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Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Resenha: Fora do Armário – Occello Oliver

O livro Fora do Armário, do jornalista, relações públicas e escritor Occello Oliver, publicado em 2012, pela Metanoia Editora, de 126 páginas, aborda a questão da homossexualidade no Brasil, pincelando questões relacionadas à cultura gay, a homofobia, o amor, a história, a religião, a saúde e os direitos.

Com uma narrativa ágil e concisa, o livro surgiu de um projeto de monografa, desengavetado em 2004 e ressuscitado em 2010. As questões levantadas surgiram de pesquisas, leituras e entrevistas, além da própria análise do autor, como gay assumido e entendedor do universo LGBT.

Na sociedade brasileira, na qual o preconceito contra o homossexual ainda é grande, principalmente influenciado pelos discursos religiosos, Fora do Armário contribui para desmistificar um pouco sobre a vida dos gays, seus comportamentos e expectativas, avanços e retrocessos.

Dividido em 10 capítulos, cada um deles enfoca um aspecto diferente do universo colorido e complexo, como a discriminação sofrido por homossexuais que pode levar ao afastamento, depressão e suicídio; A questão da saúde, relacionamentos, sexo seguro e AIDS; Os encantos da noite gay; A comunidade gay e a comunicação; Os relacionamentos amorosos, a traição e a repressão imposta pelas igrejas; Os crimes contra os homossexuais e a prostituição; A estética gay, idealizações e fantasias; A presença de gays em produtos midiáticos, como filmes, séries, novelas e revistas e no universo cultural; A religião intolerante que prega o discurso do medo do inferno e suas interpretações errôneas; Para finalizar, a alegria dos gays e a importância de se valorizar o direito à vida e ao bem-estar.

A contribuição de Fora do Armário é a de ajudar a discutir questões relacionadas à homossexualidade que muitas vezes são deixadas de lado pelos próprios gays e pelos heterossexuais preconceituosos que tentam impor sua maneira de viver (heteronormatividade), tentando ditar o que é certo ou errado e condenando a comunidade LGBT através de suas visões limitadas e ignorantes.

Ao mesmo tempo em que o autor tenta abrir os olhos do leitor sobre a ignorância da diversidade sexual, ele também elogia, reflete e crítica algumas atitudes impensadas presentes entre os próprios gays que ajudam a reforçar os estereótipos: Todo gay precisa ter um corpo esteticamente bonito e ser bem vestido; Homossexuais não conseguem manter relacionamentos duradouros; A questão da traição e promiscuidade; As projeções e fantasias sobre o príncipe encantado e de que um casamento resolverá todos os problemas magicamente; Os perigos envolvendo garotos de programa, drogas e sexo sem proteção contra DSTs.

Vale a pena a leitura de Fora do Armário! É preciso levar em conta que dificilmente um livro conseguirá abordar toda a complexidade da diversidade sexual, mas nesses esforços de compartilhar mais informações e conhecimentos sobre o assunto, qualquer ação é mais importante do que ignorar esses debates que precisar acontecer sobre a sociedade, comunicação e o mundo LGBT. Assim como na leitura de qualquer livro, em que metade do esforço é do autor e a outra é a do leitor em interpretar o texto (exigindo uma bagagem cultural, contextualização, entre outros fatores), cabe a cada um refletir e buscar aprender mais sobre o assunto.

Sobre o autor – Occello Oliver nasceu no Rio de Janeiro, em 11 de novembro de 1972. Formou-se em Jornalismo e Relações Públicas, pós-graduado em Comunicação e Cultura, possui uma empresa de comunicação e eventos, a Oliver 4 Assessoria e Produções, é editor da Cultura em Letras Edições e Relações Públicas. Em seu primeiro livro, Occello escreveu sobre o complexo, midiático e misterioso mundo dos homossexuais brasileiros. Também é autor dos livros As 7 Cores que Amei e Censurado: Sexo, Taras e Fetiches.

Fora do Armário pode ser encontrado no site da Metanoia Editora! O livro também está presente no Facebook.

Comentários

  1. Gostei da resenha e da capa do livro. Sou completamente contra o preconceito seja sobre o que for. Todas as pessoas devem ser respeitadas pelo que são, pela sua Essência. Cada um sabe de si e vive da forma que mais lhe traz felicidade. Acho que isso que importa seguir a própria essência e viver feliz consigo mesmo. Não entendo porque tanta gente se importa com o que o outro faz ou deixa de fazer a ponto de ficar com ameaças, piadinhas, estereótipos e etc. Toda pessoa é única! A magia da vida é essa, a troca de experiências, a diversidade. Como as pessoas podem achar que devem se meter na vida dos outros e dizer como elas devem viver?! Realmente não compreendo isso, me parece algo muito irracional.
    Beijos

    http://www.gotinhasdeesperanca.com

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    Respostas
    1. Olá, Michele! Fico feliz que tenha gostado da resenha e capa. Adoro esse guarda-roupa com peças coloridas, mostra um pouco da diversidade e alegria do meio gay. Adorei o seu comentário e não poderia concordar mais. Essa sua visão é bela e deveria ser absorvida por mais pessoas, pois os homossexuais não são os únicos a sofrerem com o preconceito. Sempre ressalto a importância de combater a homofobia, pois as pessoas não têm noção do número de jovens gays que cometem suicídio, fogem de casa (e acabam se prostituindo), tudo isso, não só pela falta de apoio, mas pela falta de respeito. Ninguém precisa aceitar ninguém, porém precisa respeitar.
      Beijos e volte sempre!

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