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Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Resenha: Condicional – Paulo Sérgio Moraes

Condicional, romance escrito por Paulo Sérgio Moraes e publicado no Brasil em 2013, de forma independente, é um desses livros com uma narrativa tão gostosa e envolvente que fica difícil defini-lo em gêneros. A obra com temática LGBT está repleta de drama e ação, só não tem muito romance – para quem é fã de livros gays com personagens melosos e amores fantasiosos. Quem sabe num futuro livro sobre o personagem Vitor?

A narrativa se inicia em São Paulo, no ano de 1997, no qual o leitor é apresentado ao protagonista e narrador Lucas, um anti-herói. Narrada em primeira pessoa, sob o ponto de vista e emoções de Lucas, Condicional impressiona justamente pelo personagem fugir do clichê de mocinho gay, sempre disposto a ajudar a todos e a encontrar o amor perfeito. Cada trecho do livro mistura o protagonista contando sua própria história, aos diálogos oblíquos e instigantes, seus pensamentos distorcidos, sentimentos ácidos e o egocentrismo, de alguém que é capaz de estragar a vida de todos ao seu redor, desde que esteja feliz.

No ano em que a história começa, Lucas está se formando em Administração. Depois da festa, na qual o personagem não parece dar a mínima para aquela bobagem e tudo o que tem em mente é a própria diversão, Lucas se encontra com seus amigos Thais e Vitor (acompanhado do namorado Cássio). O pontapé de Condicional é este, amigos bebendo, tomando ecstasy e se divertindo.

Ao desenrolar da narrativa, Lucas revela cada vez mais sua podridão de caráter, o que o torna um ótimo protagonista para se acompanhar, graças à impulsividade e às atitudes autodestrutivas. O problema se dá quando Lucas se comporta como uma bomba-relógio, prestes a explodir a qualquer minuto e levando para o ar todos os seus relacionamentos.

Com o risco de revelar informações demais com este texto e tornar a leitura maçante (se é que é possível), pretendo não contar os segredos e o desenvolvimento da trama, mas uma coisa eu posso garantir, a história realmente é imprevisível, emocionante e surpreendente, como sugere o seu texto da contracapa. Quando se trata de um personagem egoísta e cético, tudo pode acontecer.

Condicional traz sim momentos românticos, pelo menos não no sentido tradicional, mas da maneira que Lucas se interessa. Da mesma forma que a noite de formatura do personagem principal não acabou do jeito que ele esperava, outro personagem também não teve a noite dos seus sonhos, Jota. Morador da periferia, em busca de ganhar dinheiro fácil, o rapaz cruza o caminho de Lucas, mudando suas vidas e as dos amigos para sempre.

“Condicional retrata uma turbulenta relação que surgiu à sombra de desejo, descobertas, medo e crime. Momento em que o amor deixou de ser um sentimento e virou uma condenação”, com esse trecho da sinopse do livro, o autor define exatamente a essência da narrativa.

Fica difícil ao leitor simpatizar com o protagonista, pois o público está acostumado a se identificar com heróis. Durante a leitura de Condicional cria-se uma relação de desejar acompanhar a vida, os conflitos dramáticos e as besteiras do protagonista, da primeira até a última página do livro, ao mesmo tempo em que não é possível derrubar uma lágrima por ele, tamanha a sua cara-de-pau, frieza e estranhamento. Ao mesmo tempo em que o narrador descreve sua história de amor e ódio, mal ele se dá conta – ou talvez não se importe com o que os outros pensam – que ele foi condenado pelas suas atitudes e que os leitores gostam de suas aventuras por curiosidade e esperança de que Lucas possa melhorar, não de que ele possa comover nem mesmo a própria consciência.

Se Lucas não é digno de pena e Jota com suas escolhas erradas também não toca ao leitor com o seu mundo de drogas e criminalidade, os amigos – favoritos efeitos colaterais das falhas de caráter do protagonista – sabem de que tudo há limites. Thais mesmo sendo divertida e independente tem uma personalidade parecida com a de Lucas, mas não chega a ser tão destrutiva quanto ele. Já Vitor é o típico personagem retratado em narrativas com temática gay, mas geralmente no papel de protagonista – o romântico utópico e bonzinho que mesmo quando faz algo errado, é perdoado pela sua inocência e docilidade.

É engraçado como os ideais distorcidos de Lucas e o seu envolvimento com Jota não surpreendem tanto quanto poderia, quando na vida é fácil encontrar pessoas que fazem de tudo para suprirem suas carências emotivas e preencherem seus vazios com mais vazios, tudo em nome de um amor. Amor que nem sempre é amoroso e saudável, mas marcado pela paixão burra, cega, surda e muda. Quando a atração sexual e instintos ganham vida própria e a cabeça se torna um mero ornamento. Até que a pessoa se toque que, na verdade, vive uma ilusão, arquitetada pelas suas próprias expectativas, desejos e fantasias, ela está condenada à infelicidade e nem mesmo sabe disso. E como muitos condenados, a pessoa corre o risco de repetir os mesmos erros de novo e de novo, até perceber que não foi vítima, mas o único culpado por estragar com a própria vida, em troca de sentimentos baratos.

Condicional é o primeiro romance do escritor Paulo Sérgio Moraes. Uma estreia marcada por acertos! É possível perceber como sua experiência com teatro e cinema o ajudaram a tornar a narrativa mais interessante, notando o cuidado com a escrita e com a experiência de quem está lendo, como se nenhuma palavra estivesse fora do lugar e não houvesse nada em excesso e nem em falta, dosada na medida certa. Paulo Sérgio Moraes prova que independente da obra e personagens serem gays, nada impede que a literatura seja de qualidade e possa impressionar qualquer pessoa, independente de sua orientação sexual, visto que diante de questões universais e pontos que deixam a história irresistível, um homem gostar de outro homem torna-se mero detalhe. Tão encantador quanto o adorado e aclamado O Terceiro Travesseiro, do escritor Nelson Luiz de Carvalho, a narrativa repleta de conflitos dramáticos e cenas de ação tem muito potencial para ser adaptada ao cinema e teatro.


Sobre o autor – Paulo Sérgio Moraes é natural de Juiz de Fora e reside atualmente na cidade de São Paulo. É formado em Cinema e tem 15 anos de experiência em teatro, no qual foi autor das peças “Era uma vez uma farsa”, em cartaz por dois anos em Minas Gerais e do musical “Marina e o Anjo”, além de outras produções para as Cias D’amantes, Criarte e uZina de anjos. Também escreveu e produziu diversos roteiros para produções audiovisuais.

Condicional pode ser comprado pelo site do escritor Paulo Sérgio Moraes. Para mais informações, confira a página no Facebook de Condicional.

*Texto: Ben Oliveira

Comentários

  1. ótimo livro. Fiquei presa na leitura do começo ao fim, me surpreendi com o final... Parabéns Paulo e que este seja o primeiro de muitos outros!!!

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    Respostas
    1. Gianna, também não quis soltar o livro até terminá-lo. A narrativa é fantástica! Abraços e obrigado pelo comentário!

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    2. Assim que conseguir pegar meu livro de volta ( que está rodando com a familia) eu vou ler de novo!!! rs

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    3. Emprestar livros é ótimo, o problema é quando sentimos essa vontade de reler!
      Aproveite a releitura. Em breve rola uma entrevista com o autor aqui no blog!
      Abraços

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