Relaxar é muito mais fácil na teoria do que na prática. Desarmar o sistema de alarmes da ansiedade que, vez ou outra, pode apitar ainda que nada esteja acontecendo. É somente ao aceitar se soltar do peso de estar alerta o tempo inteiro que conseguia aproveitar o momento presente. Não poderia fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Era abrindo mão do controle que se permitia encarar as coisas como elas eram. O excesso de controle não faria o problema desaparecer. Pelo contrário, muitas vezes precisava de uma distância saudável para se autorregular. O medo e a ansiedade significavam que era algo que precisava prestar atenção, mas também eram lembretes de não levar tão a sério. No final das contas, estar bem era muito mais do que não estar em crise. O excesso de ansiedade poderia dar uma falsa ilusão de que tudo estava sob controle, mas era ao abrir a mão e confiar que conseguia voltar a viver: era mais do que um diagnóstico. Ao mover a atenção, pouco a pouco ia se permitindo viver o aq...
A Morte do Artista é o título de um mini conto publicado aqui no blog e no Wattpad (Fragmentário). Gosto de histórias nas quais os personagens questionam suas escolhas. Acredito que faz parte da natureza humana. Ao longo da vida nos afastamos de nós mesmos. A escrita e a arte podem incomodar ao nos fazer refletir e apertar as feridas. Todos nós fazemos sacrifícios. Não dá para ter tudo.
A figura do artista ainda é tão incompreendida e mesmo quando se dedica profissionalmente ao ofício, muitas vezes, recebe olhares de estranhamento e é questionado o tempo todo sobre procurar algo mais 'normal'. Mas o trabalho do artista não é duvidado somente por aqueles que 'só querem o seu melhor'. Dentro do próprio meio artístico, existem diferentes visões sobre quem tem uma profissão e se dedica à arte e quem ganha a vida profissionalmente só como artista.
Nesse jogo de expectativas, o prazer criativo dá espaço à amargura e à destruição. Me lembro de ter lido um ensaio do Elias Canetti no livro A Consciência das Palavras, que dizia que Hitler era um artista frustrado e sua inteligência e processo criativo obstruído o levaram a se tornar um ditador. Não é algo tão difícil de perceber no dia a dia. Os romances e o mundo real estão repletos de professores de literatura, por exemplo, que abandonaram a escrita e se tornam autoritários em sala de aula. Não é à toa que muitos estudantes se desencantam dos livros: o que deveria ser algo prazeroso, em alguns casos, é tratado como mera obrigação.
E você, o que tem feito pelos seus sonhos?
Assista ao vídeo A Morte do Artista (Ben Oliveira):
Este não é o meu primeiro texto sobre o assunto, tampouco acredito que será o último. No livro Remetente N.15, escrevi um conto sobre uma personagem que era romancista e abandona sua escrita para se casar, incentivada pela própria mãe. Há quem veja a protagonista como alguém prestes a enlouquecer, há quem entenda sobre tudo o que ela precisou abrir mão ao longo da vida. Cuidar de si mesmo não é um ato de egoísmo. Entre o presente e o passado, o leitor descobre um pouco do desespero da personagem e o que a levou a chegar até aquele ponto. Amélia nos leva para o seu beco das ilusões.
Em Escrita Maldita, o protagonista do livro é um escritor de terror. Daniel Luckman é um cara de sorte. Quantos autores conseguem se dedicar exclusivamente à escrita porque o seu primeiro romance se tornou um best seller internacional? Todavia, todo mundo sabe que só um livro na lista de mais vendidos não é capaz de garantir sossego para um autor. A sorte sorri mais uma vez para ele quando um editor o convida a escrever um livro junto com Laurence Loud, um dos autores mais populares dos últimos tempos. A escrita é a salvação de Daniel, mas também é o que o condena.
*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon (entre os ebooks mais vendidos de horror na loja Kindle) e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad.