Ame ou odeie, séries com personagens autistas, como
The Good Doctor e
Atypical, intencionalmente ou não, acabam ajudando a espalhar mais informações sobre autismo. Entre as consultas mais buscadas no Google nos últimos anos estão as duas séries televisivas. Termos como "série médico autismo" e "série autismo netflix" foram bastante procurados com o termo 'autismo'.
Por causa das comparações, personagens autistas nem sempre são vistos com bons olhos pela comunidade, seja por pais, familiares e/ou pessoas que são bem diferentes do que é representado, porém, aqui vale a pena lembrar que mesmo que fossem pessoas reais e não personagens ficcionais, essa representatividade não seria completa.
Com duas temporadas que fizeram sucesso e uma terceira temporada encomendada para 2019 na Netflix,
Atypical não tem a pretensão de ser uma série educativa sobre autismo e nem deveria: a ficção não tem esse papel; mas ainda que não seja o propósito, muitas pessoas conhecem um pouco da realidade de pessoas no espectro autista.
Embora Sam seja o protagonista e é interessante acompanhar como ele lida com seus desafios no colégio, o que torna a série mais envolvente é saber que a série não se foca exclusivamente na condição dele, mostrando, sim, como afeta suas questões sociais, mas como qualquer outro jovem, ele tem seus desejos. O desejo de ter uma namorada e de fazer sexo ainda é um tabu para muitos quando se trata de autismo.
Sam é retratado como alguém com inteligência média e os pinguins estão entre os seus interesses especiais. A dinâmica da família e da amizade são tão interessantes de acompanhar quanto o próprio protagonista. Ao ser um pouco deixada de lado pelos pais, Casey acaba roubando a cena, se mostrando uma personagem cada vez mais complexa e com suas próprias dificuldades nem sempre consideradas.
Os próprios pais de Sam passam por seus próprios dilemas. Os limites entre a proteção e a superproteção são cruzados por Elsa, a mãe que acaba se vendo tão envolvida com as preocupações do filho que sente uma necessidade de ser notada pelos outros, de reconstruir sua identidade individual. Já o pai, Doug, sempre tão focado no trabalho, embora tenha boas intenções, nem sempre dá conta de ajudar os filhos como a mãe.
Já
The Good Doctor acaba revelando um personagem com uma fascinante habilidade de memória. Shaun Murphy é um jovem médico que absorveu muitos conhecimentos de livros médicos e sempre tenta dar um jeito de usar as informações para encontrar respostas para os casos. Porém, como a profissão exige não só conhecimento, mas também como se comunicar de forma assertiva e empática, nem sempre Shaun consegue entregar o que é esperado dele.
Shaun que cresceu em um lar abusivo e fugiu com o irmão que posteriormente morreu, acabou se desenvolvendo bem com o apoio de seu mentor Aaron Glassman. Além dos desafios de trabalhar em um hospital, o que é interessante observar na série é que mesmo com sua inteligência, ele tem dificuldade com questões que parecem simples para os outros: aliás, é o que muitas pessoas têm dúvidas na vida real e solta comentários como “mas você é tão inteligente” – muitos têm dificuldade de diferenciar a questão intelectual dos mecanismos de interações sociais que são diferentes em autistas.
A 3ª temporada de The Good Doctor deve estrear no dia 23 de setembro de 2019 pela ABC. No Brasil, a série está sendo transmitida pelo
Globoplay.
As duas séries com personagens autistas têm em comum protagonistas masculinos e brancos, ponto que ainda gera desconforto em algumas pessoas. Por incrível que pareça, estamos em 2019, mas para muitas pessoas, a ideia de que existem autistas com diferentes orientações sexuais ainda parece bem distante da mente de muitos; o mesmo ainda acontece com outros recortes sociais. Em alguns países, negros, latinos e imigrantes, por exemplo, têm muita dificuldade de conseguir um diagnóstico formal de autismo.
Eu acredito que o sucesso de Atypical e de The Good Doctor pode abrir portas para mais produções televisivas. Embora eu fique feliz com a quantidade crescente de livros escritos por autistas, por exemplo, nem todos chegam ao Brasil e são traduzidos para o português e não têm o mesmo alcance e apelo que o audiovisual tem.
Então, da mesma forma que Sam e Shaun tocaram telespectadores com suas dificuldades de relacionamentos, um em um ambiente mais escolar e o outro no trabalho – ambos sujeitos ao preconceito e precisando provar aos outros e a si mesmos que eles são capazes –, creio que as produções e roteiros têm o poder de aproximar mais pessoas com o universo do autismo, ajudando a reduzir o tabu e o estigma, promovendo reflexões sobre questões sociais e despertando a curiosidade e a empatia pela necessidade de aceitação das diferenças. Afinal, a inclusão é inevitável.
*Ben Oliveira é escritor, blogueiro, jornalista por formação e Asperger. É autor do livro de terror
Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem
Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e
O Livro (Vol. 2), disponíveis no
Wattpad e na loja Kindle.
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Olá Bem, gostei muito da 1a. temporada da série Good Doctor, assisti com minha filha que quando criança apresentava características autistas, mais para o Asperger... Hoje com 18 anos não 'fecha diagnóstico' mais por ter superado e modificado muitas limitações e modo de agir que tinha, acredito que ela SEMPRE estará dentro do espectro, mesmo que seja numa 'pontinha' dele...
ResponderExcluirAcho que a série fez um retrato bem fiel das dificuldades que um autista enfrentaria numa situação similar, neste caso, acho que ajuda sim a diminuir o preconceito e 'instruir' quem nada sabe sobre autismo.
Oi, Sandra! Creio que ambas séries acabam servindo como informativas sobre como lidar com pessoas no espectro autista, abordando a importância de um olhar mais humano e empático para as diferenças.
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