Mudança de energia: às vezes é tudo o que você precisa para reequilibrar as coisas. De repente, você se dá conta em quanta atenção tem dispensado para uma coisa e/ou uma pessoa, uma energia que poderia usar para outras coisas, às vezes é algo tão automático, que você se esquece da importância de dizer não. Era muitas vezes ao não dizer não para o outro, que estava dizendo não para si mesmo. O problema era quando a impulsividade ganhava força e se sentia cada vez menos no controle da situação. Era, então, quando se lembrava da importância dos limites, não só do outro, mas de si mesmo. Pensava na quantidade absurda de tempo que gastava fazendo companhia para o outro, um tempo que poderia usar para si mesmo. Pensava em como deveria estar usando o tempo para escrever, aprender algo novo, se divertir, conhecer outras pessoas, fazer qualquer coisa que não envolvesse o outro. Por que, diabos, deveria deixar o outro como uma prioridade, quando não era recíproco? Há dias pensava no que poderia ...
Histórias não se perdem. Elas se transformam. Lembrou-se de todas as vezes em que uma boa narrativa começou a se construir em sua mente, mas esquecera de colocar no papel ou de quando estava tão focado em uma só história e acabou deixando as outras de lado.
A vida é feita de interrupções. Queria que essas histórias voltassem, mas nem sempre elas se apresentavam como ele esperava. Os personagens se revoltam contra seu criador e quem pode garantir que algum dia eles foram realmente dele? As tramas se transformam. Os gêneros se confundem… As pontas se quebram e não há nada que ele possa fazer para que voltem a ser como eram antes.
Os dias cinzentos deram lugar aos dias de sol. Então, as folhas cresceram e caíram, a chuva veio e limpou seu corpo. E as estrelas, bom, nem sempre elas brilharam no céu.
Corações ficam pesados. Mentes ficaram caóticas. Olhos ficaram nublados. O giro de 180 graus mudara sua perspectiva sobre tudo. É preciso parar de tentar mudar o mundo e tentar se adaptar, pensou ele, olhando para as mãos calejadas, os dedos tortos que já não eram agradáveis como costumavam ser, mas ainda serviam para segurar a caneta contra o papel.
“Existe um universo dentro de mim”. As palavras se juntaram e tentaram convencê-lo de que por trás de todas histórias há algo que as mantêm unidas. Diante de toda confusão há sempre uma ordem, ainda que ele não pudesse enxergar.
Escrevia com propósito. Escrever era o seu modo de dizer ao mundo: “Eu estive aqui. Não é perfeito. Não é nenhuma obra de arte. Mas é algo meu. Nosso”. A história compartilhada com os leitores deixava de ser dele, abria suas pequenas e frágeis asas e deixava se levar pelo ar.
Pode ser em um sonho, em uma divagação ou em uma tarde de escrita livre. As narrativas saltavam diante dele. Não há para onde fugir. “Somos suas filhas, mas nunca fomos só suas”. Ele ia à livraria e se perdia diante de tantas produções literárias, percorrendo com seus dedos e olhos as capas, contracapas e miolos. Tudo fora escrito. Tudo faltava ser escrito.
Escrevia, em primeiro lugar, para si mesmo. Foi assim que sua paixão começou. Quando a única voz que repetia suas palavras era a dele mesmo. Agora, as histórias já não queriam se esconder dos outros. As histórias queriam ser livres, mesmo sabendo que a liberdade não era como ele imaginara.
A teia volta a ser tecida. As letras se grudam. A caneta move e os ossos são desenterrados. Elas sempre estiveram ali. Elas nunca estiveram ali. Nesta dança de narrativas, algo se quebra, algo se constrói; alguns vêm, outros vão – mas as histórias, elas continuam chegando e girando pelo infinito.
Ele encara o caderno e pensa em quantos outros ficaram incompletos. Tinha um medo terrível de últimas páginas, últimas linhas, últimas palavras. Preferia deixar o peito aberto e sentir a tinta rasgando suas folhas e costurando outras. No final, havia sempre algo inacabado, aberto a múltiplas possibilidades. Um eterno ciclo de aprendizados. E as histórias, elas nunca o deixavam sozinho. Você sabia que esse texto foi adaptado para o meu canal do YouTube? Aproveite para assistir ao vídeo O Mundo das Histórias Inacabadas:
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