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Para onde vão todas coisas que não dissemos?

Para onde vão todas coisas que não dissemos? Essa é uma pergunta que muitas pessoas se fazem. Algumas ficam presas dentro de nós. Outras conseguimos elaborar em um espaço seguro, como a terapia. Mas ignorar as coisas, muitas vezes pode ser pior. Fingir que as emoções não existem ou que as coisas não aconteceram não faz elas desaparecerem. Quando um relacionamento chega ao fim, pouco importa quem se afastou de quem primeiro. Mas há quem se prende na ideia de que se afastou antes – em uma tentativa de controlar a narrativa, como se isso importasse. O fim significa que algo não estava funcionando e foi se desgastando ao longo do tempo. Nenhum fim acontece por mero acaso. Às vezes, quando somos levados ao limite, existem relações que não têm salvação – todos limites já foram cruzados e não há razão para impor limites, somente aceitar que o ciclo chegou ao fim. Isto não significa que você guarde algum rancor ou deseje mal para a pessoa, significa que você decidiu por sua saúde mental em pri...

Resenha: Maré Vazante e outras estórias – Alexandre Melo

O livro Maré Vazante e outras estórias, do escritor Alexandre Melo, de 112 páginas, foi publicado em 2013, pela Editora Escândalo. A obra traz diversos contos com temática gay, quase todos escritos em primeira pessoa, o que dão um tom intimista às narrativas, em uma mistura de memórias e fantasias, romantismo e erotismo.
Capa do livro Maré Vazante e outras estórias

Cada conto do livro provoca sensações diferentes no leitor: alguns deixam com um gostinho de nostalgia ao virar as páginas do livro, desejando que o conto não acabasse; outros são mais românticos, e despertam aquela vontade de estar junto do outro. No meio dessa mistura de histórias e estórias, também tem uma dose de fantasias amorosas e sexuais, com um pouco de humor.

São 12 contos no total, dos quais dois eu já tinha lido no livro Homossilábicas Vol. 2 (também publicado pela Editora Escândalo), mas que valeu a pena reler. Foi uma surpresa gostosa Maré Vazante e outras estórias, pois fui me deixando levar pelas histórias e tive que me controlar para não ler o livro todo em uma noite – aquela sensação conflitante de desejar devorar um livro e querer que o fim não chegue tão cedo!

Confira abaixo a lista de contos e um breve comentário sobre cada um deles:

– A Janela: O tipo de conto que te prende do início ao fim. Fui fisgado pelas primeiras linhas. A escrita flui de forma prazerosa. Uma ótima escolha de texto para abrir a coletânea!

“A chave entrou normalmente na fechadura e deu as exatas voltas que precisava dar, não mais, nem menos. Eu é que fiquei ali plantado, a encarando com medo do que ia me mostrar quando abrisse...”

– Bolinhas de Gude: O conto me fez refletir, reviver o meu passado e me surpreendeu com o final trágico!

– Não Segure a Minha Mão: Mais um conto gostoso de ler, parecendo com uma crônica, por causa de sua fluidez e maneira natural que é possível sentir o autor através das linhas.

– Consulta: Fantasia ou realidade, não importa, os devaneios do protagonista são envolventes, mesmo sabendo que suas escolhas podem machucá-lo.

– Maré Vazante: O tipo de história que é triste, romântica e emocionante. Um dos meus contos favoritos do livro! Um casal que se ama, mas precisa aceitar que o amor também é deixar se levar pelo mar.

– Hiroshi: Esse conto meu arrancou gargalhadas. Teve um parágrafo em específico que tive que ler e reler e a cada vez que fazia isso, ficava com mais vontade de rir. A história é sobre o envolvimento do narrador com um japonês.

– Paulo: O conto que surpreende o leitor durante vários momentos, seja em seu início idealista ou no final sádico! Um personagem carente que procura o amor a todo custo, mesmo sabendo que vai se machucar, já que o outro é garoto de programa.

“Meia-noite é puta, não tem dono e não casa com ninguém, trepa com as horas antecessoras e põe no mundo a madrugada”.

– O Não Sexo: Quando li este conto, o nome de um escritor não parava de gritar na minha cabeça “Franz Kafka!”. Uma narrativa que permite múltiplas análises sobre o protagonista e suas metamorfoses: a transformação da paixão, do amor, do prazer e de si mesmo. Sentir-se pequeno, diferente.

“Na porta do cinema, virou picolé. As pernas não se moviam e o cheiro que vinha lá de dentro carregou seus neurônios com lembranças putas de homens que fizera lá dentro, sexo que fizera até ficar mole. Não, era demais, ele, uma aberração, querendo sexo ali?”.

– Celso: Conto com uma reviravolta final instigante! Uma baita saia justa...

– O Sofá: A narrativa tem um toque de erotismo e fantasia, entre dois personagens que trabalham na mesma empresa.

– Clássico: Mais um conto erótico!

– Julio: Dos contos, Julio talvez é o mais longo do livro. Gostei muito da história sobre o envolvimento de um homem mais velho e de um mais novo, sobre escolhas da vida e fazer a coisa certa, mesmo que isso possa machucar. A história tinha potencial para se transformar num romance ou novela (gênero literário; não novela televisiva), pela sua complexidade.

Como eu já tinha lido e gostado de Maré Vazante e Não Segure a Minha Mão, se eu pudesse citar três contos que mais gostei no livro foram: A Janela, O Não Sexo e Julio. As narrativas do Alexandre são fortes, têm personalidade e seja para falar de romance ou de sexo, ele sabe como despertar emoções no leitor. Sem dúvidas, um autor que ajuda a enriquecer a literatura gay do Brasil, que ainda precisa crescer mais e enfrenta preconceito!

Escritor Alexandre Melo
Sobre o autor – Alexandre Melo nasceu e mora em São Paulo, capital. É apaixonado por livros, pelo centro velho da cidade, filmes antigos, tatuagens e boa comida. Escreve há algum tempo, mas apenas recentemente voltou sua escrita para o universo homossexual.

Espero que tenham gostado! Se ficou interessado, Maré Vazante está disponível no site da Editora Escândalo em sua versão impressa e ebook  

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