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Cassandra: Série alemã thriller sobre uma perigosa casa inteligente

A série alemã Cassandra mal estreou e fez certo sucesso na Netflix . Com uma trama envolvendo uma casa inteligente (smart house), a série mostra um cenário desastroso no qual uma família se torna vítima das ações fora de controle de um projeto sobre transferência de consciência conectada em todos pontos e nos quais, eles estão sempre sendo observados. O que mais me chamou a atenção na série foi conferir que ela se passa em dois tempos e como a tecnologia foi implementada no passado, apesar de não focarem muito nisso. Diferente do foco ser na tecnologia aplicada, acaba se tornando os elementos humanos que serviram de espelho para sua criação, uma mulher motivada pela necessidade de controle e vingança. A série toca em alguns pontos, como a manipulação (gaslighting), fazendo a mãe da família achar que está ficando louca e sendo duvidada pelos outros, enquanto eles se tornam, literalmente, reféns de sua própria casa. Apesar de ter um estilo mais retro, a série ganha atenção do público p...

Livro explora origens do Impeachment e aborda casos de ex-presidentes do Brasil

O termo impeachment se popularizou nos últimos anos no Brasil. Antes restrita a um público mais interessado em política e direito, a palavra entrou no vocabulário de centenas de milhares de brasileiros. Para quem quiser entender melhor sobre o assunto, recomendo o livro Como Remover Um Presidente: Teoria, História e Prática do Impeachment no Brasil, do autor Rafael Mafei, publicado pela Editora Zahar, em 2021.

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Dos episódios históricos em outros países nos quais algumas figuras políticas eram afastadas e executadas por traição, até definições mais precisas sobre os crimes de responsabilidade e aproximação do processo de impeachment atual, no qual o presidente poderia ser afastado, mas não mais sofrer pena de morte, o livro ajuda a entender melhor as origens e a importância deste procedimento presente na Constituição.

Se você é o tipo de pessoa que gosta de saber um pouco mais da história do Brasil e do mundo, o livro do Rafael Mafei te leva para casos que embora tenham sido marcantes, não são necessariamente tão conhecidos pela geração atual, como o Impeachment de Fernando Collor. De um presidente eleito por um povo cheio de esperanças que o via com muito otimismo, em 1990, dois anos e meio depois, as estatísticas de satisfação praticamente se inverteram.

Mafei explicou que o impeachment se dá pela combinação de vários fatores. Entre os elementos que levaram ao impeachment de Collor, segundo o autor, estavam a incapacidade de organizar as relações com o Congresso; Perda de apoio do empresariado; Desconexão com o vice; a forte oposição; protestos de rua e insucesso do plano econômico. 

Qualquer coincidência com o que aconteceu no período de Collor e o levou ao impeachment e o que tem acontecido atualmente no Brasil de Bolsonaro, só faz o leitor refletir sobre como além dos vários elementos, o presidente atual cometeu inúmeros outros erros, crimes e posturas incoerentes com o cargo. Longe de o impeachment ter se banalizado, revela que mesmo diante de tantos absurdos cometidos por governantes, há sempre um elemento político que torna a decisão mais viável ou meramente especulatória.

É impossível não comparar as situações de outros presidentes com a do atual presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro. Existem muitos pontos em comum, mas como o contexto era outro e de lá pra cá, muita coisa mudou, como os avanços da tecnologia e mais pautas sociais, além das preocupações com a economia, a quantidade de organizações que já apoiaram o impeachment de Bolsonaro, por exemplo, é muito maior do que a que existia na época de Collor. Pior ainda, com a globalização, a imprensa de inúmeros países vê com desgosto as posturas do presidente e se pergunta até quando o Brasil vai tolerar.

Assim como no Brasil foi instalada a CPMI das Fake News em 2019 e atualmente, a CPI da Pandemia tem ganhado apoio da população brasileiro e marcado presença nos jornais do país e de outras partes do mundo, antes do impeachment de Collor, em 1992, uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito investigou as atividades de PC Farias no governo Fernando Collor de Mello e seis meses após levou à renúncia e depois ao impeachment.

“Nos escândalos que levam a impeachments, a relação entre mobilização popular e instituições é complexa: a ira do povo impulsiona as instituições, mas é simultaneamente alimentada pelo trabalho dessas mesmas instituições, que podem usar sua atuação para direcionar e alimentar o descontentamento popular contra um determinado alvo. Manifestantes na rua impulsionam impeachments, mas o trabalho das instituições, sobre tudo quando amplificado pela imprensa, ajuda a converter cidadãos passivos em manifestantes” – Rafael Mafei, Como Remover Um Presidente

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também sentiu o peso das CPIs e 24 pedidos de impeachment foram protocolados contra ele. Porém, segundo Rafael Mafei, nenhum deles teve tração suficiente para romper o escudo legislativo criado por FHC e que essa atitude tomada por presidentes em situações de crise pode custar bastante aos cofres públicos, pois nem sempre fica claro quanto foi gasto para fortalecer a blindagem contra o impeachment – algo que ficou escancarado na gestão de Jair Bolsonaro, que mesmo com mais de 120 pedidos de impeachment, nenhum foi aberto até o momento.

