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Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Resenha: Candyman – Clive Barker

Um presente para os leitores de Clive Barker, assim é a edição para colecionadores de Candyman, publicada pela editora DarkSide Books, em janeiro de 2019, com tradução de Eduardo Alves e posfácio de Carlos Primati.


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Candyman (The Forbidden) é um conto, portanto a leitura é enxuta, mas envolvente, e transporta o leitor para o clima de lendas urbanas. Embora já não sejam mais comuns na tradição oral e tenham ganhado o ambiente virtual, histórias sobre acontecimentos assustadores e questionáveis fazem parte da existência humana.

Com uma atmosfera sombria e mais urbana, Clive Barker leva o leitor ao gueto, onde a violência e a criminalidade por si só já contrastam com a realidade de outros bairros da cidade e acabam tão banalizadas que a história faz a personagem principal, Helen, se interessar pelo caso contado por uma das moradoras.

“E as histórias que contaram para ela – seriam confissões de crimes não cometidos, relatos do pior que se pode imaginar, inventados para evitar que a ficção se tornasse realidade? Era como se o pensamento perseguisse a própria cauda: essas histórias terríveis ainda precisavam de uma causa primária, uma fonte da qual saíram” – Clive Barker, Candyman

O que Helen mal poderia imaginar é que da mesma forma que cada pessoa se conecta de uma forma diferente com as lendas urbanas: há sempre alguém que acredita, há sempre quem é cético; para mostrar a sua pesquisa sobre pichações urbanas e para ir a fundo do que realmente teria acontecido na Spector Street, sua curiosidade e ambição podem ter um preço muito alto.

Gradualmente, Clive Barker vai seduzindo o leitor em um jogo duplo: texto e narrativa se envolvem, conforme o autor nos guia para os caminhos da personagem e ela mesma é confrontada com o poder do mito – para que as lendas assustadoras façam sentido, alguém tem que escutá-las e passar para frente; alguém precisa acreditar, caso contrário, qual seria seu propósito?

Uma vez dentro do próprio jogo, Helen se envolve mais do que deveria e testemunha os horrores silenciados. As histórias, as pichações, os últimos acontecimentos estranhos, tudo se conecta e parecia um convite para que ela provasse o mesmo gostinho da inexplicável experiência que ora estampa os jornais e choca pela violência, ora se perde em meio às fofocas e acaba se transformando em lendas urbanas.

Como dá para perceber pela finura da obra, o conto vai até a página 89 e depois tem um posfácio abordando alguns dos elementos presentes na narrativa de Clive Barker, que também foi adaptada para filme. O diferencial da edição talvez seja esse destaque para a obra, que muitas outras editoras só apostariam no máximo em formato de eBook ou publicaria junto com outros contos.

Adaptado em 1992 pelo diretor Bernard Rose, Candyman vai ganhar uma nova versão cinematográfica. Com previsão para estreia para junho de 2020, o filme está sendo dirigido por Nia DaCosta e tem roteiro de Jordan Peele, inspirado na obra de Clive Barker.

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*Ben Oliveira é escritor, blogueiro, jornalista por formação e Asperger. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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