O livro
Branca dos Mortos e os Sete Zumbis e outros contos macabros, escrito por
Fábio Yabu, com ilustrações de
Michel Borges, de 200 páginas, foi publicado pela
Globo Livros, em 2013. A coletânea de contos tenta unir a essência da tradição dos contos de fadas com uma dose de horror, apresentando uma perspectiva sombria destes personagens tão conhecidos por leitores de todas as idades e impressionando pela imprevisibilidade das tramas.
A obra traz 12 narrativas (11 contos e um poema), com os seguintes títulos, respectivamente: Branca dos mortos e os sete zumbis; João, Maria e os Outros; Os três lobinhos; A vendedora de fósforos e o vingador; Cindehella e o sapatinho infernal; A confissão; Bela Incorrupta; O monstro; O cemitério; Samarapunzel; O fim de quase todas as coisas e O livro da dor.
Eduardo Spohr escreveu o prefácio do livro, no qual ressalta a importância destas narrativas folclóricas, cujas criaturas simbolizam alguns traços de personalidade que carregamos, sejam de traços bons ou ruins. O escritor cita alguns dos autores da literatura que serviram como inspiração e referência para Fábio Yabu produzir suas narrativas, como Hans Christian Andersen,
Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraft, Neil Gaiman e os irmãos Grimm.
“Caso seu coração já não estivesse apodrecido, a bruxa sentiria algum remorso, pediria perdão pelos horrores que perpetrou pela vida, pois, naquele momento, ela recebera a confirmação de que o mal absoluto de fato existe. Estava bem diante dela, na forma de sete pequenos anões putrefatos que emergiram do interior da mina” – trecho do conto Branca dos Mortos e os Sete Zumbis.
O primeiro conto do livro é o que dá nome à coletânea, Branca dos Mortos e os Sete Zumbis, cuja referência não poderia ser mais óbvia, mas engana-se quem pensa que mesmo pelos títulos dá para ter ideia do que vem pela frente. Fábio Yabu desenvolve suas narrativas, pingando sangue, vômito e veneno, sem medo de explorar o grotesco e provocar estranhamento no leitor tão acostumado com as versões leves dos contos de fadas, ainda que originalmente muitas dessas histórias fossem mais pesadas antes de serem adaptadas para as crianças, como uma forma de transmitir lições e educá-las.
Imagine uma floresta com criaturas macabras, uma floresta e uma Branca tentando sobreviver não só às investidas da bruxa, mas dos mortos-vivos. A Branca de Neve deste livro tem muito mais perigos e reviravoltas que o leitor pode aguardar. Desde a primeira narrativa acontece a passagem do leitor para este universo, habitado por personagens que oscilam entre a ingenuidade pura do ser e a maldade sem limites.
“Sem nenhuma lembrança do que ocorrera durante as doze badalas, Cindehella se levantou e correu em direção à porta. Sentiu o peso do vestido, então encharcado de sangue, atrasá-la. Continuou sua fuga enquanto rasgava as roupas, guiada pelo nojo e pelo instinto de sobrevivência” – trecho do conto Cindehella e o sapatinho infernal.
Fábio Yabu também brinca com a rica intertextualidade, com um diálogo com as diversas versões que existiram destes clássicos contos de fadas, como com a intertextualidade – existe uma teia viva que liga suas próprias narrativas, de forma que ainda que os personagens principais sejam diferentes, é possível notar a conexão. Como o próprio escritor Max Mallmann alerta no texto da orelha do livro: “Se você ainda acredita na frase:
“E eles viveram felizes para sempre”, tenha cuidado ao ler este livro”.
A tragédia não é o único elemento unificador, mas os horrores – o que causa medo em um não é necessariamente o que provoca no outro, no entanto a narrativa do gênero terror tem esse papel de estranhar e subverter, como se o narrador não tivesse receios de revirar as entranhas e de usar sangue para escrever suas histórias e passá-las a diante. É como se o escritor pegasse o cérebro do Poe e batesse no liquidificador junto com o de Charles Perrault. Fábio Yabu A tradição do conto de fadas e suas alegorias
Para quem, como eu, é apaixonado por Edgar Allan Poe, Fábio Yabu se inspira no poema O Corvo para produzir o texto O Monstro, levando em conta sua
filosofia de composição, com elementos como o ritmo, a unidade, o efeito poético e a rima. A influência de Poe vai muito além do poema, mas no legado de como ele influenciou outros escritores de ficção que, sem dúvidas, serviram para alimentar o imaginário de Fábio e o inspiraram a seguir a jornada do escritor.
“E dos versos do Corvo de Edgar Allan Poe
Fiz manuais para estes que testemunhais
A criatura adentrou e me olhou
Consumiu por completo minha paz”
Além das narrativas envolventes, o livro traz artes do ilustrador Michel Borges (com o qual Fábio Yabu já trabalhou em Combo Rangers) que servem como combustível para nos direcionar e viajar com mais vontade pelas páginas. É tão bom quando é produtiva essa parceria entre escritor e ilustrador. As imagens conseguem captar bem os aspectos sombrios, tornando os contos muito mais visuais na hora de imaginá-los.
Branca dos Mortos e os Sete Zumbis e outros contos macabros é um destes livros que instiga a imaginação e nos proporciona este universo borbulhante, onde bruxas e pessoas da realeza, humanos e monstros, criaturas boas e malvadas não só convivem juntos, como suas linhas se cruzam muitas vezes e Fábio Yabu desenterra o que há de mais podre e insidioso, a ponto de se formar uma corrente do mal.
Sobre o autor – Fábio Yabu nasceu em 1979, em Santos (SP). Suas histórias já fazem parte da vida de duas gerações. Aos 17 anos, criou uma das primeiras histórias em quadrinhos para a Internet no mundo: Combo Rangers. Em 2004, lançou Princesas do Mar, livro que ele mesmo transformou em desenho animado, hoje exibido em mais de 100 países. É também autor de outros livros infantis premiados.
Na literatura juvenil, publicou a graphic novel Independência ou Mortos, e, no romance A Última Princesa, transformou a vida da Princesa Isabel num conto de fadas. Branca dos Mortos e os Sete Zumbis é o seu primeiro projeto como autor da Globo Livros.
Sobre o ilustrador – Michel Borges vive em Santo André (SP) e é formado em Publicidade. Como autor de histórias em quadrinhos, já desenhou e escreveu algumas obras, como o álbum Anarriê, publicado em 2010, pela HQ Maniacs Editora, por incentivo da Secretária de Cultura do Estado de São Paulo. Atualmente é o principal artista do retorno dos Combo Rangers, também participa da produção da webcomic nacional de Elsworld.
Como ilustrador de livros infantis e didáticos, realizou trabalhos para editoras como a Scipione e Saraiva, entre outras, além de ilustrar matérias para revistas. Para a editora Nerdbooks e, posteriormente, Globo Livros, ilustrou o livro Branca dos Mortos e os Sete Zumbis.
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O livro pode ser comprado nas seguintes livrarias: Amazon, Livraria da Folha, Livraria da Travessa e Saraiva
*Ganhei o livro Branca dos Mortos e os Sete Zumbis em um sorteio realizado pelas blogueiras do Sure, We Have a Blog. A leitura foi muito prazerosa... Obrigado pela oportunidade de conhecer mais um livro de ficção brasileira contemporânea! ;-)
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