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Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Pirataria de Livros: Afeta mais escritores brasileiros do que autores internacionais

A Pirataria afeta muito mais autores brasileiros do que autores internacionais. A menos que você seja um Paulo Coelho da vida, traduzido para diferentes partes do mundo, e com tantas vendas, que não importa quantos livros seus sejam pirateados na internet – em alguns países, chegam a fazer a impressão do livro para vender, isso tudo sem passar por autor ou editora –, os direitos autorais podem fazer diferença se você vai conseguir ter recursos de continuar nesta jornada criativa ou não.

Assim como eu, muitos escritores brasileiros já tiveram suas obras circulando em grupos de redes sociais, como Facebook, e aplicativos de comunicação, como WhatsApp e Telegram. Há uma crença falsa por parte de leitores brasileiros, como se ao nos lerem, estão fazendo algum tipo de favor e nos indicando: exceto que, muitas vezes, o que é indicado é a versão pirata, não necessariamente uma recomendação de onde encontrar o livro impresso ou eBook.

A discussão não é nova. Todo ano autores brasileiros reclamam, muitas vezes, inutilmente nas redes sociais e acabam criando atrito com leitores que discordam disso. Há também aqueles que usam questões financeiras para justificar: aos que estão sem condições, muitos autores acabam presenteando de forma impressa ou digital, de forma LEGAL, e aqueles que dizem na internet muitas inverdades, como de que estão sem dinheiro, mas vivem saindo para comer e festar em lugares caros, pagando ingresso de cinema que podem ser muito mais caros do que eBook e alguns livros impressos, entre outras coisas.

Que as desigualdades sociais são gritantes no Brasil e afetam o cotidiano, todo mundo sabe ou deveria saber. Porém, partindo da premissa de que autores brasileiros – sejam independentes ou publicados por editoras tradicionais e pagas – estão consolidados de alguma forma de que eles não precisam de nenhum retorno financeiro é um erro, além de dar prejuízo para toda uma cadeia de profissionais do universo editorial, entre outros gastos, como marketing digital.

Falamos tanto sobre como a literatura desperta a empatia, mas o que vemos são muitos atos de falta de empatia. Além dos grupos e aplicativos, existem vários sites que disponibilizam cópias piratas dos livros, muitas vezes, em baixa qualidade: afinal, um livro pode passar por revisões, edições e os que estão em formato digital, muitas vezes, estão diagramados de forma a se encaixar na tela do celular, independente do tamanho do aparelho eletrônico. 

Embora seja desconfortável o papo de ‘Não pirateie livros nem compartilhe’, ele é necessário.

Eventualmente, alguns autores conquistam traduções para outros idiomas, mas precisamos lembrar que não é a realidade de todos. Também é preciso lembrar que o mesmo problema pode acontecer em outros países. Além de várias traduções, autores internacionais têm acesso maior a adaptações para outros formatos, como audiobook, séries e filmes.

Para quem mora em cidades com bibliotecas e projetos de leitura, recomendo pedir para autores independentes brasileiros que você deseja ler e editoras a doação de exemplar. É uma forma menos predatória e legal de fazer o livro passar por várias mãos, sem afetar os ganhos financeiros de um autor e permitir que ele continue produzindo. Também é bacana trocar mensagens com leitores da cidade ou cidades próximas e pedir emprestado.

Afinal, sem recursos financeiros para investir em profissionais de revisão, capa, diagramação, entre outros, por mais criativo e disciplinado que um autor seja, ele pode perder o gás. Não é raro ver gente que apostou tão alto e não tinha noção de como era o mercado de livros no Brasil, que ou abandonou sua carreira para investir só nisso e se decepcionou e teve muitos prejuízos financeiros, além de problemas emocionais, bem como aqueles que por mais que amassem escrever, decidiram por um ponto final em uma carreira que poderia seguir viva por anos, décadas. 

Leia também: Pirataria digital: Combatendo o compartilhamento ilegal de livros na internet 

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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