“Dez minutos da sua atenção”, era tudo o que ele pedia, sem imaginar o quanto o dia tinha sido horrível, sem imaginar que a qualquer momento poderia chorar. Dez minutos que poderiam mudar sua maneira de enxergar as coisas. Dez minutos para perceber que ele estava certo, que quando alguém queria te ver, a pessoa dava um jeito. Dez minutos para se reencontrarem após dois meses sem se verem. Foi andando encolhido até ele. Com vergonha de como estava uma bagunça naqueles dias. Com receio de suas intenções e de como reagiria a tudo aquilo. Dezembro havia sido um mês longo sem terapia e os dias após a virada do ano também não tinham sido os melhores. “Como era bom ser normal e poder fazer as coisas, sem ser visto como um sintoma”, pensou. Surpresas poderiam gerar mais ansiedade, tudo o que estava evitando naquele momento, mas se colocou no lugar do outro e mesmo com todos seus instintos dizendo não, cedeu ao inesperado pedido de visita. Era uma noite quente e por alguns minutos, quase t...
Pode o corpo alterar nossa percepção sobre a vida e o amor? E o que acontece quando todo dia mudamos de corpo e ainda assim tentamos manter um relacionamento? Em Algum Dia, do David Levithan, o leitor é levado a conhecer o desfecho da trilogia que encantou pessoas do mundo todo. No Brasil, a obra foi publicada pela Editora Galera Record, em 2020.
Algum Dia foi um dos livros mais esperados por muitos leitores, entre eles: eu. Fui com muita expectativa na leitura. Não é que não tenha gostado do romance, mas senti falta de mais envolvimento entre os dois personagens principais. David Levithan nos deixa instigado por mais momentos entre Rhiannon e A, mas a narrativa acaba dando mais destaque para a condição do personagem sem corpo fixo.
"Agora eu sei: o amor não é tão simples. O amor nunca é sobre você dizer a si mesmo que deve fazer alguma coisa e então fazer. Nunca é sobre alguém te dizer que você deve fazer e por isso fazer. O amor não pode existir entre duas pessoas se elas não conseguirem sentir que o amor também existe fora delas. Pode envolver dor, mas não é para que você sinta dor o tempo todo. Então não é amor. É uma armadilha disfarçada de amor" – David Levithan, Algum Dia
Além de abordar o romance com uma pegada mais de conexão do que de amor romântico em si, o leitor nos faz perceber os limites do corpo e do espírito e de como alguns relacionamentos podem ser transcendentais.
Com mais focos narrativos, Levithan nos apresenta a outras pessoas em condições similares a de A, matando um pouco da curiosidade do leitor. Quantas pessoas como ele existem no mundo? Será possível que Rhiannon e A tenham um relacionamento saudável, lidando com a distância e a saudade de quem nem sempre estará por perto?
"Eu amava mesmo A, ou amava a intensidade, a sensação de que as nossa órbitas tinham se aproximado tanto que caberiam num átomo, e uma explosão aconteceria se nos afastássemos?" – David Levithan, Algum Dia
À medida que Rhiannon vai refletindo sobre seus relacionamentos passados e se envolvendo mais com A, a personagem se dá conta de que talvez os dois tenham sido covardes. Para alguns, talvez a noção de que duas pessoas que se amam e não ficam juntas pode ser uma loucura; mas se isso acontece até mesmo na vida real, quem dirá diante do inevitável e inusitado destino de A?
Com mais aventura e até mesmo suspense, David Levithan nos mantêm fisgados até o final. Porém, para os mais românticos, parece que falta um pouco mais de momentos a dois: como acontece em qualquer relacionamento, como se o tempo tivesse criado mais afinidade entre os protagonistas e, ao mesmo tempo, tivesse esfriado um pouco.
"A fênix me chama. Ela me olha nos olhos e sabe quem eu sou. Ela sabe que cada um de nós pode ser mais do que uma só coisa. Ela sabe que nós vivemos num perpétuo estado de começos e num perpétuo estado de finais. Eu a usaria sobre a minha pele, se um dia eu tivesse uma pele que fosse minha. Eu a deixaria enviar sua mensagem muda para todos que eu conhecesse, como um caminho para que me conhecessem melhor, para que entendessem o meu voo um pouco melhor" – David Levithan, Algum Dia
Com maestria, David Levithan brinca com as narrativas e mostra como um romance pode brincar com vários gêneros/temas e nos brinda com momentos de amor, amizade, empatia e dilemas existenciais. Entre o amor e a amizade, as escolhas feitas com respeito e o egoísmo. A encara sua sombra e Rhiannon descobre mais sobre si mesma do que jamais poderia imaginar. Uma história sobre como o amor ultrapassa a pele e também pode ser expressado e sentido de muitas maneiras.
Sobre o autor – David Levithan também figurou na lista de mais vendidos do prestigiado New York Times. Editor de livros infantis, é autor, ainda, de Garoto Encontra Garoto, Dois Garotos Se Beijando, Todo Dia, Outro Dia e de Nick e Norah —com Rachel Cohn —, que inspirou o filme homônimo.
Sobre o autor – Ben Oliveira foi diagnosticado autista (Síndrome de Asperger) aos 29 anos, é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.
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