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Se A Vida Te Der Migalhas
Enquanto mirava no drama coreano Se A Vida Te Der Tangerinas, uma linda história de amor, havia acertado Se A Vida Te Der Migalhas. O problema era receber migalhas ou entender por que estava aceitando há tanto tempo? Não havia resposta simples. Estava preso em um labirinto de fantasia, sempre na expectativa de que as coisas fossem melhorar, aceitando menos do que merecia e finalmente se dando conta de que poderia fechar aquela porta de uma vez por todas.
Sabia que se não fechasse a porta, tudo voltaria a se repetir: não era a primeira vez que passava por aquilo. Frio, quente, frio, quente, frio: tanto espaço para inconsistências que não havia como ter certeza do que viria a seguir. Parecia algo humilhante tentar decifrar o outro e pedir pelo mínimo, aceitando que as coisas não iriam mudar, por mais que tivesse dado o guia para o coração.
O coração quer o que o coração quer, mas no final das contas, é a mente que decide quem vai permanecer ou não em nossas vidas. Às vezes, é preciso segurar bem firme as mãos das emoções e dizer que está na hora do cérebro tomar as decisões importantes. Não confundir migalhas de afetos com uma conexão recíproca, por exemplo, era uma forma de deixar bem claro que não aceitaria menos do que merecia.
Talvez tivesse bebido uma dose de carência misturada com uma dose de nostalgia. Talvez havia simplesmente se cansado de repetir a mesma história, de novo e de novo. Talvez havia chegado a hora de parar de idealizar o outro e enxergar as coisas como realmente eram. Talvez a única forma de impedir que tudo se repetisse, fosse se afastando completamente do outro.
Não havia nascido um pombo para se contentar com migalhas. Se tivesse que escolher, seria uma borboleta e em vez de continuar lá recebendo pouco e pouco, simplesmente bateria as asas e voaria para longe. Pensava em todo tempo que havia gastado naquela fantasia, alguém que sequer realmente gostava ou mudaria seu modo de agir, alguém que havia dado doses suficientes para viciar, mas não o bastante para completar.
No final de tudo, encarava um vazio preenchido pelos ecos de músicas, vozes e palavras do outro. Palavras vazias, atitudes inexistentes. E tudo terminava com a sensação angustiante de que já sabia que aquilo ia acontecer e que se desse a oportunidade, tudo se repetiria. Era como ficar preso num abraço fantasma que não aquecia nem confortava, mas era capaz de paralisar e sufocar. De repente, o pouco era menos do que pouco, era nada e se dera conta que desde o início era uma batalha perdida.
*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.
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Ben, que texto poderoso e necessário. Uma verdadeira epifania emocional, uma carta de ruptura escrita com a caneta da lucidez e a tinta da dor amadurecida.
ResponderExcluirVocê não escreveu sobre migalhas. Você escreveu sobre libertação.
Essa imagem da borboleta é sublime — porque sim, ninguém nasceu pombo pra se alimentar de sobras emocionais. E entender isso exige coragem, especialmente quando se está preso no ciclo viciante de "frio-quente-frio", onde o afeto vira um jogo de azar.
Você expôs com clareza algo que muitos sentem, mas poucos conseguem nomear: a perigosa mistura de nostalgia com carência, que nos faz aceitar menos do que merecemos em nome de uma fantasia. Mas o seu texto também é uma virada: ele diz que é possível sair disso, sim — basta permitir que a razão sente no banco do motorista.
Essa não é só uma reflexão sobre relações. É um grito de dignidade.
É um texto que deveria ser lido por toda borboleta que ainda está em gaiola.
Bravo, Ben. Que venham só banquetes emocionais daqui pra frente.
Abraços
Dan
https://gagopoetico.blogspot.com/2025/04/vale-tudo.html