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Destaques

A terceira semana sem fumar cigarro

Como era difícil criar hábitos positivos. Havia acabado de passar da terceira semana sem fumar cigarro e ainda sentia certo desconforto. Seja para bem ou para mal, descobrira que mesmo após anos, algumas pessoas continuavam lutando contra a vontade de fumar, ou seja, era muito mais difícil do que parecia. Na tentativa de substituir comportamentos negativos por mais saudáveis, se via diante da necessidade de se desapegar um pouco da nostalgia e voltar a se focar mais no momento presente. Havia tomado mais do que o suficiente sua dose de nostalgia e agora estava preparado para continuar seguindo em frente. Era chocante o quanto o cigarro havia segurado comportamentos e ao abandoná-lo, comportamentos que antes estavam sob controle, agora pareciam soltos. Precisava de um detox das redes sociais, como quem sabia que fumar fazia mal. Precisava voltar a focar em si mesmo, deixando o passado de uma vez por todas para trás. Era no momento presente que ia celebrando as pequenas conquistas. Para ...

Resenha: O Colecionador – John Fowles

Thriller de estreia do escritor John Fowles, O Colecionador (The Collector) abordou um assunto que tem se tornado cada vez mais comum, mas que para a época poderia ser chocante. A edição da DarkSide Books publicada em 2018, com tradução de Antônio Tibau, conta com uma introdução instigante escrita pelo Stephen King

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Narrado em primeira pessoa por Clegg, um entomologista que coleciona borboletas e fica obcecado por Miranda, uma jovem estudante de arte, O Colecionador impressiona pela data original de publicação, 1963. Dá para perceber a clara influência que o livro teve em outras obras de suspense e thriller em diferentes formatos midiáticos. O que nos dias atuais pode parecer até trivial devido às notícias e popularização de narrativas ficcionais e reais sobre stalkers, só consigo imaginar a força que o romance thriller teve quando foi lançado.

Clegg oscila entre a ingenuidade de um amor platônico e a possessividade que ecoa até os dias atuais de quem vê um relacionamento amoroso como uma prisão, seja no sentido literal ou metafórico. Devido à narração em primeira pessoa e o contato direto com seus pensamentos, o romance acaba servindo como uma experiência de entrar na mente de um psicótico que, ao mesmo tempo em que age como um sequestrador, ele tenta ignorar o lado sombrio das coisas que fez e demonstra uma visão distorcida de que sente empatia, a ponto de achar que há possibilidade da vítima gostar dele.

Longe de ser alguém experiente na captura e cárcere privado, Clegg é um adulto que parece um adolescente desajeitado em conflito com suas emoções e mesmo quando tenta passar a sensação de que as têm sob controle, Miranda consegue pressioná-lo para testar quais são os limites e as intenções do homem, a ponto de jogar com suas fantasias românticas e possivelmente sexuais, enquanto busca alternativas para tentar fugir do cárcere. 

Enquanto a primeira parte do livro é narrada em primeira pessoa por Clegg, a segunda traz trechos dos diários escritos por Miranda, nos quais ela revela suas artimanhas para provocar seu sequestrador, suas tentativas de fuga e ao passar dos dias é possível acompanhar a estranha dinâmica que se desenvolve entre os dois, bem como isso a faz refletir sobre seus relacionamentos e conflitos familiares.

“Sou uma entre uma fileira de espécimes. É quando tento bater as asas que ele me odeia. Meu papel é estar morta, presa por um alfinete, sempre a mesma, sempre linda. Ele sabe que parte da minha beleza reside em estar viva, mas é morta que ele me quer. Ele me quer viva-porém-morta” – John Fowles, O Colecionador

Para quem gosta de criminologia, O Colecionador serve como uma espécie de estudo de caso, tanto para entender melhor o comportamento de criminosos perseguidores e obcecados, bem como da vitimologia e dos erros que as vítimas podem cometer para tentar sobreviver, colocando suas vidas em perigo ao instigar – ainda que seja algo, muitas vezes, resultante dos instintos ou por subestimar a possível reação do raptor, por meio de uma falsa sensação de familiaridade e compaixão e o desenvolvimento da questionável Síndrome de Estocolmo. 

A sensação angustiante de que o tempo não passa e o desconforto crescente de Miranda são transmitidos ao longo da leitura. Como um experimento social, é curioso acompanhar como ela reage, mas como ser humano, é impossível não se sentir incomodado e pensar em quantas situações similares acontecem diariamente pelo mundo e, muitas vezes, são sequer descobertas. 

Os relatos de Miranda chegam a drenar a energia, seja pelo excesso de lamentações sobre o que poderia ter feito e não fez, pelas memórias de sua paixão por um artista mais velho do que ela ou pelo tédio fulminante de quem está encarcerado e de tanto se encarar, acaba enfraquecendo seu espírito e deteriorando sua saúde mental.

Miranda é como uma borboleta tentando seduzir o captor que a prende nas mãos; embora tente usar sua beleza para seduzi-lo, como se isso fosse despertar qualquer sentimento capaz de fazê-lo libertá-la, quanto mais ela se debate interna e externamente, mais suas asas vão se despedaçando e esfarelando.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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