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Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Salvando o Capitalismo: Documentário do economista Robert Reich reforça a importância das políticas públicas

Com um título polêmico, independente da posição ideológica do telespectador, Salvando o Capitalismo (Saving Capitalism) traz as ideias e reflexões de Robert Reich sobre a importância de políticas públicas que levem em conta também os interesses das classes sociais baixas. O documentário foi baseado no livro homônimo e dirigido por Jacob Kornbluth e Sari Gilman, lançado em 2017 na Netflix.

O documentário de 73 minutos faz um apanhado geral da evolução do sistema político e econômico dos Estados Unidos, mostrando que embora tenham se passado décadas, alguns problemas sociais persistem. Em vez de propor a demolição do capitalismo, Robert Reich defende a importância da melhor remuneração da sociedade, já que nem sempre os salários acompanham as inflações e algumas pessoas trabalham para sobreviver, literalmente.

Reich explora as transformações do capitalismo nos Estados Unidos e o progressivo domínio da economia de mercado. Segundo o professor, economista, autor e comentador político norte-americano Robert Reich, embora as intenções pareceram inovadoras na época, elas acabaram agravando as desigualdades sociais, dando mais poder e influência para os grandes empresários nas tomadas de decisões políticas, deixando de lado a população menos favorecida. 

Além de ser um documentário bem didático, servindo tanto com a função de informar, como de despertar no telespectador a vontade de saber mais sobre o assunto e ler o livro do autor economista, o filme traz entrevistas e registros que ajudam a defender o ponto de vista e relembram que esse desequilíbrio de prioridades na política deveria ser combatido por todos, independente de discussões sobre direita ou esquerda, democratas ou republicanos.

Na questão da desigualdade, Salvando o Capitalismo entrevistou uma trabalhadora de uma rede de fast food que revelou como o seu salário vai quase todo com o aluguel e pouco sobra para sobreviver, levantando discussões sobre a importância da aprovação de um salário mínimo mais justo e proporcional aos gastos básicos. Com pesar, ela cita que em poucas horas a loja em que trabalha ganha o equivalente ao seu salário mensal.

O economista também reúne empresários de diferentes posicionamentos políticos para discutir sobre a situação econômica dos Estados Unidos. Mesmo com vieses contrários, percebe-se que muitos profissionais mantêm o respeito; diferente da polarização radical cada vez mais crescente que alimenta o ódio, discriminação e conflitos, com seu livro, documentário e palestras, Robert Reich propõe a organização de grupos para lutarem por seus direitos de forma democrática. 

O que eu mais gostei no documentário foi como o autor desvenda um mundo desconhecido para muitos brasileiros. Embora não seja novidade para quem lê e consome notícias internacionais de diferentes jornais online, há muita gente que tem uma visão idealizada e fantasiosa da economia dos Estados Unidos, como uma terra prometida em que só não se dá bem quem não quer e todos têm as mesmas oportunidades.

Para quem conhece só o lado dos empresários e trabalhadores que foram bem-sucedidos e não imaginam o quanto milhares de norte-americanos lutam para pagar contas de saúde, moradia, lazer, alimentação, entre outras coisas, Salvando o Capitalismo é um lembrete de que a luta por políticas públicas pensada para todos é uma necessidade em vários países, mesmo naqueles que parecem supostamente um paraíso econômico aos olhares de quem vem de regiões mais pobres e com menos oportunidades de desenvolvimento.

Salvando o Capitalismo aposta na razão, deixando de lado extremismos. O economista, por exemplo, discute a tentação do populismo, já que costuma ter maior apelo ao público e diz que não é nem bom nem ruim, que depende da intenção do governante: ele chegou a fazer o comparativo entre Donald Trump e Bernie Sanders. 

É possível salvar o capitalismo, evitando que ele crie mais desigualdades sociais e possa fazer o capital circular nas diferentes classes? Como o excesso de influência de grandes empresários afeta os direitos trabalhistas e aprovação de leis? 

Robert Reich argumenta de forma simples sobre um assunto mega complexo e que exige do telespectador mais estudo e pesquisa, mas que serve como um pontapé para novas visões de mundo.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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