O livro
Contos de Ocasião traz textos selecionados no
II Concurso Literário da Big Editora, em 2013. A coletânea foi organizado pelo editor Marcos Cavalheiro e publicada em São Paulo. Com 152 páginas, são
20 contos, de
20 autores brasileiros e portugueses, incluindo o colega e escritor
Tales Gubes, o qual sorteou a obra em
seu blog e me enviou um exemplar.
O que mais gosto em uma
coletânea de contos é a possibilidade de ler várias histórias curtas e viajar dentro de cada uma delas. Confesso, prefiro quando a obra define qual será a temática abordada, por causa da afinidade e pelo diálogo entre os textos. Felizmente ou infelizmente, não foi o que aconteceu no livro: exceto pelos títulos das narrativas. Cada texto é uma surpresa e como sempre acontece, há aqueles escritores que conseguem cativar os seus leitores e fazê-los entrar na pele dos personagens; e outros que não te marcam tanto e do início ao final da leitura, pouco se transforma, tanto dentro da narrativa quanto dentro do leitor.
Meu conto favorito do livro foi
"A insólita morte de Ernesto Nestor", do autor
Tiago Feijó. Enquanto lia, a narrativa fluía de tal forma, que mesmo sendo um dos maiores contos presentes na coletânea (com 14 páginas), fui levado pelo protagonista a um passeio pela sua memória. O texto com a história de um escritor com muitas publicações, aclamado pela crítica e pelos leitores, que, no entanto, sente que ainda não sangrou o suficiente em seus romances e precisa de um livro que o imortalize. Logo no primeiro parágrafo o leitor tem uma informação importante:
“O homem que vemos em pé no centro do vasto cômodo que lhe serve de biblioteca chama-se Ernesto Nestor, e sua morte é próxima”.
Fui fisgado por este
gancho. Depois de ficar preso nas teias da narrativa, o desenvolvimento do conto continua surpreendendo. Não sei se fiquei tão fascinado por causa do nome do escritor e por tê-lo associado ao do
escritor argentino Ernesto Sabato ou o relacionado a tantos outros autores que possuem obras de qualidade literária e ao mesmo tempo, lidam com a autocrítica. Não é novidade que o protagonista vai morrer, afinal, é uma informação dada desde as duas primeiras linhas, todavia Tiago Feijó conduz o leitor até o final, como numa dança, de forma encantadora.
Para quem gosta de
escrita e processo criativo, é legal acompanhar a história dentro da história, do personagem Hermeto – um anagrama da morte! –, criado pelo Ernesto. Confira meu trecho favorito do conto A insólita morte de Ernesto Nestor:
“’Sou um escritor mediano’. Quanto mais escrevia, e quanto mais o público o esgotava nas livrarias, e quanto mais os críticos o enalteciam, e quanto mais a Academia o imortalizava, mais Ernesto Nestor sentia-se afastado daquilo que o pudesse realizara como escritor, da obra de arte visceral e genuína, arrancada de dentro dele como se fosse um coração vivo e pulsante. E este sentimento de incompletude foi a aflição medonha e desumana que se instalou e cresceu em Ernesto Nestor a cada livro publicado. Instalada e crescida, foi com esta aflição encontrá-lo hoje, mirando a regra noite através da vidraça, onde se insinua um esmaecido reflexo dos seus olhos apagados...”.
Gostei muito de
"O Terceiro Passo", do
Tales Gubes Vaz. Sabe quando você lê um conto e além de se identificar com o protagonista, o pensamento cruza a sua mente:
“Uou! Isto é algo que eu escreveria.”. Então, foi assim que eu me senti ao ler a história sobre um artista obcecado pela ideia de pintar a morte, presente em todas suas produções, com problemas familiares. Narrado em primeira pessoa, o conto apresenta o personagem sem nome, mas com uma personalidade marcada pelos conflitos internos que faz o leitor se interessar por quais serão, literalmente, os próximos passos dele. Confira meu trecho favorito do conto O Terceiro Passo:
“Arte é choque, espanto, ruptura. A minha arte é feita por desenhos e pinturas. Elas em si não chocam, realmente. São todas temáticas: a morte permeia todas as minhas criações. Talvez seja um desejo profundo de matar meu pai, a pessoa que me ensinou através do exemplo o que significa ser um fracassado. Isso é irônico, porque uma vida aparentemente sem sentido como a dele deu luz à minha”.
O artista completou dois passos e está prestes a tomar o terceiro. O final proporciona ao protagonista a resolução de todos os seus conflitos e sua realização. Confesso que apesar de imaginar como o conto terminaria, fiquei impressionado. Gostei bastante de conhecer esse lado sombrio das narrativas do Tales, visto que sempre acompanho o blog dele e juntos participamos de duas
coletâneas de contos – das histórias escritas por ele que eu li, esta foi a que eu mais gostei.
“Enquanto tranco a porta, já no corredor do prédio, lembro do mundo que me espera e da falta de sentido da maior partes das coisas”.
