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Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

Resenha: Graham: O Continente Lemúria – A. Wood (Vinícius Fernandes)

Graham: O Continente Lemúria foi escrito por A. Wood, pseudônimo do autor brasileiro Vinícius Fernandes, publicado pela Editora Selo Jovem, em 2014. O livro de fantasia, de 208 páginas, conta a história de Peter Graham, um rapaz gay que se tornou caçador de vampiros e encara sua jornada marcada por tragédias, paixões e muita ação.

Gays, caçadores, vampiros e lobisomens. Uma mistura que me agradou! ;-)

A história é narrada em primeira pessoa pelo próprio protagonista, Peter, mas também conta com alguns flasbacks narrados em terceira pessoa. Este vai-e-vem entre presente e passado, para mim, torna a história mais interessante, fazendo o leitor encontrar mais elementos para se identificar (ou não, já que essa afinidade é muito pessoal) com o personagem. Eu gostei, já que sem esse passado de Graham, não dá para entender suas motivações para caçar vampiros ou como ele descobriu a sua homossexualidade.

“Essas criaturas malditas existem. São tão reais quanto qualquer pessoa. Elas existem, estão entre nós, e eu odeio todas elas. Quero vê-las mortas, torturadas, dizimadas. Estou aqui apenas para isso. Aniquilá-las uma por uma”.

Desde que Graham manifesta sua opinião sobre vampiros, senti certa agressividade. Fiquei pensando: “O que poderia fazê-lo sentir tanta raiva assim de vampiros? Seria uma metáfora relacionada à sua própria sexualidade mal entendida? Sentir a vontade de destruir no outro, o que não gostamos na gente?”. Então, ao longo das páginas, a história vai se desenvolvendo e a personalidade do protagonista deixa de parecer tão exagerada e se torna aceitável aos olhos do leitor.

Confesso que, nas páginas iniciais, houve um momento da leitura em que pensei: “Ah, mais uma história de vampiros. Que previsível!”. E aqui fica a dica para qualquer leitor que possa se interessar por Graham, a narrativa te surpreenderá em vários instantes. Começando pelo fato do protagonista ser gay e um caçador de vampiros. Quantos livros assim são encontrados na livraria? Dos livros de fantasia com personagens gays, quantos foram escritos por autores brasileiros? Pois é, Vinícius Fernandes, ou melhor, A. Woods conseguiu juntar essas duas temáticas em um só romance, sem pender só para um dos lados. Acredito que obras assim podem ajudar a diminuir a homofobia e o preconceito de forma geral, abordando o assunto de forma aberta – aliás, a própria série literária Harry Potter, no qual o protagonista sofre discriminação em sua própria família, no primeiro livro, por ser ‘anormal’, e não é explorado tão explicitamente, já tem provado ser uma boa ferramenta para melhorar a sociabilidade entre os jovens.

O primeiro cenário descrito no livro é uma boate no Canadá, onde Graham está à procura de um vampiro. Não vou contar a história toda para não estragar a surpresa, mas como é de se esperar, essa criatura sanguessuga aproveita sua sensualidade para se aproximar de suas vítimas. Esqueça os vampiros bonzinhos propagados pela Stephenie Meyer, da saga Crepúsculo ou os vampiros que possuem autocontrole, escolhendo quando são malvados ou descolados, da L. J. Smith, popularizados nos livros Diários do Vampiro, adaptados para a série televisiva The Vampire Diaries. Os vampiros de Graham: O Continente Lemúria são cruéis e são responsáveis pelas sombras na personalidade de Graham.

“Encarei aqueles lindos olhos azuis e me aproximei da boca que sorria para mim, tocando-a com meus lábios e sentindo seu sabor e calor. Abraçamo-nos enquanto nos beijávamos e, durante aquele instante, senti-me leve e esqueci-me por um segundo da missão que tínhamos pela frente”.

Nos flashbacks de Graham, o leitor acompanha a amizade dele com Lílian, sua melhor amiga; e como ele conhece Jordan, um rapaz gay que faz a vida dele se transformar. Ainda é possível conhecer os irmãos dele: Sally e Patrick, sendo ela mais nova e simpática (Sally, mesmo sem aparecer muito, criou uma empatia forte) e o irmão mais velho homofóbico (quando acontece uma reviravolta, achei a justiça poética mais do que necessária– libertadora, catártica). Por ser filho do meio e gay, em alguns momentos me coloquei na pele do Graham, nos diálogos recheados de homofobia, retornando a uma época da minha vida em que eu precisava me esconder e mentir aonde ia ou com quem estava – assim como o protagonista.

Entre reviravoltas bem colocadas no meio da história, o autor consegue entreter o leitor, fazendo-o se surpreender com o rumo das coisas. A diferença entre o antigo Peter e o novo, frio e destemido; a obrigação de enfrentar inimigos desconhecidos, os lobisomens; o surgimento de uma paixão inesperada e a descoberta de um segredo que poderá ser sua total salvação ou destruição.

