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Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

Livro de escritora brasileira reúne histórias de serial killers que chocaram o mundo

Livros sobre serial killers podem ser mais intensos do que a ficção. Nós sabemos que foram crimes que realmente aconteceram. A ideia de que em qualquer lugar próximo de nós pode ter alguém capaz de cometer atrocidades é assustadora. No livro Serial Killers: Louco ou Cruel?, a escritora brasileira e criminóloga Ilana Casoy nos conta a história de alguns desses assassinos que chocaram o mundo. A obra de não ficção foi publicada pela editora DarkSide Books, em 2014.


O que levam essas pessoas a se tornarem assassinos cruéis? A questão é muito complexa e nos faz refletir também sobre como a infância de todo ser humano pode ser determinante no seu futuro, afetando não só um indivíduo, mas as pessoas que cruzam o seu caminho. Existe um lado humano por trás dessas pessoas que cometem atos monstruosos? Como nos lembra Ilana Casoy no prólogo do livro sobre a decisão de manter as fotografias dos assassinos, temos a tendência de associar o feio à maldade, mas o belo também pode ser cruel. Esta frase pode ser interpretada de várias formas, indo além do conceito de beleza, mas levando em conta a estética (o parecer) ou o verniz social, como pontua a autora – nem sempre aquilo que vemos é o que realmente é e, muitas vezes, a suposta imagem de bondade e fragilidade acabam servindo como um disfarce para serial killers.

A autora do livro dedicou a obra às vítimas conhecidas e desconhecidas dos assassinos, bem como aos seus familiares e amigos que nunca tiveram a chance de se despedir. Desde a dedicatória temos consciência de que seremos levados para o terreno da realidade e que apesar de alguns assassinos serem fascinantes na ficção, como Hannibal e Dexter – cujos livros e adaptações fizeram e ainda fazem muito sucesso –, quando falamos de seres humanos de verdade, não de personagens de papéis, é difícil ler o livro sem sentir mal-estar diante de tanta crueldade ou de sentir qualquer pavor com a possibilidade de seu caminho se cruzar com o de pessoas assim.

“As vítimas do serial killer são escolhidas ao acaso ou por algum estereótipo que tenha significado simbólico para ele. Diferente de outros homicídios, a ação da vítima não precipita a ação do assassino. Ele é sádico por natureza e procura prazeres perversos ao torturar suas presas, chegando até a “ressuscitá-las” para “brincar” um pouco mais. Tem necessidade de dominar, controlar e possuir a pessoa. Quando a vítima morre, o assassino é novamente abandonado à sua misteriosa fúria e ódio por si mesmo. Esse círculo vicioso continua em andamento, até que sejam capturados ou mortos” – Ilana Casoy, Serial Killers: Louco ou Cruel?

Antes de mergulhar nas histórias dos assassinos selecionadas no livro, Ilana Casoy traz muitas informações interessantes, para leitores que têm curiosidade sobre a temática de criminologia e para escritores que escrevem narrativas sobre serial killers. A escritora toca em vários pontos, com uma escrita bem fluida e envolvente, que te fisga desde o primeiro parágrafo. São abordadas questões como quem é o serial killer (expressão, tipos e fases), quem é a vítima, aspectos gerais e psicológicos, alguns dos principais mitos e crenças sobre assassinos em série, perfil do criminoso, alguns dos principais métodos da psicologia investigativa e as três formas de analisar o local do crime para descobrir o comportamento do agressor (modus operandi, assinatura e organização da cena).

Entre os assassinos em série abordados no livro estão: Paul Bernardo e Karla Homolka; Theodore Robert Bundy; Richard Trenton Chase; Andrei Chikatilo; Rory Enrique Conde; Jeffrey Lionel Dahmer; Albert Hamilton Fish; John Wayne Gacy; Edward Theodore Gein; Edmund Emil Kemper III; Ivan Robert Marko Milat; Leonard Lake e Charles Chitat Ng; Dennis Andrew Nilsen; Arthur Shawcross; Aileen Wuornos e O Zodíaco.

“Na infância, nenhum aspecto isolado define a criança como um serial killer potencial, mas a chamada “terrível tríade” parece estar presente no histórico de todos os serial killers: enurese em idade avançada, abuso sádico de animais ou outras crianças, destruição de propriedade e piromania” – Ilana Casoy, Serial Killers: Louco ou Cruel?

Com as observações da autora é possível encontrar o ponto em comum entre vários serial killers, mas também perceber que cada um deles tem suas próprias fantasias e maneiras de torturar e se divertir com suas vítimas, algumas delas bem chocantes para quem tem estômago fraco, como Edward Theodore Gein, o assassino que serviu de inspiração para vários livros e filmes, como Psicose, O Massacre da Serra Elétrica e O Silêncio dos Inocentes. Quando revistaram a casa de Theodore Gein, os policiais encontraram várias provas bizarras, como o corpo de uma mulher pendurado em um gancho de carne, uma cabeça humana, uma poltrona feita de pele humana e mais de 20 outros itens mórbidos e grotescos.


