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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Memórias no Beto Carrero, estímulos sensoriais e inspiração de escritor de terror

Quando eu era adolescente, fui a uma daquelas casas de terror (Portal da Escuridão) no Beto Carrero World. Fiquei pensando: “Legal, essas pessoas são pagas para assustar os outros”. Enquanto as pessoas saiam correndo de lá, eu ficava imitando as vozes e falas dos personagens interpretados pelos atores e queria ir de novo e de novo, só para registrar os detalhes na minha mente e observar como os outros reagiam conforme o roteiro desenrolava.


Fotos tiradas há mais de 12 anos (2007): Eu e minha irmã no Beto Carrero World.

Fiquei tão impressionado que cogitei a perguntar para minha mãe se poderia me mudar para lá e arranjar um emprego como aquele. Foram dias, semanas, repetindo o que os atores faziam. Algumas frases grudaram na minha cabeça. Na época eu não sabia do autismo – para quem me acompanha, sabe que descobri o autodiagnóstico de Síndrome de Asperger só aos 27 anos e o diagnóstico formal aos 29 anos –, porém o que eu estava fazendo era uma forma de Ecolalia (repetição de palavras, frases e expressões) e de espelho (repetição de comportamentos dos outros).

Alguém pode se assustar com o fato de eu não ter sentido medo, como muitas pessoas. Para quem não está familiarizado com o mundo do autismo, nós podemos ter dificuldade com a leitura de expressões faciais (Prosopagnosia) e com identificar e expressar emoções (Alexitimia). Logo, embora eu sentisse muita adrenalina, para mim, era como assistir a um filme de terror, enquanto, para muitas pessoas, era como estar dentro do filme.

Profissionais desatualizados e pessoas sem informações podem fazer uma leitura lamentável de autistas. É bem ofensivo quando vejo profissionais e familiares de autistas expressando coisas como "Meu filho não sente empatia". Quem não tem empatia é psicopata. Autistas sentem até demais, só podem ter dificuldade de demonstrar e isso varia de pessoa para pessoa: não existem dois autistas iguais, independente do grau e classificação.

Eu saía da casa de terror e queria de novo. Eu queria me sentir vivo. Queria entender o que fascinava tanto as pessoas e tentar reconhecer os padrões. Na minha mente, se eu conseguisse remontar o cenário e os personagens na minha cabeça, eu sentiria menos desconforto e seria menos influenciado pelas emoções. Porém, ao mesmo tempo que eu queria racionalizar a experiência, eu queria que as emoções tomassem conta de mim.

Remontando minhas memórias na cabeça e o que eu sei hoje e na época eu não sabia, estar dentro da casa do terror foi uma forma de me estimular sensorialmente (nós, pessoas no espectro autista, chamamos isso de Stim). O detalhe das iluminações e escuridão (consigo enxergar bem no escuro), os sons, os movimentos, a questão espacial (como se fosse um labirinto).

Tudo ali dentro me provocava um desconforto e prazer ao mesmo tempo; uma sensação de desorientação e de emoção por estar fazendo algo diferente, o qual eu sabia que era seguro, pois ninguém pagaria uma atração para sair de lá machucado. Logo, por mais assustador que algumas pessoas achassem, eu me tranquilizava mentalmente e dizia: “É só um teatro. E existem regras: assim como os monstros não podem me tocar, eu não posso tocar neles”.

Quem conhece autistas, sabe que regras são importantes para muitos de nós e nos dão uma sensação de tranquilidade. Se eu não soubesse as regras, quem pode imaginar o que eu poderia fazer, especialmente se não soubesse a diferença entre atores e personagens?

Na saída, me lembro de uma vez ou outra, sair de lá com tranquilidade, enquanto muitas pessoas saiam de lá tropeçando. Em outras vezes, me lembro de sair com o coração quase saindo pela boca devido ao desconforto com a hipersensibilidade auditiva por causa do barulho de motosserra (de todos os sentidos, o que mais me provoca desconforto e crises sensoriais: barulhos).

Então, se muita gente corria pelo medo da lâmina ser real: eu já sabia que era de mentira e corria porque quando nos sentimos sobrecarregados, tentamos fugir do estímulo, antes que isso nos deixe irritados, provoque crises ou mal-estar. Isto é, vindo de alguém que fica desconfortável até mesmo com chiados de lâmpadas e não suporta barulhos de carros e motos passando pela rua.

Muita gente tem curiosidade sobre o que leva alguém a escrever histórias de terror, muitas vezes, fazem associação com a personalidade da pessoa ou com os acontecimentos biográficos. Como qualquer outro gênero, essas relações nem sempre são exatas como as pessoas gostariam. Esta influência da psicanálise na literatura leva a muitas leituras erradas, assim como acontece no mundo real.

O autismo, por exemplo, durante muitos anos foi interpretado de maneiras completamente irreais por psicanalistas que tentaram culpar desde os familiares, até os próprios autistas sobre comportamentos que são perfeitamente normais para autistas e podem provocar desconforto em neurotípicos (não-autistas). Bruno Bettelheim fez análises tão patéticas de autistas, que na época foram levadas a sério e nos dias atuais, me arrancam risos e reviradas de olhos.


Muitos escritores acabam escolhendo escrever determinados gêneros e abrindo mão de outros – ou escrevendo sob outros pseudônimos –, muitas vezes, por questões do mercado editorial. Além de escrever terror, também escrevo fantasia, contos, crônicas e não ficção, por exemplo.

Escrita Maldita surgiu da minha admiração por escritores de horror e de como muitos autores sofreram preconceito com suas obras literárias na época de publicação e só fizeram sucesso após a morte.

Mais do que um elogio aos contadores de histórias que dedicaram suas vidas a um ofício tão desvalorizado, por meio da metaficção, o romance Escrita Maldita também traz críticas e reflexões sobre o universo da criação literária, as batalhas de egos, a pressão e como a intensidade da arte influencia a saúde mental.

Então, sim, desde criança e adolescente, desenvolvi o interesse por narrativas de horror e fantasia (adorava Goosebumps e Buffy, A Caça-Vampiros) e a ideia de que atores poderiam ganhar dinheiro ao vivo fantasiados de criaturas me encantou, mas há um misto de ingenuidade e ignorância nas pessoas que têm uma visão preconceituosa sobre determinados gêneros e supõem que o fato de alguém gostar de terror significa que a pessoa seja violenta – quem me conhece, sabe que sou o oposto disso.


Gostar de escrever histórias sombrias não significa que eu só consuma narrativas com essas temáticas, pelo contrário, meu gosto de leitura é bem eclético, tampouco tem relação com algum passado sombrio – escrevo pelo prazer de despertar nos leitores algo semelhante a que centenas de autores me proporcionaram.

Uma coisa é certa, como muitos escritores, especialmente em países que não valorizam a literatura, o estranhamento aos olhos dos outros por ser um leitor e autor faz parte da minha realidade e mesmo subconscientemente, ela está presente nas minhas narrativas: a busca pela identidade perdida.

É gratificante quando recebo comentários de leitores dizendo que não conseguiram soltar o livro até descobrir como a história terminaria ou que perderam o sono imaginando determinadas cenas, sem falar os que sonharam com os personagens e com a trama.

Você sabe que está no caminho certo quando consegue proporcionar um pouco do mesmo prazer que outros escritores e livros proporcionaram a você; Quando olha para trás e percebe que, de algum jeito, suas escolhas permanecem fieis a quem você sempre foi, é e sempre será.



*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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