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Destaques

Suspensão do X (antigo Twitter): Bluesky se torna refúgio para milhões de brasileiros

Com a suspensão do X (antigo Twitter) no Brasil , duas redes sociais serviram de refúgio para os usuários brasileiros: a Thrends e a Bluesky , sendo que a última está se destacando e entre os aplicativos mais baixados por ter um formato mais parecido com o antigo Twitter. Jornais, jornalistas, artistas, escritores, leitores, produtores de conteúdo, páginas de fofocas e cultura e contas de fãs de artistas (fandom) estão entre os que se inscreveram na Bluesky, ajudando a diminuir a abstinência deixado pelo X e a sensação de deserto de informações, já que a plataforma não era usada só para questões políticas e entretenimento, mas também para consumir conteúdos jornalísticos e informações em tempo real. Enquanto alguns estão desanimados e com preguiça de recomeçar, tentado encontrar os seguidores em comum que tinham no X, há quem esteja animado com a possível atualização, na qual estariam disponíveis o uso de vídeos e os assuntos do momento – curiosamente, há quem esteja contente sem a o

Roll Red Roll: Documentário mostra esforço coletivo para investigar estupro em cidadezinha dos Estados Unidos

Com um início bastante incômodo, trazendo áudios com insinuações comemorativas de jovens após cometer e/ou presenciar estupro, o documentário de crime real Roll Red Roll (Rede de Abuso) traz relatos de um caso chocante que aconteceu em 2012, nos Estados Unidos, na pequena cidade de Steubenville, em Ohio. O filme norte-americano foi dirigido e produzido por Nancy Schwartzman, lançado originalmente em 2018. No Brasil, é possível assisti-lo na Netflix.

Por trás da tranquilidade de muitas cidades pequenas se escondem histórias de silenciamento. Um dos entrevistados para o documentário disse que na época dele, esses casos levavam à suspensão por alguns dias dos jovens, mas não à prisão. O pior no caso de Steubenville foi perceber que muitos moradores da cidade não tinham consciência sobre o quanto era errado culpar a vítima e proteger os abusadores, o que fez com que a história se espalhasse pela internet.

“A completa falta de empatia é o que assusta”, declarou Alexandria Goddard, a blogueira e ativista que descobriu sobre o caso e divulgou, já que muitos jornais da região pareceram ignorar. Ela ficou chocada com os comentários feitos nas redes sociais relacionados ao período em que o crime aconteceu, antes mesmo que fosse investigado pela polícia. De forma independente, ela conseguiu coletar informações suficientes para levantar uma discussão em seu blog sobre o possível envolvimento de jovens jogadores de futebol americano e testemunhas.

O documentário mostra como o caso repercutiu na comunidade, bem como o papel que a internet teve nas investigações, pela quantidade de registros feitos com data e horário no Twitter e outras mídias sociais, ajudando a reconstruir as cenas – a vítima havia perdido a consciência, mas por causa da cultura de estupro, muitos dos jovens não perceberam a gravidade de suas atitudes, tampouco notaram que estavam se incriminando mais ainda ao expor na internet fotos, vídeo e comentários grotescos.

Com a divulgação da história no blog, aconteceram desdobramentos inesperados. A história chegou até a jornalista Rachel Dissell que foi até a cidade investigar melhor e entender se havia algo na cultura regional que colaborou para o silêncio e proteção dos agressores. Além disso, também atraiu a atenção do grupo de hackers Anonymous, que espalhou um vídeo sobre o caso e pediu para internautas compartilharem e resultou numa manifestação onde jovens e mulheres falaram sobre a violência sexual que sofreram.

Um ponto interessante do documentário foi a utilização de filmagens do detetive J.P. Rigaud entrevistando algumas das testemunhas e um pequeno trecho do julgamento. Nesse aspecto, por conta de questões relacionadas à privacidade da vítima e dos demais envolvidos, o documentário deixa a desejar, pois não se aprofunda tanto na parte criminal e sim nos aspectos culturais.

Devido à gravidade do tema e o constrangimento das pessoas em cidades pequenas, a intenção inicial do documentário era dar um olhar sobre a questão cultural relacionada ao abuso, mas por causa da complexidade do assunto, nesse aspecto, o documentário falhou em não ter entrevistado diferentes especialistas para demonstrar que a gravidade do silenciamento vai além da busca por justiça e suas implicações para a saúde mental e necessidade de melhor conscientização.

O documentário Roll Red Roll ganhou seis prêmios no ano de sua estreia e em 2019. Se ignorarmos o que poderia ter sido melhor em termos técnicos e nos focarmos na história que foi contada no filme, a lição que passa é a de que em muitos casos, a justiça social só é alcançada por meio de um esforço coletivo. 

Se a blogueira ativista, a jornalista, os hackers, o detetive, as testemunhas e a pressão de familiares preocupados com seus próprios filhos não tivessem acontecido ao mesmo tempo, talvez o caso teria permanecido sem solução. Seguindo os vieses de muitos dos moradores da cidade, até mesmo das jovens, a vítima não deveria estar lá e de alguma forma foi responsável – ignorando que ela tinha bebido, estava inconsciente e os crimes foram além do ato, mas também dos registros fotográficos e audiovisuais e da exposição e humilhação na internet.

Roll Red Roll dá um alívio ao nos lembrar que existem pessoas lutando por uma sociedade mais justa, ainda que em muitos lugares e situações a sensação que se tem é a de que estão remando contra a maré. Também reafirma o perigo de manter o silêncio diante de crimes que podem se tornar recorrentes, especialmente quando determinadas figuras usam seu ‘poder social’ como um passe livre e proteção.

Para quem gosta de leitura, a história me lembrou um pouco do livro Adeus, Promessas, da autora Kristin Halbrook.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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