Pelas histórias, o leitor acaba conhecendo mais sobre a natureza maligna do ser humano. Assassinos solitários ou que trabalhavam em dupla e fizeram o inferno de várias pessoas. Enquanto alguns beiravam o esquisito, outros se sentiam como deuses, como Ted Bundy que foi executado pelo assassinato de 30 pessoas, entre casos não resolvidos e uma frase dele ficou famosa por espalhar o temor de que serial killers poderiam ser os filhos e maridos e diante do último suspiro deixando o corpo das pessoas, esses assassinos eram como Deus.

“Para parecer uma pessoa normal e misturar-se às outras pessoas, o serial killer desenvolve uma personalidade para consumo externo, ou seja, um fino verniz de personalidade completamente dissociado de seu comportamento violento e criminoso” – Ilana Casoy, Serial Killers: Louco ou Cruel? 

Do livro, talvez o assassino menos chocante tenha sido o do Zodíaco, por ter sido tão explorado em diferentes narrativas. No entanto, como não descobriram a identidade do assassino, os investigadores tinham vários suspeitos, mas nenhuma prova concreta. Me perguntei se não existiam mais de um assassino ou até que ponto alguns dos crimes não foram feitos por imitadores. É um caso que continua intrigando. Levando em conta esse histórico, William Peter Blatty se inspirou na história do Zodíaco para criar o Geminiano, o assassino do seu livro Legião, o romance detetive sobrenatural que é a continuação de O Exorcista – tentar encontrar uma lógica para a maldade e a criminalidade, pode nos levar a um labirinto de perguntas existenciais, como aconteceu com o detetive Kinderman. Ao final do livro, a autora apresenta em anexo uma lista com mais de 300 nomes de serial killers do mundo, seus países de origem e a quantidade de vítimas, sendo que dez deles estão entre os responsáveis pelos assassinatos de mais de 100 pessoas, como o colombiano Pedro Alonso Lopez que fez mais de 300 vítimas.

Ilana Casoy escreveu um livro revelador sobre este universo tão obscuro para muitos de nós, nem mesmo a ficção é capaz de nos preparar para essas histórias – isto vindo de alguém que é escritor de terror e já assistiu dezenas de filmes sobre psicopatas. Sempre acreditei que nenhum livro de terror sobrenatural, por exemplo, pode ser mais assustador do que o homem em romances sombrios, porém, após ler Serial Killers: Louco ou Cruel?, cheguei a conclusão de que a vida real permanece mais assustadora do que qualquer livro de ficção. Insanidade ou crueldade, a especialista em assassinos nos lembra que somente 5% de serial killers descobertos estavam mentalmente doentes quando cometiam seus crimes, ou seja, muitos deles tinham plena consciência do que estavam fazendo.

Também rolou um vídeo sobre o livro no meu canal do YouTube:



Para quem gostou do livro, vale lembrar que recentemente a editora DarkSide Books lançou o Arquivos Serial Killers, uma edição limitada de capa dura reunindo os livros Serial Killers: Louco ou Cruel? e Serial Killers: Made in Brazil, da Ilana Casoy. Ela foi a primeira escritora brasileira a ser publicada pela editora voltada para a publicação de livros com a temática de horror e fantasia sombria e os livros continuam fazendo sucesso entre os leitores. Ilana também é autora de um livro sobre dois crimes que chocaram o Brasil, Casos de Família: Arquivos Richthofen e Arquivos Nardoni.


Sobre a autora – Ilana Casoy é criminóloga e pesquisadora na área de violência e criminalidade. Graduada em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e especializada em Criminologia pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais. Tem treinamento em Investigação e Perícia Forense em casos de homicídio pelo U.S. Police Instructor Teams. Atualmente, é Membro Consultivo da Comissão de Política Criminal e Penitenciária da OAB SP. Colaborou com o site do canal Investigação Discovery e dedica-se também à ficção. A especialista em crimes participou de um conselho para explicar o perfil criminal no personagem principal da série Dexter, que se tornou uma das mais cultuadas dos últimos anos. Ilana Casoy atuou como consultora da série escrita por Gloria Perez e dirigida por Mauro Mendonça Filho, Dupla Identidade, na Rede Globo. Consultora de séries e documentários para TV e cinema, dedica-se a uma pesquisa rigorosa para investigar assassinos em série, colaborando em casos reais com Polícia, Perícia, Ministério Público e Advogados de Defesa. Autora dos Arquivos Serial Killers - Louco ou Cruel? e Made in Brazil, pela DarkSide Books. Para mais informações sobre a autora, visite o site oficial da Ilana Casoy: http://serialkiller.com.br/

Curte a página da escritora no Facebook: https://www.facebook.com/ilanacasoy/

Sobre a editora – O terror, a fantasia, o suspense, o mágico. A Editora Darkside apresenta o que há de mais interessante e instigante no universo sombrio da literatura, de ontem e de hoje.

E aí, gostaram da indicação de leitura? Em breve devo ler e resenhar Serial Killers: Made in Brazil, o livro que reúne histórias de sete casos de serial killers brasileiros.

Você também pode se interessar pelo livro Social Killers: Amigos Virtuais, Assassinos Reais, também publicado pela editora DarkSide Books:



*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e do livro de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1), disponível no Wattpad.

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