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Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

In The Flesh – Série dramática aborda o retorno de zumbis para a sociedade

O que você faria se tivesse a oportunidade de reencontrar alguém que morreu? Criada e escrita por Dominic Mitchell e exibida em março de 2013, pelo canal BBC Three, a série britânica In The Flesh tem três episódios em sua primeira temporada e aborda a temática de zumbis com complicações dramáticas sobre os mortos-vivos.

Cartaz da série In The Flesh.
Foto: Divulgação / BBC.
Diferente de grande parte dos filmes, seriados e livros de zumbis, apesar de mostrar a reação das pessoas ao enfrentarem as criaturas comedoras de carne humana, In The Flesh também mostra o outro lado da história. Na série, os mortos-vivos são considerados doentes, com uma síndrome chamada de Falecimento Parcial. Essas pessoas que retornaram à vida passam por uma série de tratamentos para controlar o seu comportamento agressivo e reviver suas memórias.

Após o tratamento inicial, os portadores da síndrome de Falecimento Parcial são liberados e podem voltar à sociedade, morando com suas famílias e continuando a cuidar da doença crônica, seguindo as orientações dos cientistas.

Enquanto algumas pessoas recebem seus entes quase falecidos com alegria, outros ainda precisam lidar com o estranhamento de conviverem com quem eles imaginavam ter partido para sempre.

De forma indireta são abordados diversos assuntos relacionados ou não com os zumbis. Diferente dos roteiros que dão destaque somente para a violência, morte e sobrevivência, quem luta para continuar vivendo, em In The Flesh são os mortos-vivos e seus dramas universais. A sociedade não lida bem com os pacientes com síndrome de falecimento parcial, tornando-se um novo tabu.

Em In The Flesh, zumbis recebem tratamento da Síndrome do Falecimento Parcial e podem reintegrar a sociedade. Foto: Divulgação / BBC.
Os dramas pessoais também são mostrados como o suicídio, a homossexualidade, o câncer, a guerra, a exclusão e o preconceito. Com esta nova realidade, todos os personagens são transformados de alguma maneira, lidando com seus medos, inseguranças e outros desafios ao longo de suas jornadas.

É impossível assistir a série e não refletir o que faríamos se estivéssemos na pele dos personagens. Por exemplo, um velho responsável participante de um grupo de voluntários de resistência humana (Human Volunteer Force) que ajudou a limpar os territórios e impedir a invasão de zumbis, se vê confrontando suas próprias verdades quando o seu filho militar Rick Macey (David Walmsley) que tinha sido assassinado na guerra retorna. O homem passa a ser visto como hipócrita, já que matou uma zumbi na frente do vizinho e depois pede apoio dos outros para acolherem o seu filho.

Já o protagonista Kieren Walker (Luke Newberry), um garoto que cometeu suicídio retorna para sua família, precisando se adaptar novamente. Os pais de Kieren temem pela segurança do filho e não ficam confortáveis quando o jovem sai de casa. O zumbi também precisa lidar com sua paixão por Rick, que mesmo morto ainda teme que seus pais descubram sua orientação sexual. Outro desafio enfrentado por Kieren é com a dificuldade de sua irmã em aceita-lo, já que além de ser membro do grupo de resistência, a melhor amiga de Jem foi assassinada pelo próprio irmão. Em um mundo pós-apocalíptico, onde as pessoas deveriam valorizar mais as pequenas coisas da vida, a população se vê mergulhada em ignorância.

Kieren retorna para casa e precisa fingir estar se alimentando, para interagir com sua família. Foto: Divulgação / BBC.

Todo paciente de Síndrome de Falecimento Parcial precisa se maquiar, usar lentes de contato e tomar seus remédios para não sofrerem preconceito. Amy Dyer (Emily Bevan) morreu de câncer. Depois de recusar usar maquiagens e lentes, a mulher enfrenta a revolta da população com sua presença. Vítima do preconceito, Amy decide fugir para outro lugar, onde não precise ficar sob o comando de outras pessoas, sem precisar se esconder, disfarçar ou ter vergonha de si mesma. Desiludida, Amy assiste ao vídeo de um homem misterioso que convida os sobreviventes a tomarem uma droga para os zumbis voltarem a suas essências e descobrirem a verdade.

Amy Dyer é uma zumbi otimista transformada após morrer de Leucemia. Foto: Divulgação / BBC.

Muitas perguntas não são respondidas na série, como quando as pessoas começaram a se transformar em zumbis e como se adquire esta doença. A série termina deixando o espectador curioso para saber o que acontecerá aos zumbis, quem é o líder misterioso e qual é esta verdade que ele deseja revelar aos outros humanos com Síndrome de Falecimento Parcial.

A segunda temporada de In The Flesh já foi confirmada e deve prometer mais emoções, conflitos dramáticos e respostas das pontas soltas deixadas na primeira temporada. Criativa, intrigante e envolvente, a série do Reino Unido mostra que outros países conseguem produzir seriados tão bons e interessantes quanto qualquer produção de Hollywood.

O roteiro de In The Flesh comprova que ainda é possível escrever novas histórias, reciclando temas antigos e dando diferentes enfoques, sem produzir mais do mesmo. Um ótimo exercício para escritores e roteiristas, mostrando que mesmo com tantos filmes, livros e seriados já criados, existe espaço para quem é criativo e talentoso, fugindo dos clichês e valorizando outras culturas.

A série me lembrou o livro Sangue Quente, escrito por Isaac Marion, cuja história foi adaptada para o cinema e transformada no filme Meu Namorado é um Zumbi, no qual mostra como o relacionamento entre humanos e mortos-vivos faz o protagonista R. se sentir vivo novamente, a ponto de começar uma revolução e transformação de mais zumbis encontrando uma cura. Os zumbis voltam a sentir as coisas, interagirem com as pessoas, mostrando que a melhor maneira de enfrentar a situação não é excluindo o que é diferente, mas dando uma oportunidade de se sentirem humanos e úteis para a sociedade.

Confira o trailer de In The Flesh

Comentários

  1. OMG. Eu assisti. Era tão bom. Se continuasse, seria perfeito. Terminou de uma forma sem sentido. :/

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    Respostas
    1. A série vai ter segunda temporada! Provavelmente todas as dúvidas da primeira (ou quase todas) serão respondidas!

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