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Mindhunter Profile: Livro explora história de agente do FBI que criou o termo Serial Killer
Produções sobre criminologia e serial killers continuam em alta em diferentes formatos midiáticos, desde livros, séries e documentários, até podcasts e reportagens investigativas. Para quem gosta de curiosidades de bastidores, no livro Mindhunter Profile é possível conhecer um pouco da trajetória profissional de Robert K. Ressler no FBI, um dos que ajudaram a aumentar a compreensão sobre assassinos em série nos Estados Unidos. A obra escrita em co-autoria com Tom Schachtman foi publicada pela editora DarkSide Books, em 2020, com tradução de Alexandre Boide.
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Se você gostou da série Mindhunter, lançada pela Netflix, é bem provável que vá se interessar pelo primeiro livro de Mindhunter Profile, já que um dos protagonistas foi baseado no agente do FBI Robert K. Ressler. Após a aposentadoria de dois agentes pioneiros no Quântico, Robert se tornou um dos principais elaboradores de perfis psicológicos de criminosos no FBI: o agente foi um dos responsáveis pela criação do termo Assassino em Série (Serial Killer).
“Quem comete crimes contra a pessoa, em que não há nenhum tipo de ganho material envolvido, é uma espécie diferente de criminoso comparado àqueles que infringem a lei para lucro pessoal” – Robert K. Ressler, Mindhunter Profile
Ressler explica que embora muitas pessoas imaginam que assassinos em série são como pessoas com duas personalidades, uma mais adequada e outra mais impulsiva, não é dessa maneira que eles agem. O autor afirma que serial killers são obcecados por uma fantasia e a cada crime tentam aperfeiçoar por meio de suas experiências não realizadas – o que poderiam ter feito e não fizeram.
Entre os diferenciais de Robert em relação aos outros agentes da época do FBI estava que ele buscava mais conhecimentos sobre criminologia e saúde mental fora do ambiente deles, enquanto muitos acreditavam que já sabiam o suficiente sobre o assunto e aprendiam com conteúdos antigos. Além do conhecimento teórico, junto com um colega do FBI, ele entrevistou inúmeros criminosos com o objetivo de entender melhor os seus comportamentos – ideia que causou resistência inicial por parte da alta hierarquia.
“Minha visão era outra, pois achava que havia muito a aprender, e os diversos especialistas de fora do âmbito da aplicação da lei poderiam nos ensinar coisas que não sabíamos […] Conhecer psiquiatras, psicólogos, especialistas no atendimento a vítimas de crimes violentos e outros profissionais de saúde mental me proporcionou o ímpeto necessário para me aprofundar na pesquisa que minha posição singular me permitiria realizar” – Robert K. Ressler, Mindhunter Profile
Após aprovado o Projeto de Pesquisa de Personalidades Criminosas, no final dos anos 1970, Ressler se aprofundou na execução. Para quem já assistiu Mindhunter, algumas experiências são fáceis de imaginar e de lembrar, como o perigo de ficar sozinho com o assassino Edmund Kemper bem na hora que o guarda se ausentou e ele ‘brincar’ que apagar um agente do FBI o faria ganhar prestígio dentro da prisão ou as expectativas frustradas de entrevistar um assassino que se recusou a admitir que era o culpado.
Um projeto ousado para a época e o qual Ressler tentou estabelecer metas claras para que não fossem só entrevistas que não arrancassem as informações importantes para entender mais sobre as motivações e comportamentos. O agente do FBI acreditava na importância do entrevistador estar bem preparado e conhecer detalhes da biografia e dos casos, como uma forma de conquistar a confiança.
O trabalho exigia um preparo psicológico, já que alguns assassinos ao falar dos crimes que cometeram proporcionavam tanto estresse, que nem sempre era possível demonstrar ao vivo para não quebrar a comunicação e demonstrar repulsa poderia afetar a entrevista. Ressler comentou no livro que algumas pessoas não aguentaram o cargo e acabaram se mudando para outras áreas do FBI e outras sofreram estresse tão grande, como ele mesmo, que chegaram a perder peso.
