Por que eu não gosto de ser acompanhado no meu perfil pessoal por muitos familiares de autistas? Não gosto que queiram saber minhas vivências, como fazem com outros autistas?
Texto da imagem:
Os autistas com altas habilidades (dupla excepcionalidade) podem compensar as limitações usando habilidades cognitivas, navegando em situações sociais e se adaptando aos desafios da vida cotidiana (Autism Calgary).
Todos autistas são diferentes. Eu repito isso quase que diariamente. Muita gente fica comparando experiências e vivências, achando que por estarem no mesmo grau, vão encontrar as respostas que precisam.
Spoiler: Nem sempre.
Dois autistas podem ser completamente diferentes. Dois aspies podem ser completamente diferentes.
Existem muitas dificuldades que alguns aspies têm na vida adulta, que eu tinha na infância ou adolescência. Isso significa que eu preciso esconder que me adaptei? Não. Significa que somos todos diferentes e sou mais adaptável em alguns aspectos.
Isso me torna um fake autista? Não. Muita gente esquece das variações dentro do espectro autista e tenta generalizar o tempo inteiro. Do mesmo modo, não existem dois autistas graves e moderados iguais. Somos seres humanos. Cada cérebro autista é como uma identidade própria.
Nossos hiperfocos, estimulações, bagagens educacionais, questões neurobiológicas e genéticas, inteligências etc. Existem inúmeros fatores que influenciam no nosso grau de adaptação e autonomia.
Alguns
autistas com diagnósticos tardios (vida adulta) acabaram se adaptando por necessidade de sobrevivência. Para alguns foi uma experiência ruim.
Para mim e alguns amigos, foi um 'laboratório humano', Nós aprendemos o que fazer, o que não fazer, sem acompanhamentos de profissionais. Aprendemos por observação e repetição de comportamentos. Por exemplo, somos menos manipuláveis e influenciáveis, fazemos nossas próprias escolhas e não temos medo de dizer 'não'.
Autistas com altas habilidades têm algumas características que diminuem nossas dificuldades, como o pensamento criativo (que ajuda a encontrar soluções para problemas), mais flexibilidade mental (mesmo com as dificuldades de empatia do autismo, podemos ter mais jeito com as pessoas) e
mais autonomia (muitos têm dificuldades financeiras, mas dão seu jeito para se virar nos desafios do dia a dia).
Então, se eu acho justo comparar minhas vivências com as dos outros? Não. Não acho que ninguém deveria ficar se comparando. Todos aprendemos, amadurecemos e vamos nos adaptando ao longo da vida, alguns mais, outros menos, e é mais complexo do que as pessoas desejariam:
Ignorar as diferenças do cérebro dentro do próprio espectro autista, inteligência, sensibilidades sensoriais etc. e jogar tudo no mesmo pacote, não é nada esperto.
Aspergers, por exemplo, foram inclusos no Espectro Autista por causa dos direitos. As pessoas que adotam o termo aspergers, não adotam porque "se acham superiores"; adotam porque esta é a classificação de autistas com leve ou nenhum prejuízo de linguagem funcional e sem deficiência intelectual
(CID-11 vem aí só em 2022).
Todos aspies são iguais? Não! Aspies com altas habilidades são iguais? Absolutamente não! O que um pode ter como ilha de conhecimento, o outro pode não ter. O que é fácil para mim, pode ser impossível para outro.
Então, vamos ter mais consciência na hora de abordar o autismo. Não se trata meramente de uma questão social, mas também neurobiológica. Além de ser irresponsável e incoerente, pode confundir quem não entende do assunto. O apoio que um Asperger precisa pode ser completamente diferente de outro Asperger, de um autista com atraso de linguagem, de um autista que precisa de mais apoio e por aí vai... Não vamos tentar reinventar o fogo, né?
*Ben Oliveira é escritor, blogueiro, jornalista por formação e Asperger. É autor do livro de terror
Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem
Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e
O Livro (Vol. 2), disponíveis no
Wattpad e na loja Kindle.
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