Lançado originalmente em 1993, o livro
Sem Consciência: O mundo perturbador dos
Psicopatas que vivem entre nós (Without Conscience: The Disturbing World of the Psychopaths Among Us) explora o universo do transtorno da psicopatia. Apesar da primeira edição do livro ter sido publicada há mais de 25 anos, muitas informações permanecem relevantes para quem tem curiosidade sobre o assunto. No Brasil, a edição mais recente do livro é a da
editora Artmed (Grupo A), lançada em 2013, com tradução de
Denise Regina de Sales.
Na época de lançamento do livro, imagino que a obra ajudou a quebrar vários dos mitos sobre psicopatas – em um período em que as pessoas não tinham tanto acesso às informações, como temos atualmente com a internet e bem mais materiais bibliográficos sobre o assunto. Independente disso, seja por causa de expressões midiáticas e da cultura popular, logo se percebe que muita gente tem dificuldade de entender o que é a psicopatia. Assim como outros transtornos de personalidade, a psicopatia nem sempre é fácil de diagnosticar. O próprio autor ressalta que nem todas pessoas descritas no livro são necessariamente psicopatas, mas que os comportamentos destes indivíduos foram utilizados para ilustrar o transtorno.
A ausência de remorso é uma das características mais marcantes de indivíduos com o transtorno. Como diferenciar um criminoso de um criminoso psicopata? Algumas pessoas são descritas como psicopatas por causa da crueldade de seus atos, mas será que todo psicopata é assassino? É preciso lembrar que o diagnóstico não é tão simples como pode parecer. Robert D. Hare não só acabou desmistificando esse universo com retratos de psicopatas em 25 anos de pesquisas, como o especialista em psicologia criminal e psicopatia acabou criando uma ferramenta que ajudasse a diagnosticar psicopatas: The Psychopathy Checklist (Psychopathy Checklist—revised (PCL-R).
“Os psicopatas com frequência se comportam como pessoas arrogantes e vaidosas, sem nenhuma vergonha – são seguros de si, de opinião firme, dominadores e convencidos. Adoram ter poder e controle sobre os demais e parecem incapazes de reconhecer que as outras pessoas têm opiniões próprias válidas” – Robert D. Hare, Sem Consciência
Olhando o material nos dias atuais, é possível ver o quanto as informações descontextualizadas podem dar uma visão errada da psicopatia, especialmente para leitores paranoicos. Porém, o livro permanece importante, especialmente porque os critérios de Hare foram adotados em diferentes países e seu teste só pode ser aplicado por profissionais qualificados e sob condições controladas.
Além da ausência de culpa, segundo Robert D. Hare muitos psicopatas podem ser impulsivos, mentirosos patológicos, narcisistas agressivos e controladores, emocionalmente superficiais, bem como terem pouco controle comportamental, cometer delitos, crimes e desrespeitar regras sociais, problemas comportamentais desde a infância, como agressividade e violência contra animais e pessoas e desrespeito e indiferença às autoridades.
“Há psicopatas que, às vezes, fingem ser médicos e, assim, têm o poder de diagnosticar doenças, prescrever medicamentos e até realizar cirurgias. O fato de, com frequência, colocarem em risco a saúde ou a vida dos pacientes não os incomoda nem um pouco” – Robert D. Hare, Sem Consciência
Robert D. Hare dá vários exemplos no livro, mas um dos mais marcantes para mim foi o de psicopatas que atuam em áreas como a da saúde. Dá para imaginar o perigo que é entregar sua vida às mãos de uma pessoa que pode te manipular e fazer mal sem se importar com as consequências? Seja com formação profissional ou não, psicopatas podem aprender a se camuflar na sociedade e seus comportamentos narcisista os tornam sedutores e perigosos, pois dificilmente alguém consegue reconhecer quando faz parte deste jogo que pode custar suas vidas ou influenciar a saúde mental.
Também no livro, o especialista em psicopatas lembra que é bem comum alguns desses criminosos usarem seus conhecimentos para manipular tanto os especialistas em mente e comportamentos, bem como as outras pessoas ao redor. Ele cita o caso de criminosos que tentam passar a imagem de que renasceram e muitas vezes se filiam a grupos religiosos. No caso dos psicopatas, como é um transtorno sem cura, a justiça nem sempre sabe o que fazer com esses assassinos e eles podem fazer mais vítimas, usando sua influência e sendo protegido por outras pessoas, seja por medo ou por ignorância.
“Não é difícil entender por que os psicopatas são atraídos para o crime de colarinho branco e se dão tão bem nesse nicho. Em primeiro lugar, há um monte de oportunidades rentáveis à mão... Em segundo lugar, os psicopatas têm todas as ferramentas de que precisam para fraudar e enganar os outros: eles são convincentes, encantadores, seguros de si, hábeis em situações sociais, frios sob pressão, inteiramente implacáveis e não se intimidam com o risco de serem apanhados. Quando desmascarados, continuam a agir como se nada tivesse acontecido e, com frequência, deixam seus acusadores desnorteados e incertos a respeito de suas próprias posições. Finalmente, o crime de colarinho branco é lucrativo, os riscos de os fraudadores serem descobertos são mínimos e as penalidades não costumam passar de triviais” – Robert D. Hare, Sem Consciência
O destino de psicopatas com tendências criminais permanece incerto, especialmente pela dificuldade de identificação. Além de compartilhar sua própria experiência com a pesquisa e entrevistando psicopatas, o autor finaliza o livro deixando dicas para quem quiser se proteger, quem já se envolveu com psicopatas e deixando orientações para familiares. Robert D. Hare é categórico ao afirmar que psicopatas participam da sociedade e sempre há uma chance de trombar de seus caminhos se cruzarem. “Embora ninguém esteja imune a maquinações desonestas de um psicopata, há algumas coisas que podemos fazer para reduzir nossa vulnerabilidade”, conclui. Para o pesquisador, mesmo com tantas respostas, as perguntas continuam crescentes e tão importante quanto a captura de assassinos, seria o investimento em soluções e intervenções precoces em busca de uma socialização verdadeira.
Sobre o autor – Robert D. Hare é o autor de Sem Consciência e o criador da ferramenta padrão para diagnostica a psicopatia. Ele é professor emérito de psicologia na Universidade British Columbia e presidente do Darkstone Research Group, uma empresa de pesquisa e consultoria forense. Ganhou inúmeros prêmios por sua pesquisa, faz palestras sobre psicopatia e dá consultoria para organizações, como o FBI. Ele mora com sua esposa em Vancouver, British columbia.
Mais indicações de livros sobre o assunto indicados aqui no blog:
Livro de escritora brasileira reúne histórias de serial killers que chocaram o mundo
Livro sobre assassinos, serial killers e psicopatas que caçaram vítimas na internet
Livro da Ilana Casoy explora casos de serial killers brasileiros
Resenha: Legião – William Peter Blatty
Livro explora julgamentos de crimes em família que chocaram os brasileiros
Resenha: American Crime Story: O Povo Contra O. J. Simpson – Jeffrey Toobin
Resenha: Psicose – Robert Bloch
*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror
Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no
Wattpad e na
loja Kindle.
Adorei a resenha.
ResponderExcluirEsse é um tema que muito me atrai. Apesar eu eu estudar engenharia, sou apaixonada por psicologia e mais ainda pela mente humana.
Bom saber que há um livro assim.
Abraço e ótimo final de semana
http://mylife-rapha.blogspot.com
Oi, Rapha! Obrigado pela visita e pela leitura. Também acho fascinante entender a mente humana.
ExcluirAbraço