa, como se isso importasse. O fim significa que algo não estava funcionando e foi se desgastando ao longo do tempo. Nenhum fim acontece por mero acaso. Às vezes, quando somos levados ao limite, existem relações que não têm salvação – todos limites já foram cruzados e não há razão para impor limites, somente aceitar que o ciclo chegou ao fim. Isto não significa que você guarde algum rancor ou deseje mal para a pessoa, significa que você decidiu por sua saúde mental em...

Somos narradores de nossas próprias histórias

Texto: Ben Oliveira

Somos narradores e personagens de nossas próprias histórias. É preciso não confundir o narrador com o escritor, aquele que cria a história, pois não temos poder para tal. Não escolhemos onde nascemos, quando ou porquê, mas podemos direcionar algumas coisas durante nossas vidas.

Não importa a maneira que contamos uma história, ela será interpretada de diversas maneiras por quem está lendo ou ouvindo. Dependendo da intenção do narrador, ele tentará passar a informação que se aproxime mais da sua própria realidade ou deixará aberto para a subjetividade do leitor. Omitimos detalhes, lugares, nomes, personagens e ações tornando mais difícil ainda a compreensão de nossas complexidades, nos fazendo passar por protagonistas aparentemente fáceis de decifrar.

As pessoas gostam de creditar os mistérios da vida para Deus e se esquecem do quanto podem guardar dentro de si coisas que ninguém imagina, coisas que procuramos não mostrar para os outros e nós mesmos evitamos olhar por muito tempo. Todos temos um lado obscuro, na maior parte de nossas existências adormecido, mas que se alimenta de nossas mágoas, medos e inseguranças.

E, então, quando decidimos colocar um ponto final, fica a dúvida das possíveis motivações. Pessoas começam imaginar e enxergar o que elas querem ver. Coincidências ou não, tal qual o narrador de um conto − gênero literário caracterizado pela menor quantidade de texto em relação às novelas e romances, nem tudo precisa ser dito ou precisa ter um porquê detalhado.

Assim é a vida. Às vezes, ela simplesmente acaba. Há quem prefira guardar os bons momentos e há quem prefira se agarrar às mágoas. Não importa, faz tudo parte da maneira que foi contada, vivida, experienciada. Quando se trata da morte ou do fim, não existem vilões ou mocinhos, mas um momento que leva até quem não era tão próximo do seu personagem à catárse.

Ao mesmo tempo em que a morte produz uma ação catártica levando a purificação e liberdade, ela também faz com que nós questionemos mais sobre a vida, nossas atitudes e a maneira que tratamos as pessoas que são importantes para nós.

Morremos um pouco a cada dia desde os nossos nascimentos. A questão que permanece é como você está contando sua história. Fica claro que não escolhemos quando a morte chega, não somos escritores, somos mero narradores, mas é preciso admitir que somos responsáveis por adiantar o nosso fim e o fazemos diariamente com nossos hábitos nada saudáveis.

Para refletir:
"Uma noite, um velho índio contou ao seu neto sobre a guerra que acontece dentro das pessoas. Ele disse: ”A batalha é entre dois ‘lobos’ que vivem dentro de todos nós”.


Um é mau. É a raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, mentiras, orgulho falso, superioridade e ego.

O outro é bom. É a alegria, paz, fraternidade, esperança, serenidade, humildade, bondade, compaixão e fé.

O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô:
- Qual lobo vence?
O velho índio respondeu:
- Aquele que você alimenta".

E aí, qual lobo você está alimentando? Como você está contando sua história?

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