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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Resenha: A Festa – Felipe Sales Mariotto

A Festa marca a estreia literária do autor e médico carioca, Felipe Sales Mariotto. O livro de 336 páginas foi lançado em 2014, pela Editora Multifoco, no selo Desfecho Romances, e conta a história de Richard, Italo e seus amigos, um grupo de modelos que, após um acidente, vê suas vidas se transformarem.

Livro A Festa, Felipe Sales MariottoSó pela capa instigante do livro dá para ter noção do que o leitor pode aguardar. No entanto, é preciso levar em conta que a mesma hipervalorização da beleza pode ser tão destrutiva quanto deslumbrante. O próprio poema escrito por um dos personagens e transcrito no texto da contracapa de A Festa faz menção aos conflitos vividos pelos modelos: “Maldita e Gloriosa”, que você pode conferir no final deste texto. As duas palavras do título do poema definem muito bem as sensações vividas pelos jovens, atraentes e descolados, do início até o fim do livro.

A mensagem do romance é clara: “A beleza é efêmera”. Porém, há tantas questões que podem ser refletidas ao ler A Festa. Se a sua vida toda tivesse sido construída sempre na valorização da aparência, o que você faria se sofresse um acidente e deixasse de ser o belo modelo que costumava ser? Este é o conflito principal do protagonista. Richard que era um lindo modelo, namorado de Ítalo, e sempre foi elogiado pela sua beleza, de uma hora para a outra viu o seu mundo virar de cabeça para baixo após sofrer um acidente.

“’Meu Deus do Céu! O que é isso? Meu Deus, meu Deus!’. Colocou rapidamente o espelho debaixo do travesseiro, como se isso fizesse sumir a cena de terror que terminava de presenciar. Franziu a testa, cerrou os olhos e os punhos e desejou ter morrido” – Trecho do livro A Festa, de Felipe Sales Mariotto, p. 69

O leitor mais ingênuo pode achar nas primeiras páginas que o livro seja uma homenagem à beleza, mas para quem sabe ler nas entrelinhas logo percebe que o romance está recheado de críticas ao modo de vida não só dos profissionais da moda, como também das pessoas comuns, no qual a estética é valorizada e a ética, muitas vezes, é deixada de lado. O conflito popular da pós-modernidade: Parecer x Ser. Todo remédio pode se transformar em veneno de acordo com a dose. Felipe Sales Mariotto escreveu uma história evidenciando o lado sombrio e perturbador de quem faz a sua existência girar ao redor de algo que foge ao seu controle. Aliás, todas nossas aflições por coisas que não podemos mantê-las para sempre são a causa de muitos dos sofrimentos dos seres humanos.

Seria bobagem dizer que só a sociedade atual dá mais valor às coisas efêmeras do que deveria, mas parece ser consenso que nesta pós-modernidade, vivemos mergulhados nas incertezas que nós mesmos buscamos.  Como é possível não percebemos que estamos buscando elementos que podem mudar a qualquer momento e por causa do nosso excesso de apego acabamos nos machucando? Em A Festa, por exemplo, um grupo de belos modelos (o que, geralmente, pode ser um pleonasmo, já que se pressupõe que eles sejam lindos) precisa aprender a lidar com o vazio. Aliás, algo que me preocupa nos dias atuais é como as pessoas procuram se sentirem preenchidas quando se alimentam do vazio.

Além do protagonista, Richard, com o qual não consegui simpatizar. Personagens problemáticos costumam ser fascinantes, mas quando são coitadinhos, dá vontade de largar a leitura. Ítalo por sua vez, acaba roubando a cena, e mesmo com suas canalhices se torna um personagem com o qual você gostaria de acompanhar. Após sofrer um acidente de carro, Richard perde a vontade de viver e a sua existência passa a ser marcada pela sede de vingança. É engraçado como ele se comporta assim só depois que perde o que tinha de “mais valioso”.

Felipe Sales Mariotto desenvolve uma trama bacana para abordar esses desejos ilusórios. Não é preciso conviver com modelos para perceber essa contemplação do vazio, basta abrir o Facebook ou qualquer rede social de sua preferência, para ver como todo mundo quer mostrar que é feliz, bonito, tem boas condições – mesmo que na vida real não seja exatamente assim. O clímax da história demora para chegar e se torna maçante acompanhar um protagonista que além de se fazer de vítima, também é inerte. O antagonista cresce bastante ao longo da história, por vezes não me perguntei se Ítalo não deveria ter sido o protagonista, e não o pobre Richard, preso em um mundo de ilusões com o qual ele mesmo entrou e parece não conseguir perceber que se está na pior, ele é o único culpado.

Além de Richard e Ítalo, o leitor também conhece Pedro, Bella e Pablo. Enquanto Bella, como o próprio nome indica, é linda e talvez tão fútil quanto Ítalo, o namorado dela, Pedro parece ter os pés no chão e sabe que a carreira de modelo é temporária em sua vida e começa a estudar engenharia – embora, perto de Bella, Pedro pareça um mero fantoche. Pablo que era um dos grandes amigos de Richard, não tem muito peso na história, me arrisco a dizer que se ele fosse cortado do livro não faria tanta diferença.

