Devorei o
livro de crônicas As 7 Cores que Amei, do escritor e jornalista
Occello Oliver, publicado pela
Alma G Edições, em 2014, e lançado no
Rio de Janeiro, cidade onde o autor vive e a qual é cenário de grande parte dos seus textos. A obra apresenta uma mistura de
nostalgia e inocência com o
desenvolvimento da personalidade e maturidade, de vivências dentro do
meio gay, que não limitam as narrativas, pelo contrário, deixam as
histórias mais coloridas e ricas em emoções e sensibilidade.
Foi com prazer que tive o meu primeiro contato com os textos do Occello, através do qual pude conhecer sua essência, suas verdades, tristezas e alegrias. Suas crônicas transportam o leitor para alguns retalhos de sua vida, e eu diria que através dessas histórias é possível enxergar sua alma melhor, permitindo a identificação entre autor e leitor e uma viagem para suas memórias.
“A vida tem momentos marcantes e quase não dá tempo de perceber o que aconteceu. A memória, que muitas vezes me traiu e me deixou na mão, me presenteou com doces lembranças durante a elaboração deste trabalho. Foi a primeira arma que utilizei, juntando caquinhos da vida espalhados por diversos caminhos e originando uma escultura gigante”.
Dizem que aprendemos com cada uma de nossas experiências. Longe de tentar ensinar ao leitor o que é certo ou errado, num tom professoral, Occello Oliver compartilha alguns fatos marcantes de sua vivência e cabe ao leitor tirar as suas próprias conclusões, pois no final estamos sempre crescendo, descobrindo coisas novas e nos transformando. Usar os conhecimentos de nossas bagagens podem sim nos ajudar a evitar a cometer os mesmos erros do passado e a evoluir, mas sabe aquela história de aquela frase batida do Paulo Coelho: “Uma coisa é você achar que está no caminho certo, outra é achar que seu caminho é o único!”? A viagem é de ida e volta, e a sensação que dá ao concluir a leitura é a de que estivemos em alguns lugares frequentados pelo autor, revivemos seus passados, como se fossem os nossos próprios, sofremos e vibramos com suas vitórias, no entanto, cada um tem sua jornada e precisa cometer os seus próprios erros.
São 47
crônicas gays deliciosas de se ler. Cada texto dá direito ao leitor a uma lembrança diferente do cronista. Gosto de imaginar cada narrativa como um retalho. No início, o leitor ainda está mergulhado na ignorância, neste universo íntimo e desconhecido do outro que não parece fazer muito sentido, e por que faria, quando você nem mesmo conhece o autor ao vivo? Bastam, porém, algumas páginas para que você se torne um confidente de Occello, descubra algumas de suas paixões (platônicas ou não); a maneira que ele enxerga os relacionamentos no universo LGBT, que nem sempre valoriza como as pessoas são, mas o que elas possuem (corpo bonito, dinheiro, estilo), elementos efêmeros que podem levar os pombinhos contemporâneos a uma jornada vazia; a maneira que ele aprecia seus amigos e sabe que nesta cumplicidade é preciso saber os momentos de se divertir, de deixar o outro descobrir as mentiras de seus parceiros por conta própria e entregar o melhor de si, sempre com muita alegria e companheirismo.
“Adoro aquele momento do encanto e da paixão, aquela sensação que vem logo quando conheço alguém. É como se eu me renovasse, estando pronto para qualquer desafio. Não sinto medo de nada e com certeza também não há nada que estrague minha alegria e bem-estar”.
A cada retalho que o leitor vai juntando, possibilita-o ganhar o seu prêmio ao final da leitura, uma colcha linda, toda colorida. Ao presenciar as recordações do escritor, inconscientemente nos lembramos de histórias parecidas que tivemos, ou até mesmo as que nada tinham em comum, mas permitiram enriquecer nossas experiências. Há um diálogo entre as narrativas do autor e do leitor, uma troca de sonhos, expectativas, machucados, felicidades e amores. Como é bom ler o outro, aprender com ele e depois descobrir que, na verdade, estamos nos dando a oportunidade de fazer o nosso próprio resgate, desencavando nossos baús de tesouros, onde nem tudo é ouro, escondemos algumas cicatrizes da alma, mas toda memória é valiosa, todo momento é único e até mesmo das lembranças amargas pode-se extrair um pouco de mel.
Recomendo a leitura de As Sete Cores Que Amei para quem gosta de crônicas, vive ou já desejou morar no Rio de Janeiro e sabe apreciar a diversidade sexual. Independente de o autor ser gay ou não, vale a pena ler, já que Occello Oliver expõe sua alma e, involuntariamente, faz um convite ao leitor para que faça o mesmo, reviva acontecimentos marcantes de suas vidas e garimpe o que há de bom. Afinal, mesmo o amor que não vingou e a paixão que se desfez proporcionaram momentos de verdadeira alegria e iluminação, mesmo que temporariamente. É neste clima de alto astral que o cronista proporciona um pouco da beleza das sete cores do arco-íris.
“A morte faz refletir. A perda repentina de alguém causa dores que dilaceram o coração. Quando alguém vai embora para o outro lado, apesar de tristeza que parece ser infinita, aceitamos o fato e acreditamos na ideia de que a vida continua. Mas quando se trata da perda de um amor, a dor parece ser eterna, indo além das estrelas”.
Sobre o autor – Occello Oliver nasceu no Rio de Janeiro em 1972. É jornalista, relações públicas, produtor de eventos e sócio e editor dos selos Alma G Edições e Lado B Edições. É também editor e redator do Grupo Oliver Blog. Autor do livro
Fora do Armário e coautor e editor da coletânea de contos eróticos
Censurado – Sexo, Taras e Fetiches.
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