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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Resenha: Diário de uma Garota Atrevida – Karina Dias

Diário de uma Garota Atrevida é o título do romance da escritora e jornalista Karina Dias, publicado pela Editora Malagueta, em 2012. O livro de ficção de literatura lésbica tem 184 páginas e aborda as experiências de Mariana, desde o seu primeiro beijo em outra menina e as mentiras que precisa contar para ninguém descobrir os seus segredos até a aceitação da própria sexualidade e envolvimentos sérios com outras garotas.

Capa do livro Diário de Uma Garota Atrevida, Karina DiasEste é um dos primeiros romances lésbicos que eu já li. Já havia lido alguns na internet quando era adolescente, mas nenhum que eu me lembre de ter gostado tanto quanto Diário de uma Garota Atrevida. Apesar de tê-lo achado ótimo, mesmo sem ainda ter lido As Rosas e a Revolução, também escrito por Karina Dias, tenho a impressão de que vou gostar mais dele, graças ao contexto, mas isto só será possível saber quando eu começar a ler o livro.

A história é narrada em primeira pessoa pela protagonista, a adolescente Mariana, de 14 anos, e a maior parte se passa no Rio de Janeiro, onde ela vive. “Todos perguntam como tudo começou. Eu busco nas minhas recordações, fragmentos, instantes, acontecimentos que possam moldar esse quebra-cabeça. Não sei ao certo quanto tempo levou para que eu me sentisse ou me descobrisse” – com este parágrafo inicial, a narradora convida o leitor a uma viagem em suas memórias, experiências repletas de descobertas, desejos, paixões e nostalgia. No entanto, ao longo desta jornada Mari não lida só com as coisas positivas, mas descobre que pode machucar e ser machucada pelos outros graças às suas atitudes, neste turbilhão de emoções que é a adolescência. Mari enfrenta o preconceito de algumas pessoas, sem deixar isso afetar a vida dela.

O livro está dividido em 20 capítulos pelos quais o leitor pode se localizar melhor e ler suas partes favoritas após concluir a leitura do livro, através dos títulos sugestivos como “Lésbica, eu?”, “Malandra demais” e “Dias de solidão”, por exemplo, nos quais é possível acompanhar três momentos diferentes da vida de Mariana: descoberta inicial, aumento dos desejos e a convivência com ela mesma. A experiência de leitura de Diário de uma Garota Atrevida varia de acordo com as vivências do leitor. Para quem tem a mesma idade da protagonista pode ser uma ótima maneira de refletir sobre suas escolhas, saber que existem outras pessoas com as mesmas dificuldades e desejos que você e ter a certeza de que todas as fases boas e ruins passam um dia, quando amadurecemos. Para quem já é mais vivido e consegue se colocar na pele da protagonista, o livro é uma ótima maneira de reviver momentos do passado, marcados por nostalgias e desencontros: primeiro beijo, primeira experiência sexual, primeiro amor, primeira traição, primeira desilusão, entre tantas primeiras vezes vivenciadas por Mariana. Para quem nunca conheceu uma lésbica assumida, pode ser uma ótima maneira de perceber que seus conflitos não são tão diferentes como imaginava e que independente da orientação sexual, todos nós temos nossos sonhos, desejos, paixões e amores.

O tempo da narrativa segue a ordem cronológica, ou seja, a narradora vai contando as coisas à medida que vão acontecendo, desde os 14 até os 22 anos de idade. Mariana compartilha momentos fundamentais no seu processo de autodescoberta. É difícil não se identificar com a protagonista. Muitos homossexuais, homens ou mulheres, quando tem seus primeiros contatos com pessoas do mesmo sexo, por exemplo, apesar de gostarem, ficam presos no processo da negação. Alguns superam a barreira com mais facilidade, como Mari, outras vivem frustradas sem serem capazes de admitir o que sentem e desejam, tornando-se homofóbicas.

Outro ponto abordado no livro que é fundamental na vida de muitos homossexuais é o apoio dos amigos. Mariana reluta em contar às amigas Alice, Luciana e Carlinha sobre sua sexualidade. Quando a verdade vem à tona, não vou contar o que acontece para não estragar a graça de quem ainda não leu o livro, mas a protagonista se surpreende com a maneira que as outras personagens reagem. Além de acompanhar a vida de Mari, é legal ver os caminhos que as outras meninas fazem com o passar dos anos. Muitas pessoas quando sabem que uma ficção é voltada para determinado público, lésbico ou gay, imaginam que seja histórias eróticas, o que nem sempre acontece, ao menos que seja um livro erótico.