A Festa tem 55 capítulos. O texto é bem claro, no entanto me arrisco a dizer que alguns termos poderiam ser trocados. Por exemplo, apesar do autor do livro ser um médico, quando o leitor está mergulhado na história esta relação entre autor e narrador se dissolve. Outro conselho seria o de mostrar mais e contar menos (show, don’t tell), algo que muitos escritores iniciantes têm dificuldade para assimilar e exige prática. As descrições detalhadas da história estão bem legais, fazendo o leitor viajar pelas ruas do Rio de Janeiro e de Paris, porém, às vezes, é preciso deixar quem está lendo tirar suas próprias conclusões e decidir se tal personagem é fútil, babaca ou simpático.

Quando o vilão ganha a simpatia do leitor, mas não é a intenção há um problema. Ítalo abandona Richard para ir atrás do seus próprios sonhos, motivado pela sua futilidade e pela necessidade de provar que é a melhor versão de si mesmo. No entanto, quando ele retorna e acaba tentando melhorar, Richard coloca em prática os seus próprios planos e deseja brincar de Nemêsis, a deusa da Vingança. O ponto alto da história acontece nos últimos capítulos do livro, na qual o protagonista quer dar uma lição não só em Ítalo, como em qualquer pessoa que faça parte daquele mundo vazio.

Sou um escritor um pouco mórbido, então, nem preciso dizer que adorei o clímax da história. As partes finais do livro são as melhores. Do começo ao final de A Festa, o leitor acompanha os círculos viciosos dos personagens. Os personagens secundários não se desenvolvem muito, e só mostram como esse sistema é difícil de ser quebrado. Para quem gosta de associar ficção à realidade, reconhecerá as personalidades dos personagens em pessoas de carne e osso, independente de serem modelos ou não. Essa necessidade de parecer melhor do que os outros, de estar sempre atraente e parecer feliz são dissecadas no livro. E se a vida não se encaminha para mostrar que tudo pode ser diferente, há sempre um louco para provar o seu ponto de vista, vítima de uma sociedade doentia da qual ele escolheu participar, mas se viu sem saídas por causa do seu forte apego à própria aparência e ao ex-namorado.

Não se engane se esperava que A Festa teria um final feliz. Pode até ser que no mundo real consigamos disfarçar muito bem nossos anseios e mesmo ao encarar alguém belo e vazio, nos iludimos e ficamos com aquela sensação de que o gramado do vizinho é sempre mais verde. Quem olha para um modelo, por exemplo, não imagina que ele ou ela tenha tantos problemas de insegurança, como você. Gostei muito da revelação de Ítalo sobre o seu passado, embora não revele aqui para não estragar a surpresa do leitor – novamente, acabou o tornando mais simpático do que o próprio protagonista que não percebe a ironia de querer destruir algo que ele mesmo acreditou a vida toda. Vítima e agressor se transformam em uma pessoa só. Nada de desapego ou aceitação, Richard prefere lutar com as próprias armas, recriando o seu círculo vicioso.

Para finalizar, gostaria de agradecer ao autor, Felipe Sales Mariotto, pela oportunidade de ler o seu livro e resenhá-lo para o blog. Creio que livros com personagens gays devem se tornarem mais constantes na vida dos leitores para ajudar a diminuir o preconceito. Ao longo do livro, o leitor também se maravilha com alguns poemas escritos pelo protagonista, o que ajudam a enriquecer a história. Uma resenha não consegue abordar toda a complexidade de uma obra, no entanto espero ter despertado o seu interesse.  Com pequenas alterações, o texto se tornaria mais agradável de se ler, porém o conteúdo faz toda a diferença.

Mais do que entreter, A Festa, um livro sobre a maldita e gloriosa beleza, abre os olhos para questões que, muitas vezes, são esquecidas e consideradas normais na sociedade em que vivemos, mas que pode ser responsável por deixar as pessoas doentes (e até mesmo, enlouquecidas). Além da homossexualidade e das ilusões do universo da moda, o livro também toca na ferida do mundo de plástico, do aborto, das drogas, da traição, do sexo, do glamour e da ambição pela fama e dinheiro – a combinação explosiva para os sofrimentos.

Para quem ficou interessado, segue o texto da contrapa de A Festa:

Maldita e Gloriosa

“Traços perfeitos em auras nada angelicais.
Maldita sedução da beleza!
Ávidos pelo prazer.
Sonhos de consumo.
Sua embalagem é o poder.
Tênue suprassumo.
Maldita sedução da beleza!
Juventude é companheira.
Do tempo, inimigo
Magnífica pintura passageira
No corpo, seu abrigo
Maldita sedução da beleza!
Mesmo os matemáticos, com suas simetrias.
Mesmo os livros, com seus príncipes e princesas.
Mesmo a História, com suas lendas e mitos.
Mesmo o bisturi, com sua plástica destreza.
Mesmo a sorte, que te sorri primeiro.
Mesmo a paixão, com suas sutilezas.
Apenas os cegos e loucos não te invejam.
Presente caro da natureza.
Maldita e gloriosa beleza!”.

Sobre o autor – Felipe Sales Mariotto nasceu no dia 18 de janeiro de 1980, na cidade do Rio de Janeiro. É médico, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e marcou sua estreia literária com o romance A Festa.

A Festa pode ser encontrado em algumas livrarias na versão impressa ou digital (eBook): Saraiva, Clube de Autores, Livraria da Travessa, Amazon, Livraria Cultura e no site da Editora Multifoco.

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