Um ponto importante de ressaltar no livro é a habilidade de manipulação de assassinos em série e psicopatas: algo que muitas pessoas ignoram quando pensam em suas biografias e se deixam levar. Um exemplo do livro foi de um agente que acabou ajudando um assassino a diminuir sua pena, levando informações até ele. Se agentes de FBI, psicólogos e psiquiatras são facilmente manipulador por esses indivíduos, não me espanta quando pessoas leigas querem enxergar inocência e empatia onde não há e até desenvolvem uma espécie de Síndrome de Estocolmo, criando um vínculo sem levar em conta o perigo em que estão se colocando.
A pesquisa de Ressler ajudou a esclarecer alguns mitos sobre assassinos, como os que na época associavam às condições financeiras e traçando as histórias de vida, foi possível perceber a influência da infância, muitas vezes, marcada por falta de amor, episódios de diferentes tipos de violência e lares disfuncionais. O agente do FBI afirmou que embora esses assassinos possam ter começado a matar na vida adulta, muitos desses comportamentos já estavam presentes em outras fases.
Vale pontuar que muitos dos achados, embora tenham sido muito importantes à época, podem estar desatualizados para os dias atuais, como a visão que o autor tinha sobre mulheres que eram assassinas em série: recomendo o livro Lady Killers, escrito pela Tori Telfer, aos que têm mais interesse no assunto.
“Há muita coisa possível de inferir a partir de fotografias da cena do crime, mas estar no local oferece vantagem significativa. É possível ter visão mais ampla, relacionar detalhes que de outra forma não teriam sido notados” – Robert K. Ressler, Mindhunter Profile
Para facilitar a comunicação com policiais em seus treinamentos, Ressler adotou a classificação dos assassinos em série em organizados e desorganizados, porém, lembrou que alguns poderiam ter ambos comportamentos em alguns contextos. Além de ajudar a entender melhor o comportamento e como agiam no crime, a classificação ajudava a entender se o criminoso tinha clareza e organização mental suficiente para planejar e executar seus crimes ou se era mais desleixado e impulsivo, muitas vezes, por conta de possíveis transtornos mentais.
Os perfis psicológicos de criminosos ajudaram a polícia a desvendar crimes difíceis de resolver, restringindo os possíveis suspeitos e fornecendo orientações sobre quais evidências procurar. Foi também graças ao trabalho realizado no Quântico do FBI que o assunto passou a ser mais discutido e levado a sério, não só para encontrar assassinos, mas para encontrá-los antes que pudessem repetir seus crimes alimentados por suas fantasias.
Quem já está acostumado com o universo de psicopatas e serial killers provavelmente vai encontrar muitas histórias no livro que já conhece, especialmente aqueles que foram mais conhecidos na época da publicação original da obra e suas biografias foram expostas em inúmeros documentários (vários disponíveis na Netflix), filmes e livros (alguns publicados pela editora DarkSide Books).
Se muitas das histórias dos assassinos já são de conhecimento público, um dos grandes diferenciais do livro é poder acompanhar a maneira de pensar de Robert K. Ressler e como suas pesquisas foram fundamentais para avançar a compreensão sobre o funcionamento mental de assassinos em série, bem como entender seus comportamentos de manipulação para tentar diminuir a pena ou até mesmo escapar do sistema judiciário.
Ressler não é a favor da pena de morte para assassinos em série, mas diferente de muitos psiquiatras e psicólogos que se deixam enganar por alguns psicopatas e serial killers, ele acredita na importância da reclusão e tratamento, consciente de que após alguns episódios, muitos deles conseguem disfarçar que não matariam de novo, mas são consumidos diariamente por suas fantasias e alguns se excitam, literalmente, lembrando das vítimas, suas ações e até mesmo gostam de colecionar reportagens e imagens dos seus crimes.
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