Apaixonado por livros e fã de Literatura Fantástica, Leandro
Schulai começou a escrever as ideias para o seu primeiro livro, O Torneio dos
Céus, aos 16 anos. O romance que, é o primeiro da série O Vale dos Anjos, fez
sucesso entre os leitores brasileiros e os surpreendeu ao apresentar uma
batalha entre criaturas angelicais. Em 2014, o autor publicou O Poder da Luz,
dando continuidade às aventuras de Dimítris Saloutros, o protagonista.
Atualmente, Leandro trabalha na área de Marketing, é redator
do
site Série Maníacos,
organiza antologias de contos de amor para a
Andross Editora (Corações
Entrelaçados, Amores (Im)possíveis e De Repente, Nós) e voltou a postar vídeos em seu canal do Youtube sobre Literatura.
Durante a entrevista, Leandro Schulai compartilhou um pouco
de sua experiência de publicar os livros de fantasia, as influências de outras
narrativas, a questão da leitura no Brasil, a importância da internet para a
divulgação do escritor brasileiro e finalizou com dicas para escritores
iniciantes.
Confira abaixo a entrevista com o escritor Leandro Schulai:
Ben Oliveira: Em 2010, você publicou O Torneio dos Céus. De
lá para cá, ele foi republicado por outra editora e mudou de capa. Como foi
esta experiência?
Leandro Schulai: Foi uma experiência extremamente difícil e trabalhosa, pois quase ninguém,
quando vai publicar um livro, tem noção de como é o dia a dia de uma editora e
seu relacionamento com os autores, principalmente para quem escreve séries, como
eu. Mas o legal é ganhar maturidade e experiência e com isso conseguir enxergar
melhor o mercado e suas oportunidades.
Ben Oliveira: Você começou a planejar O Torneio dos Céus
durante sua adolescência. E em 2014, a continuação da série, o livro O Poder daLuz foi publicado. Como este intervalo influenciou o seu processo de escrita?
Leandro Schulai: Influenciou muito, pois me tornei mais
perfeccionista do que já era. Além disso, tive acesso a técnicas de escrita
internacionais e com isso pude entender melhor porque livros como Harry Potter
e Crepúsculo fizeram tanto sucesso e busquei usar desses conhecimentos e
maturidades na evolução dos meus textos também.
Ben Oliveira: Um dos principais pontos que chama a atenção
de seus leitores foi a escolha por anjos. De onde surgiu a ideia de criar um
torneio de luta para criaturas angelicais?
Leandro Schulai: Na verdade, eu sempre fui um fã de animes,
então, eu sempre achei maneiro esse lance de torneios e batalhas entre seres
especiais. Já vi torneios envolvendo
bruxos, magos e afins, mas nunca havia
visto um torneio de anjos e isso me chamou a atenção. Como queria criar uma
história de vida após a morte e o desejo de um cara em voltar à vida, a escolha
naturalmente veio.
Ben Oliveira: Há uma forte influência dos animes em seus
livros, como Naruto e Cavaleiros do Zodíaco. Como o consumo de narrativas em
diferentes formatos, gêneros e temáticas pode ajudar o escritor?
Leandro Schulai: Ajuda muito, pois indiferente da mídia que
você escolha, a história contada passa por um processo com semelhanças entre todos
os meios. Se você faz um filme, desenho, livro ou série muitas técnicas são
parecidas, porém com suas particularidades. Se você ver as técnicas de batalhas
de animes são usadas em filmes, só tirando as particularidades do desenho que
inserem elementos próprios que tentei transpor para a escrita e acredito ter
dado um resultado bacana.
Ben Oliveira: O autor de literatura fantástica nacional
sofre preconceito? Por quê?
Leandro Schulai: Por parte do leitor, não. Sabe, eu sempre
tive um retorno muito legal dos leitores e mesmo nas bienais e feiras o livro
sempre saiu bem, acho que o preconceito é gigantescamente maior por parte das
editoras e profissionais do mercado por não acreditarem que os escritores
nacionais têm capacidade de levar uma série nas costas sendo uma pessoa
desconhecida e sem marketing próprio.
Ben Oliveira: Quais são as principais dificuldades do
escritor brasileiro?
Leandro Schulai: Conseguir fundos para financiar sua
primeira obra, já que 999 em cada 1000 editoras que topam publicar seu original
cobram de você uma contribuição. Além disso, acho que a maior dificuldade é
continuar após o primeiro livro, porque normalmente 95% dos autores têm
experiências traumatizantes com editoras o que os fazem se afastar ou buscar
meios alternativos como a publicação digital.
