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Fora de Sincronia

Conectados, mas fora de sincronia. Era como os dois estavam. Não sabia como resolver a situação, antes que se tornassem dois completos estranhos. No meio de tantos ciclos terminando, tinha acreditado que um novo ciclo se manteria.  As horas que passavam conversando se transformaram em minutos, e então, em segundos. Já sabia que isso ia acontecer e tentara antecipar o fim várias vezes, então por que estava tão incomodado? Sentia saudades e não sabia como verbalizar? Não importava. Foi deixando o outro cada vez mais livre, até que as mãos que um dia tinham se tocado se voltaram para os dedos que haviam deslizado pela última vez. Parte de seguir em frente era também como deixar as coisas irem, seguirem seu ciclo natural. Não adiantava criar qualquer forma artificial de manter o contato vivo, só precisava aceitar as coisas como elas eram. Cansado de aceitar que tudo tinha sua finitude, foi cada vez menos se abrindo a novos inícios – se todos estavam fadados ao fim, por que se dar ao tr...

Edgar Allan Poe: A Filosofia da Composição

Em seu ensaio A Filosofia da Composição (The Philosophy of Composition), de 1846, o escritor Edgar Allan Poe compartilha um pouco da maneira que ele constrói suas próprias narrativas, pensando nos efeitos que o texto pode provocar no leitor. Poe seleciona um dos seus mais conhecidos poemas, O Corvo (The Raven), a partir do qual ele explana passo a passo como o compôs.
Imagem: Édouard Manet (1874) / Domínio Público.

A influência do ensaio sobre a criação literária afasta um pouco da visão de que o escritor escrevia somente quando estava inspirado, mas era um planejador – afastando a perspectiva de que a produção literária era fruto das musas e o artista era um instrumento para dar voz a essas ideias.

“É meu desígnio o de manifestar que nenhum ponto da composição se relaciona ao acaso ou intuição – que o trabalho procede passo a passo, para sua completude, com precisão e sequência rígida de um problema matemático” Edgar Allan Poe (Trad. Oscar Mendes e Milton Amado)

O primeiro ponto levantado por Poe é o da intencionalidade. Ele defende que se tendo em vista o epílogo ou como a história termina, é possível ao autor construir o enredo, de forma que os eventos estejam relacionados, dando um aspecto de causalidade. Edgar Allan Poe criticou os escritores que construam suas ficções sem levar em conta o efeito que as narrativas poderiam causar ao coração, inteligência e alma dos leitores.
Imagem: John Tenniel (1858) / Domínio Público.

Sobre a extensão da obra literária, o escritor fala sobre a unidade de impressão, efeito presente em textos que podem ser lidos em uma só sentada, diferente dos mais longos que acabam dispersando o leitor. Para Poe, a extensão do poema deveria ser calculada em relação ao efeito poético que produziria e afirma que O Corvo tem 108 versos.

“A beleza de qualquer espécie, em seu desenvolvimento supremo, invariavelmente provoca na alma sensitiva as lágrimas. A melancolia é, assim, o mais legitimo de todos os tons poéticos” – Edgar Allan Poe (Trad. Oscar Mendes e Milton Amado)

Com seu poema, Edgar Allan Poe tentou satisfazer a Verdade (excitação do intelecto), Paixão (excitação do coração) e Beleza (excitação da alma). Por meio deste planejamento, ele deu um tom de tristeza ao texto.
Imagem: Gustave Doré (1883) / Domínio Público

Em relação ao efeito artístico, Poe fala sobre o refrão poético e de como utilizou o recurso para criar uma monotonia de som (o termo Never More além de ser melancólico, é repetido ao longo do poema e escolhido para ser repetido pelo corvo), mas com variação de ideia. O escritor considerava a morte de uma bela mulher o tema mais poético do mundo. Ainda sobre a versificação, Poe afirmou que sua originalidade tinha pouca relação com impulso ou intuição e sim com uma procura trabalhosa.

“A ideia de fazer o amante supor, em primeiro lugar, que o tatalar das asas da ave contra o postigo é um "batido" à porta, originou-se de um desejo de aumentar, pela prolongação, a curiosidade do leitor, e de um desejo de admitir o efeito casual surgindo do fato de o amante abrir a porta, achar tudo escuro e depois aceitar a semifantasia de que fora o espírito de sua amada que batera”. – Edgar Allan Poe (Trad. Oscar Mendes e Milton Amado)

Outro elemento destacado pelo autor é o local. A princípio ele considerou uma floresta, depois chegou a conclusão que um espaço fechado criaria um efeito melhor, como um enquadramento. Poe também descreve como introduziu a ave ao personagem e como a ambientação e contrastes ajudam a dar um ar fantástico, que posteriormente é quebrado pelo próprio amante e leitor, com um tom simbólico do Corvo, como uma “recordação dolorosa e infindável”.

Ficou com vontade de ler o ensaio? A Filosofia da Composição está disponível nos links a seguir:

Em Inglês: http://www.lem.seed.pr.gov.br/arquivos/File/livrosliteraturaingles/filosofiadacomposicao.pdf

Em Português: www.ufrgs.br/proin/versao_2/textos/filosofia.doc 

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