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Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

Café, o vício e o prazer do escritor francês Honoré de Balzac

Escrito em 1830 pelo escritor francês Honoré de Balzac, o ensaio Os Prazeres e as Dores do Café (The Pleasures and Pains of Coffee) foi publicado no apêndice de uma edição especial de A Fisiologia do Gosto (La Physiologie du Gout), do cozinheiro francês Jean Anthelme Brillat-Savarin. O texto se tornou um registro de Balzac sobre a sua paixão e o vício do café.


No ensaio, Honoré de Balzac complementa as palavras de Brillat-Savarin sobre os efeitos do café no organismo, como de afastar o sono e possibilitar um pouco mais de tempo no exercício do intelecto e descreve sua experiência pessoal com a bebida e com os grãos. Ele afirma que existe um tempo determinado pelo qual os poderes do café agem sobre as pessoas e que esses benefícios poderiam ser estendidos de acordo com a forma de preparo.

“O café é um grande poder na minha vida; Observei seus efeitos em uma escala épica. O café torra seu interior. Muitas pessoas alegam ser inspiradas pelo café; Mas, como todos sabem, o café torna as pessoas chatas ainda mais chatas” – Honoré de Balzac

Balzac gostava do café turco e considerava os processos orientais de preparo do café mais saborosos do que os europeus. O escritor francês acreditava que o método turco, além de ser mais saboroso, liberava menos substâncias danosas para o corpo.

Apesar de amar café, no texto fica claro que Balzac está consciente dos efeitos, já que ele mesmo cita alguns casos, como o de um homem de Londres que teve torção gástrica, de um homem de Paris que precisou de 5 anos para se recuperar do estado físico que o café o colocou e de um pintor que morreu por tomar café demais.

“Os conhecedores buscam beber café da maneira que eles perseguem todas as suas paixões; eles continuam por incrementos [...] mudam de coisas fortes para mais fortes, até que o consumo se tornar abusivo” – Honoré de Balzac

Quando o café parava de fazer efeito, Balzac compartilhou que descobriu um método horrível e brutal, ao qual ele recomendava somente para homens de vigor excessivo. Ele consumia o café moído de estômago vazio. O viciado em café descreveu o efeito da substância no estômago e como o inflamava, fazendo as faíscas dispararem até o cérebro:

“A partir desse momento, tudo fica agitado. As ideias se movem rapidamente como batalhões de um grande exército para o seu lendário campo de luta, e a batalha se enfurece. Memórias atacam, bandeiras brilhantes ao alto; A cavalaria da metáfora se desdobra com um galope magnífico; a artilharia da lógica corre com os vagões e cartuchos irregulares; nas ordens da imaginação, na visão e no fogo dos atiradores; formas, formatos e caracteres para trás; o papel é espalhado com tinta, pois o trabalho noturno começa e termina com torrentes desta água negra, quando uma batalha se abre e termina com o pó preto”.

Honoré de Balzac lembra que quando chega a esse ponto, a pessoa sempre quer mais e ainda assim acaba ligando com alguns efeitos colaterais, como suor excessivo, fraqueza dos nervos e episódios de sonolência severa. Ele aconselhou a parar neste ponto, pois acreditava que a morte imediata não era o seu destino. O escritor também parecia ciente de como o excesso de café mudava o comportamento das pessoas, deixando-as impacientes e mal-humoradas, além de deixá-las com sede e com a pele seca. “Entre aqueles que abusam do grão, a saliva torna-se tão grossa e tão seca como o papel na língua”, descreveu.

Especula-se que Balzac tomava entre 20 e 40 xícaras de café por dia, alguns até mesmo diziam que 50. A quantidade da bebida provocou cólicas estomacais e contribuiu para elevar sua pressão arterial. Balzac morreu no dia 18 de agosto de 1850, aos 51 anos, de gangrena associada com insuficiência cardíaca congestiva – quando o coração não consegue bombear sangue suficiente para os órgãos do corpo.

Além de ser viciado em cafeína, Balzac também tinha o hábito de comer demais, acompanhado de diferentes bebidas. Há um relato de que durante meses o escritor acordava a uma hora da manhã e escrevia até às oito e depois tirava uma soneca e bebia café para aguentar o resto das atividades da tarde.

Encontre livros do escritor Honoré de Balzac: http://amzn.to/2DMQOMg

Sobre o escritor – Honoré de Balzac nasceu em Tours em 1799, filho de um funcionário público. Na infância, foi interno por seis anos em um colégio de Vendôme, e aos quinze anos se mudou com a família para Paris. Formou-se em direito e trabalhou com um tabelião. De 1820 a 1824 escreveu, com diversos pseudônimos, seus primeiros romances. Em 1825 se lançou, sem muito êxito, como editor, impressor e tipógrafo, e desenvolveu intensa atividade jornalística. Aos trinta anos, muito endividado, retomou a literatura com grande empenho e escreveu o primeiro romance com seu nome, A Bretanha. Nos vinte anos seguintes, escreveu cerca de noventa romances e contos, entre os quais muitas obras-primas, que receberam o título abrangente de A comédia humana. A respeito de sua obra, disse Balzac: “O que ele [Na-poleão] não conseguiu concluir com a espada, eu realizarei com a pena”. Faleceu em 1850, meses depois de se casar com Evelina Hanska, a condessa polonesa com quem manteve um relacionamento por dezoito anos.

O ensaio The Pleasures and Pains of Coffee, traduzido do francês para o inglês por Robert Onopa, está disponível no link a seguir: https://urbigenous.net/library/pleasures_pains_coffee.html 

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*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad.

Comentários

  1. Interessante esta visão do café como uma substância de efeitos comparados aos das drogas. Tive um colega que adorava café, mas este vício é outra história! Uau!
    Miss DeBlogger

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    Respostas
    1. Oi, Miss!
      O abuso de toda substância pode fazer mal, né? E com o café, não deixa de ser um estimulante.
      Gratidão pela visita.
      Abraços

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  2. Eu sou uma leitora e escritora que não tem bebe café. Não gosto. Vez ou outra, raramente de mais, eu bebo meia xícara. Isso acontece cerca de uma vez na semana. Já houve épocas onde eu basicamente ficava em pé pelas graças do café, mas parei de tomar. Gosto muito de cappuccino, mas a dose de cafeína existente é mínima.

    Vidas em Preto e Branco

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  3. Sou viciado em café, em mim não provoca nada; será que Ele bebia puro?

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    Respostas
    1. Sim, puro, sem açucar... Indico grãos de qualidade, dai você sentirá o verdadeiro sabor de
      café...

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  4. Os conhecedores buscam beber café da maneira que eles perseguem todas as suas paixões; eles continuam por incrementos [...] mudam de coisas fortes para mais fortes, até que o consumo se tornar abusivo” PERFEITO...

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