Pelos breves momentos históricos de outros presidentes, como Lula e Dilma Rousseff, fica evidente o peso que o cenário econômico e a força política tem na decisão de abrir um impeachment ou não. Enquanto o governo de Lula foi envolvido em alguns escândalos, como o Mensalão, ele não foi afastado, mas Dilma caiu por causa das Pedaladas. Rafael Mafei também lembrou da incoerência de quem queria o impeachment dela sem levar em conta Michel Temer, que logo após o fim do mandato, chegou a ser preso e Aecio Neves que concorreu contra a Dilma e colocou em dúvida os resultados da eleição em 2014, tanto Temer como Neves estavam envolvidos na Lava Jato.

“Um impeachment, mesmo quando cabível, é sinal de fracasso dos meios menos traumáticos de contenção de abuso de poder. É uma medida extrema que pode salvar as instituições e deve ser empregada quando não há alternativa, mas não está isenta de custos para a reputação do país” – Rafael Mafei, Como Remover Um Presidente

É curioso ver como muitos brasileiros não sabiam a razão pelo qual a Dilma sofreu o impeachment. Enquanto a motivação de crime de responsabilidade por pedalada fiscal foi ponto central, Rafael Mafei comentou que muitos brasileiros participavam de manifestações de ruas em apoio à Operação Lava Jato e movidos por um sentimento de anticorrupção, acreditavam que a motivação era essa. Até hoje, muitas pessoas desconhecem o que realmente aconteceu e quais foram os papéis dos políticos e autoridades relacionados ao impeachment.

O polêmico impeachment da Dilma é analisado pelo autor do livro. Rafael Mafei discute algumas das principais alegações, tanto de quem foi contra, como de quem foi a favor, mostrando um pouco da confusão política que paira no Brasil. É interessante acompanhar a perspectiva do autor, pois muitas vezes o que se vê nas redes sociais é uma série de visões pautadas nas emoções e menos na razão, entre aqueles que dividem entre os que dizem que foi golpe e os que dizem que não foi, quando o certo seria analisar o crime de responsabilidade em si. Mafei também acredita que o termo golpe dá um toque militar, passando uma impressão diferente já que o impeachment foi votado por políticos.

A parte final do livro e talvez uma das mais esperadas por muitos brasileiros aborda o possível impeachment de Jair Bolsonaro. Para Rafael Mafei, causa perplexidade nenhuma das mais de 100 denúncias terem sido consideradas, diante de tantos ataques à Constituição. 

O autor também lembra do poder da retórica que presidentes têm e como suas falas influenciam a população: em plena pandemia, Bolsonaro incentivou pessoas a invadirem hospitais para mostrar que as internações por Covid-19 eram falsas e fez com que muitas pessoas cobrassem dos seus médicos a receita por tratamentos sem comprovação científica, como a Cloroquina e Ivermectina, entre inúmeros outros casos que já foram noticiados e lembram da importância do cuidado com as palavras em relação às instituições democráticas e à saúde pública.

“Juridicamente, o debate sobre a prática de crimes de responsabilidade por Bolsonaro só não é entediante porque lembra um jogo de bingo: a cada tantos dias pode-se marcar um novo crime cometido na cartela da Lei do Impeachment. Não há dúvidas sobre se Bolsonaro cometeu crimes de responsabilidade, mas apenas quantos e quais crimes ele cometeu” – Rafael Mafei, Como Remover Um Presidente

Escrito no período de abril de 2021, período que não havia tantas manifestações de ruas contra o Bolsonaro, por conta da pandemia, Mafei lembrou que embora seja importante o apoio público ao impeachment, ainda que nos ambientes digitais, a estrutura do congresso também faz diferença, podendo livrar um presidente do processo, mesmo quando o pedido fosse aberto.

Para Rafael Mafei e milhares de brasileiros, não faltam motivos para o impeachment do Bolsonaro, mas o que ainda falta é o elemento político. Se Rodrigo Maia não se atreveu a pedir, a situação com o atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, não parece das melhores. No entanto, diante de tantos crimes e violações, a situação causa indignação, até mesmo ao autor do livro, que recentemente escreveu um artigo para a Revista Piauí intitulado Controlando o tempo do impeachment, no qual ele comenta que Lira não tem o poder de ignorar acusações contra o presidente.

Embora Como Remover Um Presidente seja uma leitura bastante prazerosa e informativa, creio que o autor e a editora deveriam pensar em uma edição futura com fotografias e até mesmo infográficos para tornar o livro mais enriquecedor do ponto de vista histórico e educativo. Apesar de ser uma pessoa que prefere muito mais o texto do que imagens, seria interessante acompanhar tanto registros fotográficos de diferentes períodos da história, bem como os comparativos e alterações que ocorreram ao longo do tempo. 

Se você não é da área de Direito nem tão afeito ao mundo da política, a linguagem do livro é bem acessível a todos que desejam entender sobre o processo de impeachment e de quebra conhecer e relembrar momentos da história envolvendo ex-presidentes do Brasil. Diante dos contextos de impeachments de outros políticos, chega a ser risível e escandaloso perceber como Jair Bolsonaro continua no poder.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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