 “Obrigado por resgatar uma parte boa de mim que se perdera dentro de toda minha escuridão...”.

Para aqueles que decidirem se aventurar nesta jornada, já aviso que o caminho é cheio de reviravoltas! Confesso que me surpreendi várias vezes e me emocionei com o epílogo. Bom, melhor não falar muito e deixá-los decidir por conta própria... Só tenho a adiantar que o final deixou um gostinho de quero mais, me fazendo imaginar uma possível continuação. "E o Continente Lemúria?", você me pergunta. Não posso revelar para não acabar com uma das principais revelações.

Mesclando um estilo realista (e também romântico) na vida de Graham antes de se tornar caçador de vampiros com a fantasia após suas transformações, o protagonista vai se desenvolvendo internamente e adquirindo mais experiência aos poucos, sem se tornar exageradamente super-herói da noite para o dia. Quanto aos conflitos finais, eles prendem o leitor até saber como a história vai terminar, arrancando possíveis suspiros e gritos.

Graham: O Continente Lemúria tem romance, aventura e fantasia e é um dos livros lançados em 2014 que me impressionou, principalmente por estar por dentro do mercado editorial LGBT brasileiro e ver que ainda são necessários muitos Grahams, para diminuir o preconceito contra obras com temática gay. Fica aqui o meu agradecimento especial ao Vinícius Fernandes pela oportunidade de ler e resenhar o seu livro e os meus parabéns pela coragem de escrever e publicar um romance tão bacana, que independente da orientação sexual de quem estiver lendo, consegue cativar o leitor (apesar de eu não poder afirmar completamente, já que assim como o protagonista também sou homossexual, mas o que importa é que a boa literatura de fantasia rompe barreiras). O mais bacana nisso tudo é saber que o livro é nacional, uma aposta ousada e agradável de juntar o universo dos vampiros e lobisomens aos conflitos internos e paixões do protagonista gay – uma ideia fantástica, literalmente, na qual o homossexual é o herói e não um personagem secundário sem muito peso na história.

Livro com dedicatória é muito bom, né? Adorei!

PS: O livro será lançado no dia 8 de agosto, a partir das 18h30, na Livraria Martins Fontes, da Avenida Paulista, em São Paulo. Infelizmente, não poderei estar presente no evento, pois moro longo, mas se tivesse a oportunidade, sem dúvidas estaria lá prestigiando o autor! Vinícius, desde já, desejo todo o sucesso para o seu lançamento e deixo registrada aqui a minha gratidão pelo exemplar cortesia de Graham: O Continente Lemúria para resenhar para o blog do Ben Oliveira.

Sobre o autor – Vinícius Fernandes nasceu em São Paulo no dia 25 de fevereiro de 1992. Conheceu o mundo literário com 7 anos, depois de aprender a ler. Então, aos 12, criou sua primeira história, que se estendeu por uma trilogia não publicada. Também escreve contos que publica em seu blog pessoal (brenooficial.wordpress.com). Escrever desde os 12 anos de idade permitiu-lhe aprimorar suas habilidades até chegar a seu primeiro romance sólido, Graham – O Continente Lemúria, que assina sob o pseudônimo de A. Wood.

Formado pela Universidade São Judas Tadeu em Tradução e Interpretação, o autor atualmente mora em São Paulo, onde atua como professor de inglês, tradutor e intérprete.

Gostou? Se você mora em São Paulo, uma boa opção é comprar o seu exemplar de Graham: O Continente Lemúria ao vivo no lançamento, com um autógrafo do autor. Caso contrário, o livro pode ser encontrado no site da Editora Selo Jovem.

Graham está presente no Skoob e no Facebook!

Comentários

  1. Fica a dica: os dois primeiros capítulos (o mencionado, da boate) estão disponíveis no Wattpad do Vinícius para apreciação :)

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    1. Obrigado pela informação!
      Já é uma ótima forma do leitor ver se o livro pode interessá-lo ou não. Se bem que só pelas primeiras páginas nem sempre dá para ter noção.
      Beijos e volte sempre!

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  2. Olá, gostei muito da resenha do Continente Lemúria e quero ler.
    Obrigado pelas informações. Abraços

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    1. Oi, Artur!
      Fico muito feliz em ter ajudado.
      Gratidão pela visita e comentário.
      Abraços

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  3. Olá teria mais alguma indicação de livro com o protagonista gay em um cenário de literatura fantástica?

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    1. Olá, Leandro!
      Tenho uma novela curtinha no Wattpad chamada Enfeitiçado, caso tenha interesse. Segue o link: https://www.wattpad.com/story/86751026-enfeiti%C3%A7ado
      Abraços

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  4. Olá! Adorei a resenha do livro e pretendo lê-lo em breve. Abraços!

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