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Leandro Schulai no lançamento do livro O Poder da Luz, na Livraria Martins Fontes Paulista. Foto: Divulgação. |
Ben Oliveira: Além de escrever seus livros, você já publicou
contos e organizou diversas antologias. Para quem tem curiosidade, como é o
trabalho realizado pelo organizador de um livro de contos?
Leandro Schulai: É um trabalho incrível, pois você fica do
outro lado da cadeira e começa a entender a mente de quem avalia originais e
isso te dá muita maturidade. O trabalho consiste basicamente em receber todos
os contos e enxergar neles uma essência, um fator de qualidade e trabalhar com
o autor para deixá-lo matador e não somente sair aprovando ou reprovando. Meu
trabalho é desenvolver o autor iniciante que está experimentando o mercado
através de um conto e fazer dessa experiência algo agradável que o motive a
criar sua própria narrativa ou então escreva outro conto para a próxima
antologia. Dá trabalho, normalmente recebemos mais de 100 contos por antologia,
mas não deixo por nada.
Ben Oliveira: A publicação de contos em antologias é, muitas
vezes, o primeiro passo de muitos autores. Como você se sente fazendo parte do
sonho de muitos escritores iniciantes?
Leandro Schulai: Me sinto como o Yoda (rsrs). Sei lá, me
sinto acho que um tutor, um guia sabe que dá porrada, briga, mas que ao mesmo
tempo motiva e o faz acreditar. O mais legal é no dia da publicação conhecer
essa galera frente a frente e ver o reconhecimento deles. As fotos com aqueles
sorrisões estampados falam por mim!
Ben Oliveira: Em uma de suas entrevistas, você revelou
gostar dos livros de romance escritos por Nicholas Sparks. Seria esta
predileção pela temática um dos motivos pelos quais você organiza antologias de
contos de amor?
Leandro Schulai: Com certeza! O Nicholas foi quem me abriu
as portas para o gênero e hoje é o que mais gosto de ler junto com a fantasia. Acho
o amor um tema fantástico e com muitas vertentes, por isso não há limites para
criações de histórias e o melhor, todo mundo tem a chance de contar uma
história, diferente da fantasia que requer uma imaginação formidável.
Ben Oliveira: O conto é um gênero desvalorizado pelo leitor
brasileiro?
Leandro Schulai: Demais, mas acredito que por falta de
cultura e divulgação. Não se vê nas livrarias antologias em destaque, acho que
o mercado como um todo não gosta disso, por questões variadas que vai do direito
autoral até mesmo à promoção do trabalho. É muito mais fácil divulgar um livro
só que tem a chance de virar uma transmídia do que um livro com 20, 30
histórias diferentes.
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Capas da antologias de contos de amor que foram organizadas por Leandro Schulai. |
Ben Oliveira: Por muitos anos, você gravou vídeos sobre
livros e eventos literários para o seu canal do Youtube, Na Mira dos Livros, e
agora está de volta repaginado. Quais motivos o levaram a essas transformações?
Leandro Schulai: Infelizmente, aprendi que só tenho duas
mãos e 24 horas para fazer tudo. Desde trabalhar, sair, estudar, escrever, dar
atenção às pessoas que amo e divulgar meus trabalhos. Percebi que o canal me
exigia demais e para ter o retorno que eu queria, teria de abrir mão de coisas
que não queria mais, por isso resolvi dar uma pausa. Agora, com a repaginação,
acredito atingir mais o meu público específico numa sazonalidade que me permita
uma qualidade de vida maior.
Ben Oliveira: Como você avalia a questão dos vlogs
literários no Brasil?
Leandro Schulai: Eu acho fantástico, mas tem que ser melhor
trabalhado. Acho incrível vlogueiros tão bacanas que fazem pessoas se tornarem
fãs e até começarem a ler por causa dos canais e isso é maravilhoso, mas eu sou
daqueles que se entra é pra fazer bem feito, por isso qualquer vídeo meu que
ache tosco, eu fico com vontade de me jogar da janela e olha que já tive
algumas vezes (rs). Eu super apoio e acho que quanto mais divulgações tivermos,
mais poderemos mudar a realidade de um país em que 500 mil pessoas zeram na redação do ENEM.