Diário de uma Garota Atrevida tem drama e romance, característicos da fase da adolescência até a fase adulta, sendo possível perceber o desenvolvimento da protagonista ao passar das páginas, tornando a história mais verossímil. Ficção ou realidade? A boa ficção nos faz mergulhar no livro de forma que já não pensamos “é só um livro”, o personagem vira uma pessoa de carne e osso, alguém que pode nos inspirar a fazer as coisas certas e aprender com os erros, afinal, toda experiência é válida para nosso crescimento.

Do começo ao fim do livro, a leitura é prazerosa. O texto de Karina Dias é direto e a maneira que a narradora expõe suas experiências, pensamentos e sentimentos é gostoso. Há uma relação de cumplicidade entre narrador e leitor, em que nós, leitores, temos acesso livre à mente de Mariana. O fato de ter sido escrito em primeira pessoa, como se fosse um diário, permite a entrada com mais facilidade na pele da protagonista. O leitor se diverte com as trapalhadas e bolas foras de Mari, se entristece pelas suas falhas e sofrimentos e torce para que tudo dê certo.

Apesar de ficção voltada para lésbicas, o livro pode ser lido e apreciado por qualquer um que tenha interesse. Aliás, é uma ótima maneira de conhecer um universo, muitas vezes, desconhecido, principalmente por heterossexuais, e perceber ao mesmo tempo que suas vidas têm convergências. No final de contas, somos todos seres humanos, nos apaixonamos, sofremos por amor, nos sentimos perdidos, precisamos de apoio, atenção e carinho, gostamos de nos divertir, machucamos pessoas que nós gostamos, temos sonhos e objetivos que nos fazem seguir caminhos diferentes do que esperávamos, lidamos o desafio de tentar construir nossa própria identidade, temos dúvidas sobre nossos futuros, mantemos alguns amigos para a vida toda, enquanto outros vão ficando pelo caminho.

Recomendo a leitura de Diário de uma Garota Atrevida para adolescentes e adultos, independente da orientação sexual e gênero, afinal, esta capacidade que a literatura tem de nos fazer entrar no universo de outras pessoas pode nos ensinar muito sobre a vida, a compreender a nós mesmos e os outros ao nosso redor.

Então, você pode estar se perguntando por que eu recomendei o livro para qualquer pessoa se ele foi publicado por uma editora L2L (de lésbicas para lésbicas). Acredito que sem essas editoras voltadas ao público LGBT, muitos livros não seriam publicados, ao menos que seja por autopublicação, já que muitas editoras tradicionais ainda ignoram obras com temática gay e lésbica. Basta entrar numa livraria e procurar por livros LGBT – geralmente eles ficam em um lugar escondido, em pouca quantidade ou não são comercializados, fazendo com que muitos autores e editoras de nicho optem pela comercialização online. O que não significa que os livros só possam ser lidos por esse público. Pelo contrário, quanto mais as obras lésbicas (e gays) serem lidas, mais as editoras vão perceber que existe um público que se interessa por essas histórias e que deseja ler ficção, viajar por outros universos e acompanhar protagonistas LGBTs. Os gays, lésbicas, transexuais e demais representantes do mundo LGBT não desejam só livros de não ficção, onde possam encontrar informações sobre porque eles são como são. Também queremos ler histórias que possam nos emocionar, nos identificar com os personagens e conflitos vividos por eles, terminar uma leitura e ficar pensando no que leu, enfim, narrativas que tenham personagens LGBTs e possam nos fazer viajar pela história.

Escritora Karina DiasSobre a autora – Eliana Natividade escreve sob o pseudônimo Karina Dias. Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 9 de setembro de 1979, mas hoje reside em São Paulo, onde cursou Jornalismo na Universidade São Judas Tadeu. É autora do livro Aquele dia junto ao mar, publicado pela Editora Brejeira Malagueta em 2009, do romance As Rosas e a Revolução, lançado em 2014, do conto Al Encuentro del Amor, publicado em espanhol no livro Voces para Lilith, primeira antologia de literatura lésbica da América Latina, lançado em 2011. Karina também participa do livro Orgias Literárias da Tribo, organizada pelo escritor Fabrício Viana e publicada pela Editora Orgástica. Na internet publicou doze romances e um conto. Diário de uma garota atrevida é o seu segundo livro.

Sobre a editora – a Editora Malagueta é formada por um grupo de mulheres lésbicas que se reuniram para publicar livros para lésbicas. A principal responsável pelo andamento é Laura Bacellar, que tem uma larga experiência no mercado de livros em geral e uma atuação consistente junto às comunidades LGBTs, tendo sido responsável pela criação das Edições GLS, o primeiro selo brasileiro de livros dedicados às minorias sexuais.

Para mais informações, acesse o site da escritora Karina Dias. Diário de uma Garota Atrevida pode ser encontrado lá ou no site da Editora Malagueta.

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