Os contos
“Decidi ser um escritor ruim”, do
Victor Teixeira de Queiroz e
“As províncias do Abismo”, do
Thiago Galdino, têm como protagonistas
escritores. No primeiro, o personagem lida com o dilema de perder a amizade por causa de uma boa história para contar; enquanto no segundo, o protagonista vai para um inferno, onde é atormentado por personagens mal escritos. As duas histórias me divertiram e fizeram refletir sobre minha própria escrita.
“Cinthia”, do
Marcelo Maio Coelho, traz um personagem que está sempre mudando de aparência, involuntariamente, e enfrenta uma série de problemas, como a de comprovar sua identidade, se sentir uma aberração e sofrer por não encontrar ninguém possa gostá-lo dele assim. Já
“Hoje eu matei uma mulher”, da
Bárbara Luisa Martins Wieler, conta a história de uma mulher que matou outra e como a morte a fez refletir sobre a própria vida. O título por si só é um gancho bacana que me fisgou. Meu trecho favorito do conto foi:
“Era apenas um corpo inerte no meu colo. Qual é o fio invisível, finíssimo e delicado que separado o existir do não mais? Há um minuto, ela respirava, sonhava, planejava. No outro, nada mais. É ridícula a fragilidade do humano. Risível. Somos feitos de papel. Um suspiro e tudo se acabou.”
“A Presença”, da
Sonia Regina Rocha Rodrigues, e
“Limite”, da
Carolina Rieger Massetti, são envolventes. Os dois contos abordam a necessidade que os protagonistas sentem do afeto, de uma boa companhia. No primeiro, a personagem fica obcecada pela ideia de que tem um irmão gêmeo; no outro, uma mendiga que já não sabe como é se sentir mulher por causa de sua condição, decide investir suas energias e tentar a sorte com o seu benfeitor.
“O Folhetim da Puta Santa”, da
Zainne Lima Matos, e
“Boneca”, do
Reinaldo Costa de Alburque, têm um tom de humor negro. As duas histórias entretêm o leitor e impressionam com suas reviravoltas. Na primeira, uma personagem que está sempre se apaixonando acaba pagando o preço pelo excesso de confiança, sem conhecer direito o seu parceiro; enquanto na segunda, uma mulher contrata um detetive para descobrir com quem o seu marido está envolvido.
As tragédias estão presentes na maioria dos contos. A morte, seja por doença, acidente, suicídio ou intencionalmente – como na última história do livro
“Outro Mundo Produções Artísticas”, na qual o protagonista descobre que está prestes a receber um convite que vai transformar sua vida.
Confira a lista de autores e seus respectivos contos: Alexandre Juliete Rosa (Uma Estranha Mania); Victor Teixeira de Queiroz (Decidi ser um escritor ruim); Marcelo Maio Coelho (Cinthia); Felipe Cattapan (Traduzir Kafka); Wilson de Albuquerque Cavalcanti Franco (As ondas que quebram na praia); Victor Manuel Capeta Batista (A magia do vinho de uva); Tiago Feijó (A insólita morte de Ernesto Nestor); Sonia Regina Rocha Rodrigues (A presença); Carolina Rieger Massetti (Limite); Célia Chamiça (Mariana); Zainne Lima Matos (O Folhetim da Puta Santa); Tales Gubes Vaz (O Terceiro Passo); Reginaldo Costa de Albuquerque (Boneca); Bárbara Luisa Martins Wieller (Hoje Matei uma Mulher); Anna Maria Vasconcelos de Paula (O Banheiro); Thiago Galdino (As províncias do abismo); Gilberto Garcia da Silva (Viajantes); Caio Henrique Solla (A última aventura do capitão Steven Sorrow); Camila Carvalho (O paciente); Carlos Eduardo Pereira (Outro Mundo Produções Artísticas).
Para quem se interessou, a coletânea de contos pode ser adquirida no
site da Big Time Editora.
Sobre a editora – A
Big Time Editora chegou ao mercado editorial em 2012 com a perspectiva de lançar livros de qualidade. Para isso investiu em
Concursos Literários, promovendo a descoberta de novos e ótimos autores de contos e poesias espalhados por todo o Brasil e até no exterior.
Puxa, obrigada pela crítica. E por divulgar o trabalho meu e dos outros participantes desta antologia.
ResponderExcluirSonia, fico muito feliz que tenha gostado! E que tenha achado o meu post sobre o livro.
ExcluirAbraços!
Ben, grato pela resenha e pela divulgação. Incrível ler seu texto sobre o meu conto, sua afinação com a estória. Gostei. Tiago Feijó. Estou publicando um livro de contos e quero mandá-lo pra você. Me escreva: feijoune@yahoo.com.br
ResponderExcluirOi, Tiago. Muito feliz que tenha encontrado o blog. Agradeço pelo interesse e pela visita.
ExcluirPode deixar que entrarei em contato.
Abraços