Ben Oliveira: Os vlogueiros e blogueiros literários têm
colaborado para o incentivo à leitura e recomendação de livros
internacionais e promoção da
literatura nacional. Com base na sua experiência dos dois lados, por que é
importante este apoio?
Leandro Schulai: Do meu ponto de vista como escritor
nacional, eu não tenho marketing, força e receita necessária para sair
divulgando meu livro sozinho pelo Brasil, muito menos a editora. Então, os
blogs fazem esse papel e muito bem feito. Os blogs me ajudaram demais a vender
e divulgar meus livros. E não só isso, com as críticas consegui me aprimorar e
melhorar meus trabalhos e até a avaliar as antologias, por isso os blogs não só
promovem, como amadurecem o escritor e o preparam para o futuro, pois o livro
pode ser seu filho, mas você aprende que filhos são criados para o mundo e não
para você.
Ben Oliveira: O autor brasileiro, além de escrever bem,
precisa estar atualizado sobre as diversas ferramentas de publicação e
interação com leitores que não param de aumentar. O Vale dos Anjos conta com
mais de 2 mil curtidas no Facebook e várias interações no Skoob. Como o
Marketing Digital tem contribuído para a divulgação de seus livros?
Leandro Schulai: Sem o marketing digital não teria vendido
20% do que vendi. Imagina para eu vender meu livro sem a internet no Brasil
inteiro? Teria de viajar todo fim de semana para um estado diferente, gastando
com passagens, hospedagens, traslado e alimentação. Imagina a loucura? A
Internet me permite divulgar meu livro no mundo todo sem sair da cadeira, então
é fascinante e eu busco a todo o momento divulgar meu trabalho incessantemente.
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Na Mira dos Livros está de cara nova. Foto: Reprodução / Youtube. |
Ben Oliveira: Atualmente, publicar um livro não é tão
difícil, com o aumento do número de editoras e opções de autopublicação
(impressos e eBooks). Por que é importante para o escritor participar de
eventos, como lançamentos e palestras?
Leandro Schulai: Para conhecer quem são as pessoas, como
elas se portam, colher experiências e principalmente, saber em quem confiar e
evitar fechar contrato com uma editora que só queira dinheiro no bolso e depois
te largue por aí. Um autor experiente e que conhece o mercado, com certeza,
evitará tiros no pé.
Ben Oliveira: No dia 07 de janeiro foi comemorado o Dia do Leitor no Brasil. Por que você acredita que o índice de leitura no Brasil ainda
é tão baixo? Quais atitudes podem ser tomadas para melhorar a situação?
Leandro Schulai: As escolas ainda têm a mentalidade de fazer
os alunos iniciarem a escrita com livros clássicos de Machado de Assis e Eça de
Queiroz. Esses livros são fabulosos, mas você tem de ter maturidade de leitura
para entendê-los e uma criança de 10 anos não tem e isso faz com que ela ache
os livros uma porcaria. Isso tem melhorado bem, principalmente com o cinema que
traz best-sellers a todo o momento, mas a leitura tem de ser algo para a
criança tão legal quanto jogar no celular ou assistir a televisão senão ela
sempre será a última opção e aí veremos o que vemos.
Ben Oliveira: O leitor pode aguardar uma continuação da
história de Dimítris Saloutros (protagonista da série O Vale dos Anjos)?
Leandro Schulai: Claro! Já estou trabalhando firme para
lançar o terceiro!
Ben Oliveira: Quantos livros no total devem compor a série?
Leandro Schulai: Quatro!
Ben Oliveira: Quais são os seus escritores favoritos?
Leandro Schulai: J.K Rowling, com certeza! Adoro o Philip
Pulman, da Trilogia Fronteiras do Universo; o Martin com as loucuras de Guerra
dos Tronos e, recentemente, o John Green pela maneira como ele escreve para
jovens.
Ben Oliveira: Quais conselhos você daria para quem sonha em
se tornar escritor?
Leandro Schulai: Calma, planejamento e entender que apesar
de ser um sonho, o livro é um negócio e sem planejamento, entender seu público,
suas fraquezas, forças, estruturar um plano de marketing, entender o mercado e
até aonde ele pode te levar, você pode se frustrar. Tenha garra, fé, coragem,
mas a cabeça no lugar.
Ben Oliveira: Para finalizar, quais são os seus próximos
projetos literários?
Leandro Schulai: Repaginar o canal no youtube, lançar a Antologia “De Repente
Nós”, publicar meu terceiro livro do Vale dos Anjos e uma antologia própria de
romances pela Amazon.
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